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Claudete, mãe de Gabriele, afirma ficou surpresa com a atitude da filha, que fugiu de casa para ficar com o namorado | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Claudete, mãe de Gabriele, afirma ficou surpresa com a atitude da filha, que fugiu de casa para ficar com o namorado| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Entrevista

Demétrius Gonzaga, delegado titular do Nuciber (Núcleo de Combate aos Ciber Crimes).

Como os jovens podem se prevenir de casos como esse? E quais os riscos que eles correm?

Os jovens devem ser cautelosos e jamais fornecer informações pessoais, fotografias ou marcar encontros com desconhecidos. Criminosos usam as comunidades virtuais para, a partir das informações dos usuários, montar dossiês que serão usados para realizar sequestros. Também há aqueles que apresentam problemas mentais graves, como os psicopatas, que podem até matar. Quanto tempo leva para você conhecer uma pessoa com quem fala pessoalmente? Deve haver o mesmo cuidado na internet.

Muitos pais não conhecem os riscos da internet. Como eles podem monitorar os filhos?

Se o pai não conhece, ele precisa começar a se inteirar.

Isso é importante, pois, muitas vezes, o filho que os pais conhecem no mundo real não é o mesmo do mundo virtual. Eu sempre sugiro que as escolas ministrem minicursos para os pais, que também precisam se interessar mais pelo assunto. Em palestras com adolescentes, percebo que muita gente está prestando atenção. Quando a palestra é para os pais, poucos comparecem.

Há pais que instalam programas espiões nos computadores dos filhos, para monitorar o que eles andam vendo. Essa é a melhor solução?

Acredito que o diálogo ainda é a melhor opção. Se você chega a essa ponto, cria desconfiança, e o filho pode responder de forma odiosa. Além disso, ele pode ir até uma lan house. O ideal é que o pai converse com o filho e controle os horários, para que ele possa monitorar. Se possível, compre um notebook e, após determinado horário, feche o notebook e leve para o seu quarto, para evitar o que ocorre muito hoje, de jovens que passam a madrugada na internet sem nenhum controle. (VP)

NEGLIGÊNCIA

Pais não reconhecem sinais, diz psicóloga

Embora ainda não seja possível avaliar se houve negligência dos pais de Gabriele no episódio, a professora do curso de Psicologia da PUCPR Renate Michel alerta para o risco de culpar a família pelo que ocorreu. Ela afirma que ainda há muito desconhecimento em relação ao que se passa na internet. "É preciso ver que há 20 anos os pais olhavam para os filhos e reconheciam os sinais que eles mesmos passavam quando adolescentes, mas hoje não é mais assim. As mudanças ocorreram muito rápido."

A professora afirma que os pais são vistos como culpados por serem a parte mais visível de um processo que envolve toda a sociedade. Para ela, a confiança que Gabriele não teve nos pais também se estende às demais pessoas ao seu redor, o que evidencia a importância de se discutir o tema em sala de aula, por exemplo, e ativar a rede de proteção. Grupos de pais instituídos nas escolas podem ser um bom começo, diz a psicóloga, pois "a troca de experiência é fundamental para que os pais saibam como se proteger e também percebam que isso pode ocorrer em qualquer família."

A estudante Gabriele Haccourt de Carvalho, 13 anos, que estava desaparecida desde a última terça-feira, reencontrou a família ontem à noite. Ela sumiu após marcar um encontro pela internet, sem o conhecimento dos pais. Segundo a polícia, o caso não passou de uma "fuga de namorados" que, felizmente, terminou bem. Mas a família de Gabriele passou momentos de angústia por não saber o paradeiro da menina. A mãe Claudete Carvalho se disse surpresa com a atitude da filha. O caso mostra como a internet pode ser perigosa para menores de idade. Mas não basta monitorar os passos deles na web. Para especialistas, tão importante quanto prever os riscos da rede é conhecer o próprio filho. Embora seja possível se prevenir de situações e pessoas que ponham em risco a segurança física e emocional de crianças e adolescentes, a melhor prevenção continua sendo o companheirismo com os filhos.

