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Colegio Estadual Paulina Borsari: média superior à das particulares. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Colegio Estadual Paulina Borsari: média superior à das particulares.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

As notas do Enem de 2014 comprovam que o desempenho da escola depende mais do contexto socioeconômico das famílias do que do ensino ofertado pela instituição de ensino. Entre as escolas com alunos de nível alto de renda, a média das instituições estaduais do Paraná se aproxima das escolas privadas. E, no nível muito alto, até supera. O perfil socioeconômico das instituições foi divulgado pelo governo federal junto com as médias por escola no Enem, para garantir uma análise mais completa dos fatores que interferem na nota dos estudantes.

Confira mais dados sobre a influência do contexto socio-econômico no Enem

Desafio é oferecer mais para menos favorecidos

Se o contexto socioeconômico dos alunos tem um peso tão grande sobre o desempenho escolar, o que as instituições podem fazer a respeito? A professora da Faculdade de Educação da UFMG Maria Teresa Gonzaga Alves, que faz pesquisas sobre o efeito-escola, diz que as políticas públicas precisam ser reforçadas nos casos em que os estudantes são menos favorecidos.

“É preciso oferecer mais. Por exemplo, garantindo escola de período integral nas regiões carentes”, afirma. Há outros caminhos a serem adotados: o estado ou município poderia reduzir o tamanho das turmas em determinadas escolas, ou focar apenas no ensino fundamental ou médio. “Ao reduzir algum elemento da complexidade da escola, há uma compensação para dar atendimento melhor ao aluno com menor nível socioeconômico”, acrescenta.

Para o pesquisador Rodrigo Travitzki, é preciso atuar em diversas frentes, mas buscando sempre o equilíbrio entre meritocracia e igualdade de oportunidades. “Pode haver um recurso econômico extra, atrelado a certas condições. O Bolsa Família, inclusive, é exatamente isso, se pensamos a educação do Brasil como um todo”, avalia. Mas nem sempre é necessário verba ou recurso extra. “É possível criar e alimentar redes de trocas de saberes pedagógicos entre professores e escolas”, sugere.

No ranking geral, a nota das escolas privadas do Paraná em Redação foi 586 e a das estaduais, 472 – uma diferença de 116 pontos. Mas, ao se analisar apenas as escolas de nível alto, a diferença cai pela metade: 556 contra 503.

Assista: Escola estadual revela como se deu bem no Enem

No nível muito alto, há apenas uma instituição estadual listada: o Colégio da Polícia Militar do Paraná. O desempenho da instituição supera a média das 171 escolas privadas com o mesmo perfil socioeconômico. Em Redação, por exemplo, a escola estadual tem média 631, contra 611 nas instituições pagas. O Colégio da PM, porém, é uma das instituições públicas que realiza teste seletivo para ingresso de alunos, assim como o Colégio Estadual do Paraná, e por isso as notas dos estudantes nas provas nacionais costumam ter destaque.

Esta é a segunda vez que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao Ministério da Educação, fornece dados sobre o nível socioeconômico. Na divulgação dos resultados do Enem, no começo do mês, o ministro Renato Janine Ribeiro disse que esse é o fator determinante na nota. “Uma escola com alunos mais pobres vai ter uma nota inferior. Mas essa escola pode estar fazendo um trabalho educativo mais importante. Ela pode talvez melhorar esses alunos mais do que aquela que já recebeu o aluno com muita formação e com nível socioeconômico alto, apenas dando um pequeno avanço nele”, explicou na ocasião.

Acompanhamento individual e professores dedicados fazem a diferença

Mesmo com alguns alunos com mais dificuldade econômica, o Colégio Paulina Borsari é classificado como nível alto, e conseguiu se destacar entre as demais escolas, especialmente na prova de Linguagens: média de 544, superior à média (535) das escolas privadas do mesmo nível. “A maioria dos nossos alunos do 3.º ano fica em aula de manhã e à tarde faz estágio remunerado, para ajudar em casa. São bem dedicados e estudam bastante”, conta Simone. Segundo ela, a parceria entre escola e pais é fundamental para a evolução escolar.

No Colégio Estadual São Pedro e São Paulo, em Campo Largo (Região Metropolitana de Curitiba), a nota em Redação foi 578, também acima da média das escolas privadas de nível alto (556). “Não há uma receita de bolo, mas há alguns caminhos que ajudam a chegar lá”, observa o diretor Ramiro de Oliveira Junior. Segundo ele, quando os professores são do quadro próprio, há mais planejamento das aulas e mais resultado. “Quando são PSS [contratados pelo regime simplificado], eles costumam trabalhar em três, quatro escolas, ficam aqui apenas uma ou duas vezes por semana”, conta. Outro diferencial do São Pedro e São Paulo é o porte da escola, com apenas uma turma de ensino médio. “Por ser um colégio pequeno, damos bastante atenção individual, ficamos em cima”.

Análise

Estudos sobre o Enem já identificavam que a origem social do aluno faz diferença. Em sua tese de doutorado, defendida em 2013, o pesquisador da USP Rodrigo Travitzki levantou que 80% da média de cada escola é explicada por fatores que não são controlados pelos educadores, como nível socioeconômico e região. Ele explica que a lógica não se aplica ao aluno. “Alunos mais pobres podem ir bem no Enem, mas as escolas mais pobres dificilmente terão uma boa posição”, diz.

A professora da Faculdade de Educação da UFMG Maria Teresa Gonzaga Alves esclarece que a condição socioeconômica não deve ser vista como barreira. “A escola com nível baixo não terá desempenho ruim, necessariamente. Não é uma condição determinante, mas ajuda a explicar a nota”, afirma.

Classificação leva em conta porcentagem de alunos de cada faixa

As escolas estaduais classificadas com nível socioeconômico alto discordam da classificação feita pelo Inep. Esse é o caso do colégio Paulina Pacífico Borsari, no bairro Guabirotuba, em Curitiba. “Metade da nossa comunidade é da Vila Torres, muito carente”, diz a diretora Simone Caron Kogin.

A professora da UFMG Maria Teresa Gonzaga Alves explica que a comparação é feita entre todas as escolas do Brasil. “É esperado que estados do Centro-Sul tenham concentração maior de colégios mais ricos. Se fosse apenas com escolas do Paraná, seria feita uma outra leitura”, diz.

Segundo a metodologia do Inep, basta a família ter um pouco de conforto para ser enquadrada no nível alto. E, dependendo do número de famílias em cada nível, a escola recebe a classificação.

Por exemplo: Para a escola ser considerada de nível alto, basta que 48% dos alunos tenham um perfil definido como nível IV. Neste grupo, o aluno declara que há bens elementares (rádio, uma geladeira, dois telefones celulares, até dois quartos na casa e um banheiro e duas ou mais televisões em cores); bens complementares (videocassete ou DVD, máquina de lavar roupas, computador e possuem acesso à internet); e bens suplementares, como freezer, um ou mais telefones fixos e um carro. Neste nível não há empregada mensalista nem diarista. E mesmo a renda pode ser baixa: entre 1,5 e 2 salários mínimos ou entre 2 e 5 salários, dependendo da posse de outros bens. Os pais da criança (ou responsáveis) possuem Ensino Fundamental ou estão cursando.

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Com porte pequeno e bastante conteúdo, colégio São Pedro e São Paulo, de Campo Largo, obteve uma das maiores notas em Redação entre as instituições com o mesmo nível socioeconômico.

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