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Entrevista

Desleixo é uma das principais causas de doenças cardíacas

As doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito em todo o mundo. Estima-se que, por ano, um entre 8 homens e uma entre 17 mulheres morram dessa forma antes de completar 65 anos. Segundo dados do Ministério da Saúde, a cada dia, cerca de 700 brasileiros morrem por doenças cardíacas. Só no Paraná, o enfarte agudo do miocário é responsável por cerca de 4,7 mil mortes por ano.

Os médicos alertam que muitas vidas poderiam ser poupadas se a população desse mais importância ao tratamento dos fatores de risco. Sabe-se que a obesidade, por exemplo, eleva em 225% as chances de um ataque cardíaco. Já pressão alta aumenta em 110% e o diabetes faz crescer a possibilidade em 200%.

Se por um lado o número de mortes é preocupante, por outro, os tratamentos evoluem constantemente. O aprimoramento das técnicas e o surgimento de novas tecnologias têm possibilitado que os pacientes sejam tratados com procedimentos menos traumáticos e invasivos.

Sobre esse assunto, a Gazeta do Povo entrevistou o médico italiano especialista em cardiologia intervencionista, Antonio Colombo. Pioneiro no desenvolvimento da colocação de stents em coronárias e na utilização do ultra-som intracoronário, Colombo atualmente é diretor do Laboratório de Cateterismo Cardíaco no Hospital Columbus e chefe de cardiologia invasiva do Hospital San Raffaele, ambos em Milão. Ele participou do 6.° Simpósio Internacional de Cardiologoia Evasiva para Clínicos, realizado em Curitiba na semana passada.

Qual doença cardiovascular causa o maior número de vítimas?Acredito que sejam as doenças isquêmicas. Elas levam ao bloqueio completo das artérias coronárias e, como conseqüência, pode ocorrer um enfarte do miocário, uma dor no peito, que é a chamada angina, ou até mesmo a morte súbita. O grande problema das doenças cardiovasculares é que em muitos casos a pessoa não descobre que tem um problema no coração até morrer por conta disso.

Muitas mortes poderiam ser prevenidas se as pessoas cuidassem melhor da própria saúde. Por que, mesmo com tantas campanhas, muita gente não leva isso a sério?O problema é que não é fácil educar a população. As pessoas se sentem muito bem até que sofrem um enfarte. A única maneira de tentar fazer essa educação é enfatizando que certas coisas fazem mal. As pessoas precisam entender que não devem fumar nem comer demais. O que a gente percebe é que as pessoas costumam procurar o médico somente quando já estão se sentindo mal.

Quem já sofreu algum problema passa a cuidar melhor da saúde?Acredito que 80% dos pacientes que sofrem um evento desses acaba mudando os hábitos e cuidando melhor da saúde. Mas depende do nível de educação que ele tem.

De que maneira a alimentação pode atuar na prevenção ou acabar gerando uma doença cardiovascular?A dieta definitivamente é um fator importante. O problema maior é que as pessoas comem demais e se exercitam pouco. Mesmo em países mais pobres existe uma enorme quantidade de pessoas gordas. O que acontece é que comer demais leva à obesidade, e a obesidade leva a diabete, que por sua vez vai levar a complicações cardiovasculares. Acredito que melhor maneira de prevenir as doenças do coração seja não comer demais.

Qual o papel do estresse no desenvolvimento dessas doenças? O estresse é um fator de risco, mas acho que não é tão importante quanto se fala. O problema não é o estresse em si, mas o que vem junto. Se você está estressado, vai comer mais, vai fumar mais, vai dormir mal e isso terá consequências.

Há um aumento no número de jovens com doenças como câncer e diabete. Isso ocorre também com as doenças do coração?Sim, isso em alguns casos pode ser explicado pela melhora nos diagnósticos. Ao mesmo tempo que essas doenças estão acontecendo cada vez mais cedo, elas são detectadas também em fases mais iniciais. Mas percebemos que esse aumento entre a população jovem é maior em países onde se tem uma alimentação inadequada e hábitos sedentários desde a infância.

E como estão os tratamentos hoje? O que há de promissor?Acredito que existem três áreas em que o desenvolvimento de novas terapias é promissor. Em primeiro lugar estão os stents farmacológicos, que embora não sejam tão recentes, ainda representam uma grande revolução no tratamento. Em segundo lugar são técnicas que dizem respeito a reparação de problemas congênitos, como fechar a comunicação entre cavidades do coração. E em terceiro lugar, algo que ainda é muito recente, mas deve se tornar comum no futuro, que é a implantação de válvulas artificiais. Tudo isso já pode ser feito por meio de catéteres, sem a necessidade de abrir o peito do paciente.

A tendência para os próximos anos é que o número de vítimas aumente ou diminua?Acredito que num prazo de cinco anos talvez conseguiremos diminuir um pouco o número de mortes, quem sabe 1 ou 2%.

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