Há exatos cinco anos, o mundo do estivador Celso Sérvolo Veloso estava desmoronando. Morador de Antonina, ele foi um dos milhares de prejudicados por chuvas contínuas no Litoral do Paraná em março de 2011, que causaram deslizamentos de terra, quatro mortes e muita destruição. No topo de um morro com vista para a baia, Veloso morava em meio às árvores e cercado pela família. Hoje vive em um conjunto de sobrados construído para os desalojados.
“A gente ainda dorme com medo.” Veloso ainda não acredita que a quantidade de chuva que caiu do céu encharcou o chão e fez os terrenos desmoronarem. “Pra mim foi aquele negócio do Japão”, se referindo ao terremoto e ao tsunami que aconteceram no mesmo dia, no outro lado do mundo. Os japoneses reconstruíram parte do país em menos de um ano, mas os problemas causados na usina nuclear de Fukushima são sentidos até hoje.
Já no Litoral do Paraná, os efeitos são outros. Depois de dois anos morando em abrigos improvisados ou em casa de parentes, muitos dos atingidos pela tragédia receberam um lar. A Cohapar, com ajuda de recursos federais, ergueu 88 sobrados em Antonina, 50 casas em Paranaguá e 85 em Morretes. Algumas construções continuam sem o muro e sem o revestimento do piso, que não foram feitos pelo governo.
Mas muitas pessoas alegam que foram prejudicadas pelos desmoronamentos daquele 11 de março e não foram indenizadas. É o caso do pintor Adilson Pereira, que morava de aluguel num dos pontos de deslizamento e hoje continua num abrigo improvisado, com dois filhos e dois netos. É a queixa também do pastor Antônio de Freitas Castro Neto, que faz questão de mostrar os documentos da casa que o deslizamento de terra destruiu.
“A casa aqui é melhor do que a que eu tinha, mas não dá para aumentar”, lamenta Veloso. “A vantagem é o asfalto”, acrescenta. Ele só ainda não conseguiu se acostumar com o barulho de morar quase no centro da cidade, em meio ao ronco dos carros e dividindo parede com vizinhos. “A gente tinha mais liberdade, e silêncio pra dormir”, conta. No local onde o estivador morava hoje tem um talude, um muro de arrimo de dezenas de metros, coberto de grama e salpicado de canos de drenagem. Ao visitar a área pela primeira vez desde que foi forçado a sair, ele se enche de lembranças. “Aqui tinha um limoeiro, uma bananeira e a minha casa”, aponta.
Apesar das queixas pontuais, Veloso está no time daqueles que ficaram felizes com a mudança. Não é o caso do construtor Valmir Cesário do Carmo. Ele alega que tinha uma casa de 150 metros quadrados, avaliada em R$ 200 mil e que, como os demais vizinhos em Antonina, recebeu um sobrado de 42 metros quadrados. “Até o ano passado ainda estavam me cobrando IPTU de lá, de um lugar que me tiraram, que não me deixam mais morar”, lamenta.