A destruição da Estação Antártica Comandante Ferraz ameaça interromper o planejamento de retirada da chata (flutuante empregado no transporte de cargas) com 10 mil litros de combustível que naufragou em dezembro passado na Baía do Almirantado, na Antártida. Se não começar nos primeiros 15 dias de março, a tentativa de resgate terá que ser adiada para o final do ano, por causa da chegada do inverno, quando as temperaturas descem a até 30º negativos e o mar congela.
No caso de adiamento, os riscos de vazamento aumentam. De acordo com a Marinha, a chata, a 40 metros de profundidade, manteve intactas suas estruturas ao chocar-se contra o solo marinho. Mas quanto mais rapidamente for retirada do oceano, menos perigo há de o ecossistema ser contaminado pela carga poluente ainda armazenada dentro de um compartimento do flutuante.
Contratado pela Petrobrás, a pedido da Marinha, para participar do resgate da chata, o navio Gulman Atlantis chegaria nesta quarta-feira (29) ao litoral onde funcionava desde 1984 a base científica e militar brasileira na Antártida. A Marinha não informou se o cronograma foi mantido depois da destruição da Comandante Ferraz.
Como o jornal O Estado de S. Paulo revelou na edição de sábado (18), o mau tempo provocou o naufrágio da chata quando transportava a carga de gasoil artic (óleo diesel anticongelante fabricado pela Petrobrás para emprego na base brasileira da Antártica) entre o navio Almirante Maximiano e o píer da estação.
O flutuante foi a pique a cerca de 900 metros da costa. A constatação de que o óleo não vazou trouxe alívio à Marinha, que rebocava a chata, e ao governo da presidente Dilma Rousseff. O Brasil é signatário do Protocolo de Madri (1998), tratado pelo qual os países que compartilham a atuação no continente antártico comprometem-se a não poluí-lo.
O temor de que o governo brasileiro fosse responsabilizado pela possibilidade de causar um desastre ecológico em um santuário natural fez a Marinha manter sigilo a respeito do acidente. Em nenhum momento ela divulgou comunicados públicos informando a sociedade sobre o ocorrido. No sábado, quando a estação pegou fogo, foram três os comunicados oficiais.
A operação de resgate da chata prevê a utilização de um sino de mergulho trazido pelo Gulman Atlantis. Dentro da água, a temperatura a 40 metros de profundidade é negativa. Os mergulhadores que trabalhavam na base antes do incêndio chegaram a descer 20 metros, a uma temperatura de menos 2 graus.
No caso de permanecer por sete minutos a 40 metros de profundidade, o mergulhador terá que subir lentamente por duas horas, para não sofrer uma embolia. Com o mar em uma temperatura muito baixa essa ascensão é problemática. Com a utilização do sino, os mergulhadores não precisarão ir até a chata. As cordas e boias que reconduzirão o flutuante à superfície serão presos mecanicamente por equipamentos especiais manipulados no sino e no navio.
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