Sala de espera vazia com o fechamento do Hospital Nossa Senhora da Conceição| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Depois de um ano de investigação, três pessoas foram presas ontem em uma ação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) sob a acusação de desvio de verbas do Hospital Nossa Senhora da Conceição, o único que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba. Cláudio Camilo e Sueli Maria da Cruz são sócios da Camilo, Cruz & Cia. Ltda., empresa que administra o estabelecimento, e Sandro Miguel Mendes é assessor do prefeito Vilson Goinski (PMDB). Eles foram encaminhados ao presídio de Campo Magro. A juíza Inês Marchalek Zarpelon, da Vara Criminal de Almirante Tamandaré, suspendeu imediatamente o repasse das verbas. Por esse motivo, o hospital está fechado para atendimentos. Os acusados também seriam responsáveis pelo desvio de remédios.

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De acordo com as investigações, as irregularidades estariam na transferência de dinheiro da prefeitura de Almirante Tamandaré para o hospital. Em janeiro de 2007 – data em que a Camilo, Cruz & Cia. comprou o hospital –, a verba destinada era de R$ 100 mil mensais. Alguns meses depois, o valor subiu para R$ 140 mil. Neste ano, o repasse estava em R$ 240 mil. "O aumento ocorreu sem justificativas", diz o coordenador do Gaeco, Leonir Batisti. De acordo com Batisti, as investigações indicaram dívidas do hospital. Na época da compra pela Camilo e Cruz, o rombo seria de cerca de R$ 1,8 milhão. "O município não pode ser responsável por arcar com esse tipo de custo. Ele deve pagar pelo serviço ofertado", explica o coordenador.

O prefeito Vilson Goinski alega que a diferença se deve ao crescimento da demanda de atendimentos do hospital. "Temos todos os relatórios que comprovam o aumento. Chegamos, inclusive, a atender pessoas de municípios vizinhos", diz. A prefeitura, no entanto, não informou a quantidade de atendimentos feita por mês sob a justificativa de que os números foram apreendidos junto com os documentos e computadores. Estima-se que 9,5 mil pessoas procurem os serviços do hospital por mês.

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Para Batisti, outro problema se configura pela falta de licitação no convênio firmado entre a prefeitura e o hospital. "Isso é irregular. Licitações são necessárias para mostrar a clareza desse tipo de relação", diz. O prefeito Vilson Goinski (reeleito depois de ter a candidatura cassada por abuso de poder econômico e político durante as eleições municipais) alega desconhecer irregularidades e afirma que, por ser o único hospital do município, não há a necessidade de se realizar licitação. A Lei 8.666/93, que regulamenta essa forma de serviço, autoriza a dispensa da concorrência quando há um único fornecedor. "Somente este hospital está credenciado pelo SUS. O transporte dos atendimentos oneraria o município muito mais do que o convênio", diz o prefeito. Conforme Batisti, após a apreensão de documentos, auditorias serão realizadas. E novas prisões não foram descartadas.

Lacuna

O fechamento do Hospital Nossa Senhora da Conceição deixa uma lacuna na assistência de saúde de Almirante Tamandaré, cidade com mais de 93 mil habitantes, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, realizado em 2007. Goinski espera que a decisão judicial seja revista. "É impossível abrir um centro médico da noite para o dia e isso é lamentável", diz o prefeito. "Investigação é uma coisa. Punir toda a população fechando o hospital é outra."