Havia uma menina que sempre falava gritando, fazia uma algazarra sem fim. Isso acontecia na escola, em sala de aula ou ainda durante o lanche, no recreio. Se pedissem que ela se calasse, o silêncio durava só alguns minutos. No enredo, que integra uma animação trabalhada com crianças, o incômodo causado pela personagem se torna um desafio para a "Super Di". O aparecimento da heroína infantil na tela é a oportunidade para que professores discutam com os alunos o comportamento apresentado e alternativas para um bom convívio social.
A proposta faz parte do projeto "Desenhos Animados Educativos", desenvolvido em Londrina por meio de uma parceria entre a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e o projeto social Galera de Deus Escola de Valores. Premiados internacionalmente, os episódios foram criados pela pesquisadora mexicana Marie Leiner; pela Texas Tech University Health Sciences, dos Estados Unidos; por El Colegio de Chihuahua; e pela Universidad Autonoma de Cuidad Juarez, ambos do México. As produções começaram a ser usadas em abril com crianças atendidas em centros municipais de educação infantil de Londrina e em atividades do próprio Galera de Deus.
De acordo com a psicóloga Maria Luiza Marinho Casanova, professora da UEL, o objetivo é prevenir problemas de comportamento. "Os desenhos têm um pé de realidade. Não são como os outros. Não têm coisas mágicas, mas consequências para o que a criança faz", explica.
Os episódios, desenvolvidos originalmente em inglês e espanhol, passaram por um processo de edição, adaptação e dublagem para o português. As ações foram feitas pela UEL, que também obteve financiamento do Ministério da Educação para a produção de cópias e distribuição para educadores. A tiragem inclui mil livros e mil DVDs. Cerca de R$ 50 mil foram investidos na iniciativa.
O projeto conta com 20 episódios que tratam de problemas como bater nos colegas e jogar videogames o tempo todo. Após a história, há um intervalo para que o educador extraia das crianças sugestões para resolver a questão. "Ao final, elas veem como é importante serem corretas e os benefícios que isso pode trazer, como ter mais amigos e sentir orgulho de si mesmas", diz Maria Luiza.
Ferramenta para discutir valores
Aluna da Escola Municipal Roberto Pereira Panico, em Londrina, Maria Fernanda de Freitas, 5 anos, se diverte com os personagens dos desenhos animados educativos apresentados para a turma. Em uma das histórias, o menino desobediente não parava de falar e, por não prestar atenção no que a professora dizia, perdeu a hora do lanche e um passeio no zoológico. O jeito foi ter paciência para conseguir acompanhar os demais. "Gostei de ver como ele obedeceu no final", comenta a menina.
Para a professora Aline Guilherme Maciel, as animações são uma ferramenta para trabalhar no dia a dia questões com as quais o educador não costuma ter material concreto para lidar. Os alunos gostam tanto que pedem para que a produção seja repetida antes de refletirem sobre o que viram e apontar soluções. "O professor fala muito sobre valores, mas nem sempre tem como mostrar exemplos para os alunos. Os episódios facilitam bastante esse processo", afirma.