A estudante Gabriele Haccourt de Carvalho, 13 anos, que estava desaparecida desde a última terça-feira, reencontrou a família ontem à noite. Ela sumiu após marcar um encontro pela internet, sem o conhecimento dos pais. Segundo a polícia, o caso não passou de uma "fuga de namorados" que, felizmente, terminou bem. Mas a família de Gabriele passou momentos de angústia por não saber o paradeiro da menina. A mãe Claudete Carvalho se disse surpresa com a atitude da filha. O caso mostra como a internet pode ser perigosa para menores de idade. Mas não basta monitorar os passos deles na web. Para especialistas, tão importante quanto prever os riscos da rede é conhecer o próprio filho. Embora seja possível se prevenir de situações e pessoas que ponham em risco a segurança física e emocional de crianças e adolescentes, a melhor prevenção continua sendo o companheirismo com os filhos.
A professora da PUCPR e coordenadora da Comissão de Psicologia Escolar/Educacional do Conselho Regional de Psicologia no Paraná, Maria Elizabeth Haro, explica que muitas vezes o filho não demonstra qualquer mudança de comportamento que evidencie a ocorrência de algo estranho na "vida on-line", como mudança de apetite, estresse ou falta de compromisso com a escola. "Nem sempre é tão claro que algo está acontecendo, pois às vezes eles já sabem que estão fazendo algo que os pais não aprovam e dão um jeito de disfarçar, embora também façam pela inocência, pela fantasia."
Nos casos em que não há sinais, como proceder para sanar a dúvida que acomete todos os pais? Para Maria Elizabeth, a resposta é uma só: o diálogo, que deve ser cauteloso e nunca beirar o desrespeito. Nessas horas, conta o tipo de relação que foi construída entre pais e filhos desde os primeiros anos da infância. "Para que o pai possa fazer perguntas, é preciso que antes ele construa uma intimidade com o filho. Isso vem com a convivência diária." E quando fala em convivência, a psicóloga explica que o tempo passado junto deve ser também de lazer, não apenas de supervisão. Ou seja, não deve servir apenas para que o pai monitore o que o filho anda vendo na internet, pois isso muitas vezes impede que ele se abra. "Só nos momentos de lazer é possível perceber as sutilezas, os detalhes, que fazem toda a diferença."
Monitoramento
Se, apesar das conversas, o filho insistir em não se abrir ou passar a adotar comportamentos estranhos, é hora de agir. E impor limites. O psicólogo e psicoterapeuta Tônio Luna avalia que a idade é o primeiro ponto a ser observado. Para ele, o fato de o jovem dominar a ferramenta não significa que ele está pronto para usá-la sozinho. "Ele pode conhecer a ferramenta, mas emocionalmente falando, não tem condições de avaliar os riscos desse uso. Eles sempre tendem a achar que as coisas estão sob controle, mas geralmente elas não estão."
Os pais não devem ter medo de exercer a autoridade, inclusive determinando horários e avaliando quais sites estão proibidos, além de eventualmente vasculhar a máquina à procura de indícios. O mesmo vale para os amigos que o filho tem na rede. "É como convidar um amigo para ir à sua casa. Não é para todo mundo que você dá permissão. O pai deve dizer quem pode ser amigo do filho, observando a idade e se a pessoa é conhecida."
Gabriele estava na casa de namorado
Desaparecida desde a última terça-feira, Gabriele foi encontrada em Mandirituba, na Grande Curitiba, por policiais da Delegacia de Pinhais. De acordo com o delegado Fábio Amaro da Silva, a polícia recebeu a informação de que a menina de 13 anos estaria na casa de Douglas dos Santos, 19 anos, apontado como namorado dela. A mãe do rapaz, Dina Leal dos Santos, confirmou que Gabriele ficou lá desde o desaparecimento, entretanto, disse que Douglas havia saído para levá-la até o terminal de ônibus, para que ela pudesse voltar para casa. A menina foi achada depois que Dina entrou em contato com o rapaz, que até agora não foi encontrado pela polícia.
O encontro dos jovens aconteceu na terça-feira, no terminal de ônibus do Bairro Alto. Eles se conhecerem e mantinham contato pela internet. Os pais da garota garantiram que ela não conhecia o rapaz pessoalmente. O desaparecimento da menina foi registrado na quinta-feira. Na tarde de ontem, a mãe de Douglas, depois de tomar conhecimento da situação, entrou em contato com a família de Gabriele e afirmou que não sabia a verdadeira idade da garota e disse que eles mantinham um relacionamento há quatro meses. Para Dina, Gabriele tinha 17 anos.
Segundo o delegado, Gabriele está bem. A jovem foi levada para a delegacia de Pinhais na noite de ontem, onde se encontrou com a família. Ela fez um apelo para que Douglas não seja preso.