Pela primeira vez na série histórica do Relatório Mundial sobre Drogas (RMD), produzido pela Organização das Nações Unidas e divulgado nesta quarta-feira (24), o Brasil figura como produtor de ecstasy. Isso se deve à descoberta de um laboratório pela Polícia Federal em Pinhais, região metropolitana de Curitiba, no ano passado.
Além de produtor, também pela primeira vez desde 2002, quando o relatório começou a ser produzido, o país passou a figurar entre os que mais apreenderam ecstasy no mundo. A justificativa para esse crescimento pode ser respondida pelo fato de a nação ser a terceira com o maior índice de uso de anfetaminas no mundo - incluindo, além das drogas, remédios antidepressivos e analgésicos com esse princípio ativo.
O ecstasy, estimulante de tipo anfetamínico feito em laboratório, pode ser produzido em qualquer lugar do mundo. É diferente da cocaína, por exemplo, derivada da folha de coca, que depende de condições geográficas e climáticas.
O Escritório sobre Drogas e Crimes da ONU (UNODC, na sigla em inglês) admite que é difícil ter dados precisos sobre a produção desse tipo de droga - a estimativa de fabricação mundial vai de 72 a 136 toneladas. Um barracão no bairro Jardim Maria Antonieta, em Pinhais, colocou o Brasil dentro dessa estatística. Lá funcionava um laboratório, descoberto em julho de 2008, que tinha material para a produção de até mil comprimidos em poucas semanas - outras mil cápsulas foram apreendidas prontas para o consumo.
O RMD considera apenas os dados até 2008. O relatório do ano que vem deve trazer o Paraná novamente como produtor de drogas sintéticas. Em janeiro deste ano, outro laboratório de produção de ecstasy foi descoberto pela polícia. A droga lá produzida tinha composição similar ao ecstasy, mas até então era desconhecida pelas autoridades locais. Foi batizada de MD.
Crescem apreensões da droga no mundo
As apreensões de ecstasy no mundo foram de apenas 7,9 toneladas em 2007 - dado mais recente da análise. Apesar de, na estimativa mais otimista, o número ser de apenas 10% da produção mundial, houve um crescimento de 61% em relação ao ano anterior.
No Brasil, foram apreendidos 21 quilos de ecstasy, o que o coloca em 22º entre os que mais apreenderam ecstasy - nos anos anteriores, o número era tão insignificante que o país nem constava na lista.
Enquanto o ecstasy está em crescimento, o consumo de outras drogas está diminuindo. Cocaína, maconha e heroína têm consumo em declínio ou estável na maior parte do mundo. A produção de cocaína, concentrada na Colômbia, Bolívia e Peru foi a menor em cinco anos.