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solidariedade

Detentas doam cabelos para crianças com câncer da Casa Ronald McDonald

Os cabelos ruivos e encaracolados estavam na altura do meio das costas. Mas, apesar da vaidade, a detenta Paula do Espírito Santo, de 26 anos, não pensou duas vezes em cortá-los bem próximo da nuca. Assim como Paula, outras 44 presas do Instituto Penal Oscar Stevenson, em Benfica, decidiram cortar seus cabelos para doação. Todo o cabelo recolhido será usado para a confecção de perucas para crianças com câncer da Casa Ronald McDonald, no Maracanã. Os cortes foram feitos no salão de beleza da própria unidade prisional ao longo dessa semana.

Paula, que cumpre pena por tráfico de drogas em regime semi-aberto, disse que já teve uma tia com câncer e que decidiu participar da doação porque quis ser solidária as crianças:

“ O corte do meu cabelo foi para uma causa nobre. Além disso, um dia eu ou alguém da minha família podemos passar por essa situação”.

Muito emocionada com o gesto da filha, a mãe de Paula, Maria Aparecida do Espírito Santo, de 51, também decidiu participar da campanha “Doar para recuperar”, como foi batizada pelas detentas, que conta com o apoio da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap).

“Essas meninas (as detentas) tiveram uma atitude que muita gente que está livre não tem. Foi um gesto muito bonito”, reflete Maria.

Também condenada por tráfico de drogas, Amã Pereira Spalla, de 25, contou que a atitude que teve com o corte do cabelo não aconteceria quando ela estava em liberdade.

“Está sendo muito gratificante para mim. A vida no crime tem muitas privações, antes não teria tempo e nem a vontade de fazer isso”, comenta.

A venezuelana Núbia Medina, de 52 anos, que cumpre pena por tráfico de drogas, disse que terá a liberdade em três semanas e até pensou em doar os cabelos no seu país, mas depois decidiu que o melhor era que a doação fosse feita no Brasil:

“Ele cresceu no Brasil então o certo é que seja doado aqui. As crianças com câncer precisam mais dele do que eu”.

De acordo com a diretora do instituto, Karinni Souza de Sá, junto com os cabelos serão entregues cartas escritas pelas detentas, explicando o motivo da iniciativa. A diretora conta que as internas se inspiraram no exemplo das mulheres do presídio Nelson Hungria, em Bangu, que fizeram a doação de seus cabelos em julho desse ano.

“Esse é um projeto muito bacana. Enquanto tiver pessoas interessadas não podemos fechar as portas. Espero que a sensibilidade que as detentas tiveram sirva de exemplo para toda sociedade que está livre”, avalia a diretora, que também cortou o cabelo para a doação.

O Instituto Penal Oscar Stevenson é uma unidade com os regimes aberto e semi-aberto. Ele abriga 320 detentas, sendo a maioria cumprindo pena por tráfico de drogas. As detentas que participaram da doação ganharam um kit de higiene, com shampoo, desodorante e sabonete.

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