Litoral concentra áreas de risco
Dos dez pontos concentradores de acidentes na temporada de verão, segundo a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), cinco estão diretamente relacionados com o movimento de veículos no sentido ao Litoral. Três envolvem a PR-412 (que liga as praias paranaenses) e dois a PR-407 (que também conecta distritos litorâneos). Entre os locais de maior risco listados pela Polícia Rodoviária Federal, a serra para o litoral de Santa Catarina aparece na 5.ª colocação. De acordo com o tenente Sheldon Keller Vortolin, chefe de Operações da PRE, o fato de as rodovias do Litoral do estado não serem duplicadas não interfere nos índices. "Problemas mecânicos e da rodovia não chegam a 10% das ocorrências. Se fosse duplicada, haveria mudança no tipo de acidente, diminuindo as ocorrências de colisão frontal, mas com maior incidência de excesso de velocidade", afirma. Para Alessandra Bianchi, coordenadora do grupo de Pesquisa em Trânsito e Transporte Sustentável da UFPR, a percepção de risco dos condutores precisa ser trabalhada. "O acidente não pode ser evitado, mas pode haver diminuição do que vem acontecendo no trânsito do país. O risco é real", diz.
Quase quatro em cada dez acidentes registrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) na última temporada de verão (de dezembro de 2010 a fevereiro deste ano) tiveram como causa presumida a falta de atenção. Das 5,7 mil ocorrências do período no Paraná, cerca de 2 mil estiveram relacionadas a fatos que fizeram os motoristas se distraírem ao volante. Mais do que alertar para manter o cuidado nas estradas, os dados ilustram o desconhecimento do brasileiro nas medidas de segurança e mostram a dificuldade em perceber os riscos inerentes à direção, fruto de uma educação falha para o trânsito.
Chefe do Núcleo de Comunicação da PRF no estado, Wilson Martinez estima que 95% dos acidentes são causados por falha humana. "A falta de atenção é apenas uma dessas causas. Isso significa que 95% das ocorrências poderiam ser evitadas", afirma. A PRF fiscaliza 3,4 mil quilômetros de estradas no Paraná. A distração não se trata de um problema exclusivo brasileiro, mas de todo o globo, na avaliação do consultor de Segurança em Programas de Trânsito J. Pedro Corrêa. "O advento do celular e o uso das mensagens de texto enquanto se dirige aumentaram a preocupação das autoridades de trânsito de todo o mundo."
A diminuição dos riscos passa necessariamente pela criação de programas específicos de educação para o trânsito, que contemplem campanhas de conscientização. "Ainda não temos uma educação básica no país e uma cultura de segurança devidamente estratificada. Jamais na história brasileira, a palavra segurança teve prioridade para o governo", explica Corrêa. "O governo vai ter de assumir sua responsabilidade para ensinar as atuais gerações a darem valor à vida", diz a coordenadora do grupo de Pesquisa em Trânsito e Transporte Sustentável da UFPR, Alessandra Bianchi.
Alessandra alerta para um fator que ajuda a explicar o elevado índice de desvios de foco. "Imagine que tenha sofrido um acidente na estrada. É mais fácil admitir que estava acima do limite de velocidade ou desatento?", questiona. Conforme a PRF, as causas presumidas são identificadas pelos agentes e, quando não há razão clara, são enquadradas no critério "outras" (veja infográfico nesta página). Ela cita o excesso de velocidade, terceira razão no ranking da PRF, como um dos fatores primordiais das ocorrências. "A desatenção é, na verdade, falta de tempo para a reação causada pelo excesso de velocidade", esclarece.
Década de segurança
Embora o Brasil esteja participando da Década de Segurança no Trânsito (2011-2020), coordenada pela Organização das Nações Unidas, há o temor de que as ações não diminuam os óbitos causados por acidentes de trânsito aproximadamente 35 mil brasileiros morrem por ano nas estradas e ruas brasileiras. Embora os índices lembrem os de uma guerra, os atores do trânsito continuam a se comportar de forma equivocada. "Falta educação não só para o motorista brasileiro, mas para todos os usuários de rodovias, como pedestres, ciclistas e motociclistas", diz Martinez, da PRF.
De acordo com Corrêa, as ações de segurança para o trânsito começaram a ser discutidas em 2001, mas o país não se preparou para, de fato, combater o problema. "Esperava-se que, nos anos que antecederam a década, fosse programado grande plano de execução, o que não ocorreu", critica. "Para mudar esse panorama, seria necessária a existência de uma agência de trânsito, com ligação direta à Presidência da República, com capacidade de mobilizar todos os ministérios do governo", sugere.
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