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Rio e São Paulo – No início da semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com artistas na casa do ministro da Cultura, Gilberto Gil, no Rio de Janeiro. Algumas manifestações de apoio causaram polêmica entre intelectuais brasileiros. "Não estou preocupado com ética do PT ou com qualquer tipo de ética. Pra mim isso não interessa", disse o músico Wagner Tiso. O ator Paulo Betti afirmou que não se faz política sem sujar as mãos.

As frases de Tiso e Betti provocaram reações e reacenderam o debate sobre ética na política, respeito às instituições democráticas e à República. Tiso tentou se explicar, afirmando que "o PT fez um jogo que tem que fazer para governar o país".

A afirmação do músico tem um quê do pai da ciência política, Nicolau Maquiavel. Mas o escritor amazonense Milton Hatoum pegou o caminho da literatura para analisá-la e lembrou-se de um conto de Machado de Assis, "Evolução", para falar sobre ética. Nele, um personagem se apropria da frase de um amigo, ganha a eleição com ela, e o tempo mostra que ele só queria o cargo.

O poeta Ferreira Gullar, que já declarou voto no tucano Geraldo Alckmin dizendo ser contra a corrupção, afirma que os artistas que vão votar em Lula não podem tentar encobrir os erros do PT desprezando a ética, outrora bandeira do partido.

O cantor e compositor Lobão, que fez campanha para o petista em 2002, criticou os intelectuais de esquerda por não reconhecer seus erros, colocando-se acima do bem e do mal:

"Isso é uma coisa maniqueísta. A esquerda brasileira tem uma mentalidade execrável. Isso tudo é um reflexo do que acho dessas pessoas. Ser indulgente é ruim, não há justificativas. Dou nota zero para esses caras. Temos que ter equanimidade de direitos."

Para o escritor Milton Hatoum, o intelectual deve ter postura crítica e liberdade para exercê-la, não se prendendo a partidos. Opinião semelhante à do economista Luiz Gonzaga Belluzo.

"O artista, no campo político, deve se manter independente, até para criticar o seu próprio candidato", diz Belluzzo.

O cineasta Cacá Diegues acha que o intelectual não pode se submeter a partidos. Ele lembra que a ética é o princípio da civilização democrática e justa. Para o também cineasta Eduardo Escorel, admitir a corrupção como algo inerente à atividade política é a desmoralização da democracia.

Para o artista plástico Cildo Meireles, aprovar a falta de ética do PT é um reflexo da flexibilização da moral na sociedade brasileira. Ele acha que o brasileiro não pode entregar seu destino nas mãos de um "salvador". "O Lula é como se fosse o nosso Padim Ciço."

O cientista político Luiz Werneck Vianna lembra que comportamento semelhante da sociedade em relação à ética aconteceu na época do Estado Novo e na ditadura militar. "A luta contra esse comportamento teve origem na resistência ao regime militar. É essa experiência positiva, que trouxe o país de volta à democracia, que eles estão esquecendo agora."

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