Na madrugada de ontem, dezenas de turistas brasileiros que passaram uma semana isolados em Águas Calientes, cidade que funciona como base para excursões ao sítio arqueológico de Machu Picchu, no Peru, chegaram ao Brasil. Eles trouxeram histórias de falta de informações das autoridades, atrasos nos resgates e denúncias de corrupção.
No domingo, 24 de janeiro, quando chegaram os últimos trens, a estrada de ferro já estava em más condições. "Ninguém sabia se o trem ia sair. Quando saímos, com quatro horas de atraso, a viagem foi interrompida várias vezes. Víamos que o rio estava muito agitado", relata a professora Sandra Silva, 50 anos. A estrada de ferro passa ao lado do Rio Urubamba.
No dia seguinte, autoridades instruíram os turistas a aguardar nos vagões, porque o trem ia andar. "Sentimos uma trepidação, ouvimos uma sirene e fomos removidos às pressas para um campo de futebol, onde helicópteros iriam nos resgatar. No caminho vimos moradores chorando, desesperados", descreve Sandra. Quando os turistas perceberam que não haveria resgate, eles se dispersaram. Sem mais dinheiro, muitos dormiram em praça pública.
O resgate começou na terça-feira de forma desorganizada. A polícia fez uma lista de pessoas com mais de 60 anos e de mulheres com crianças, que teriam preferência no resgate. "A gente via o helicóptero descendo e subindo, mas ninguém vinha nos chamar", conta o marido de Sandra, o também professor Lourivaldo Silva, 61 anos. Surgiu o boato de que policiais estariam recebendo US$ 500 por pessoa para furar a fila.
Os próprios turistas se organizaram. "Um grupo fez uma barricada na entrada do heliporto, que ficava em um hotel, e passou a controlar o acesso", lembra o estudante Alan Santos Dias, 20 anos. O exército só chegou à cidade na quarta-feira, trazendo mantimentos. Restaurantes ofereceram suas cozinhas para o preparo de refeições, distribuídas gratuitamente em balcões na rua. Os helicópteros passaram a decolar de hora em hora e os últimos brasileiros foram resgatados na manhã de sábado.
Mesmo assim, algumas pessoas se arriscaram voltando pela estrada de ferro ou pela trilha inca, um trajeto de 45 quilômetros de encostas. O professor Silva optou pelo caminho depois de saber que vários grupos estavam saindo por lá. "Tinha prioridade para o embarque, mas disseram-me que eu não podia levar meu filho comigo", explica.
As dificuldades não acabaram com o fim do resgate. O aeroporto de Lima ficou lotado e a entrada era controlada por policiais. "Você tinha de mostrar o passaporte estrangeiro para poder entrar. Eles nos disseram que o movimento estava quatro vezes maior do que em dias normais", descreve Dias. O também estudante Rafael Pavan de Souza, 23 anos, ainda não conseguiu decolar da cidade. Ele é o sexto de uma lista de espera para desistências nos próximos voos. Caso contrário, ele só deve embarcar no dia 7.
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