Concentração de detergente provoca o surgimento de uma espuma poluente no Rio Tietê, que corta a capital paulista| Foto: Maurício Lima/AFP/Arquivo

São Paulo - Pelo menos até 2018, a despoluição do Rio Tietê no trecho urbano da capital paulista e da Grande São Paulo continuará só no sonho dos paulistanos e na promessa das autoridades. A perspectiva é resultado dos avanços percebidos até agora, passados 18 anos do início do projeto de despoluição do rio, com seis governadores já tendo ocupado o comando do estado e US$ 3 bilhões investidos em obras desde 1992. O Projeto Tietê está agora prestes a abrir a terceira fase de obras com a antiga meta de descontaminação, hoje fora de cogitação por pelo menos mais nove anos pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

CARREGANDO :)

Os ganhos no controle da poluição do Tietê ainda não são visíveis aos moradores da capital – apenas no interior, onde a sujeira que cobria o rio recuou 160 quilômetros nos últimos anos. "Mas a situação já melhorou", aponta o superintendente de Projetos da Sabesp, Carlos Eduardo Carrela. Em relação a 1991, o rio deixa de receber hoje, por dia, 1,3 bilhão de litros de esgoto puro. O programa só não avançou mais porque ainda há um grande volume de despejo de esgoto irregular no Tietê – são imóveis ligados à rede de águas pluviais – e porque oito cidades da Grande São Paulo não fazem parte da área de atuação da Sabesp.

O esgoto de Guarulhos, cidade que hoje não trata os dejetos, é despejado no Cabuçu de Cima, afluente do Tietê, e só a partir deste ano começarão a ser destinados a cinco pequenas estações que serão construídas com R$ 249 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. A meta é descontaminar 70% do volume nos próximos quatro anos. Em outros casos, a Sabesp levou a rede coletora até a porta das casas, mas os proprietários resistem a fazer as ligações por conta do aumento na conta de água. Na capital, foram identificadas mais de 18 mil ligações irregulares, só em outubro.

Publicidade

O objetivo do pacotão de obras da terceira fase, que prevê investimentos de mais US$ 800 milhões (US$ 600 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento e o restante da Sabesp), é aumentar os índices de coleta e tratamento de esgoto na capital e em 31 cidades. Transportar e tratar o esgoto de tão longe é fundamental porque o Tietê recebe o deságue de 165 córregos e rios. A empresa vai investir na ampliação de um complexo sistema de coletores e interceptores subterrâneos. Com isso, pretende saltar dos atuais 84% de esgoto coletado na Grande São Paulo (68% tratados) para 87% em 2015, chegando a 100% em 2018.

O esforço, no entanto, está longe de significar que o rio estará despoluído, segundo especialistas em recursos hídricos. "Nem em 2040", prevê Maria Lucia Ribeiro, da ONG SOS Mata Atlântica. O doutor em Geografia pela USP Mauricio Waldman diz que o lixo das ruas também vai parar no Tietê. "O rio nunca mais vai voltar a ser o que era", afirma.