São Paulo A desnutrição crônica infantil no semi-árido brasileiro, região mais pobre do país, caiu significativamente na última década, mas o índice ainda é quase três vezes o aceitável pelas organizações internacionais de saúde.
Pesquisa inédita que envolveu 17 mil crianças com até 5 anos de idade mostra uma taxa de desnutrição de 6,6% na região que abrange oito estados do Nordeste e o norte de Minas Gerais. O índice internacionalmente aceitável de desnutrição é de 2,5%.
É a primeira vez que se obtém, por meio de uma amostra significativa, dados nutricionais do semi-árido. Em 1996, uma pesquisa domiciliar em todo o Nordeste encontrou um índice de 17,9% de desnutrição infantil crônica.
Para o pesquisador Carlos Augusto Monteiro, do departamento de nutrição da USP, que coordenou a análise da pesquisa, uma série de ações feitas ao longo das últimas décadas propiciou a queda da desnutrição. Entre elas, a melhoria do saneamento básico, do nível de escolaridade e do acesso à saúde, especialmente o Programa de Saúde da Família (PSF).
Um dado novo avaliado pelos pesquisadores foi o impacto dos programas de transferência de renda (bolsas-família, escola e alimentação) do governo federal, iniciados em 2001. Das famílias das crianças estudadas, 35,3% estavam inscritas em algum dos programas.
Mas esse fato influenciou de forma diferente na taxa de desnutrição de acordo com as faixas etárias das crianças. Em bebês de até 5 meses, não houve diferença. Nas crianças entre 6 e 11 meses de idade, 2% dos inscritos estavam desnutridos contra 5,3% dos não-inscritos, uma diferença porcentual de 62,3%.
Benefícios mais modestos foram observados nas crianças mais velhas: redução na desnutrição de 28,3% para crianças entre 12 e 35 meses de idade (de 8,5% para 6,1% dos inscritos em programas sociais) e redução de 25,7% para crianças entre 36 e 59 meses de idade (de 6,2% para 4,6%). "O Bolsa-Família é um "plus a mais, mas não dá para atribuir só a ele a diminuição (da taxa de desnutrição)", diz Monteiro, lembrando que o maior índice de desnutrição entre os não-inscritos nos programas sociais foi de 8,5% (entre crianças de 12 a 35 meses).
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