A professora da PUCPR e coordenadora da Comissão de Psicologia Escolar/Educacional do Conselho Regional de Psicologia no Paraná, Maria Elizabeth Haro, explica que muitas vezes o filho não demonstra qualquer mudança de comportamento que evidencie a ocorrência de algo estranho na "vida on-line", como mudança de apetite, estresse ou falta de compromisso com a escola. "Nem sempre é tão claro que algo está acontecendo, pois às vezes eles já sabem que estão fazendo algo que os pais não aprovam e dão um jeito de disfarçar, embora também façam pela inocência, pela fantasia."

Nos casos em que não há sinais, como proceder para sanar a dúvida que acomete todos os pais? Para Maria Elizabeth, a resposta é uma só: o diálogo, que deve ser cauteloso e nunca beirar o desrespeito. Nessas horas, conta o tipo de relação que foi construída entre pais e filhos desde os primeiros anos da infância. "Para que o pai possa fazer perguntas, é preciso que antes ele construa uma intimidade com o filho. Isso vem com a convivência diária." E quando fala em convivência, a psicóloga explica que o tempo passado junto deve ser também de lazer, não apenas de supervisão. Ou seja, não deve servir apenas para que o pai monitore o que o filho anda vendo na internet, pois isso muitas vezes impede que ele se abra. "Só nos momentos de lazer é possível perceber as sutilezas, os detalhes, que fazem toda a diferença."

Monitoramento

Se, apesar das conversas, o filho insistir em não se abrir ou passar a adotar comportamentos estranhos, é hora de agir. E impor limites. O psicólogo e psicoterapeuta Tônio Luna avalia que a idade é o primeiro ponto a ser observado. Para ele, o fato de o jovem dominar a ferramenta não significa que ele está pronto para usá-la sozinho. "Ele pode conhecer a ferramenta, mas emocionalmente falando, não tem condições de avaliar os riscos desse uso. Eles sempre tendem a achar que as coisas estão sob controle, mas geralmente elas não estão."

Os pais não devem ter medo de exercer a autoridade, inclusive determinando horários e avaliando quais sites estão proibidos, além de eventualmente vasculhar a máquina à procura de indícios. O mesmo vale para os amigos que o filho tem na rede. "É como convidar um amigo para ir à sua casa. Não é para todo mundo que você dá permissão. O pai deve dizer quem pode ser amigo do filho, observando a idade e se a pessoa é conhecida."

Gabriele estava na casa de namorado

Desaparecida desde a última terça-feira, Gabriele foi encontrada em Man­­dirituba, na Grande Cu­­ritiba, por policiais da De­­legacia de Pi­­nhais. De acordo com o delegado Fá­­bio Amaro da Sil­­va, a polícia re­­cebeu a informação de que a menina de 13 anos estaria na casa de Douglas dos Santos, 19 anos, apontado como namorado dela. A mãe do rapaz, Dina Leal dos Santos, confirmou que Gabriele ficou lá desde o desaparecimento, entretanto, dis­­se que Douglas havia saído para le­­vá-la até o terminal de ônibus, para que ela pudesse voltar para casa. A menina foi achada depois que Dina entrou em contato com o rapaz, que até agora não foi encontrado pela polícia.

O encontro dos jovens aconteceu na terça-feira, no terminal de ônibus do Bairro Alto. Eles se co­­nhecerem e mantinham contato pe­­la in­­ternet. Os pais da garota ga­­rantiram que ela não conhecia o rapaz pessoalmente. O desaparecimento da menina foi registrado na quinta-feira. Na tarde de ontem, a mãe de Douglas, depois de tomar conhecimento da situação, entrou em contato com a família de Ga­­briele e afirmou que não sabia a verdadeira idade da garota e disse que eles mantinham um relacionamento há quatro meses. Para Dina, Ga­­briele tinha 17 anos.

Segundo o delegado, Gabriele está bem. A jo­­vem foi levada para a delegacia de Pinhais na noite de ontem, onde se encontrou com a família. Ela fez um apelo para que Douglas não seja preso.

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