Cerca de 30% dos pacientes que são encaminhados para Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no Brasil já estão em estado terminal ou irreversível e não se beneficiam do tratamento intensivo, apenas têm a vida prolongada artificialmente. Os dados são do Conselho Federal de Medicina (CFM), com base em um levantamento feito em todo o país.
"São pessoas que acabam tendo sua morte atrapalhada, porque o médico não tem coragem de avisar a família de que ali não é o melhor local para ela continuar o tratamento", diz Roberto DÁvila, diretor do CFM.
A adoção mais constante da ortotanásia, portanto, poderia liberar vagas de UTI para pacientes que efetivamente se beneficiariam do tratamento. Considerando esta visão, no Paraná poderiam ser liberados cerca de 450 leitos (de um total de 1.397 vagas em hospitais públicos e particulares).
"Certamente haveria um aproveitamento melhor da UTI, mas nem é esse o objetivo da proposta de resolução. O que nós queremos é oferecer aos pacientes incuráveis e terminais a possibilidade de um tratamento mais digno", destaca DÁvila.
"Na rotina da terapia intensiva, se temos apenas uma vaga e chegam dois pacientes ao mesmo tempo, é internado o que tem mais chance de sobreviver. Se o de menor chance chega primeiro, a vaga é dele. Ninguém vai pedir à família ou ao paciente que libere o leito para outra pessoa", explica a presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Paraná e supervisora de UTI do Hospital de Clínicas de Curitiba, Nazah Cherif Youssef.
Na prática, diz Nazah, a aprovação da resolução tornaria oficial um procedimento já utilizado. "Isso depende muito da relação médico-paciente. Muitas famílias, depois que conversam com o médico, acabam desistindo de deixar o familiar na UTI.", conclui. (PK)
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