Propagandas
Ter um marido prevenia a histeria
Os conceitos de loucura e histeria no início do século 20 variavam de médico para médico e nem todos compartilhavam da mesma opinião. Se para alguns a histeria era detectada quando a mulher não cumpria com os seus deveres femininos, para outros, como Antônio Austregésilo, a histeria era uma simulação, ou seja, as mulheres fingiam, teatralizavam a loucura. Por isso, a partir dos anos 1920 a quantidade de internações caiu e só iam aos hospícios aquelas em surto grave. Neste mesmo período, outras concepções do problema foram tomando espaço e as estatísticas de histeria no Hospício Nacional caíram vertiginosamente.
Prevenção
Na época em que se acreditava que a loucura era de ordem moral, o governo brasileiro começou a utilizar os médicos para fazer propagandas sobre como prevenir a histeria. "Os médicos vão para revistas e jornais dizer o que é melhor para a vida da mulher, como saber escolher um bom marido para se ter um filho saudável", explica a historiadora Priscila Céspede Cupello.
A historiadora Maria Concepta Padovan lembra ainda que alguns jornais traziam charges e pequenas histórias que narravam como cuidar da beleza para conseguir um marido a forma mais eficiente da mulher não ficar louca. "Uma propaganda contava a história de uma mulher que, mesmo tendo pego o buquê da noiva, não conseguia um par para dançar. O médico indica um sabonete que promete acabar com o excesso de suor um obstáculo para seus relacionamentos evitando que sua saúde mental seja afetada."
Internamento
Veja como eram os atendimentos às histéricas no começo do século 20:
Seções
- Comumente as mulheres eram separadas por classe social. No hospício do Rio de Janeiro havia duas seções: a das pensionistas (sustentadas e normalmente internadas por familiares de classe social mais privilegiada) e a Esquirol, onde ficavam as mais pobres e aquelas mantidas pelo governo.
Atividades
- Ao entrarem no hospício para tratar da histeria ou da loucura, as mulheres da seção Esquirol iam para as oficinas de costura ou para a rouparia, enquanto as pensionistas eram encaminhadas para sessões de clinoterapia (tratamento com repouso) ou hidroterapia.
Tratamento
- Em Pernambuco, o tratamento era bastante violento: usava-se insulinoterapia (insulina injetada) que causava febres e convulsões nas pacientes. Outra técnica era a malarioterapia (inoculação do germe no paciente) e choques elétricos. .
Opções
- Em muitos prontuários foi encontrada como alternativa aos tratamentos o uso do extrato de suco de maracujá, que ajudaria a acalmá-las em casos de surtos histéricos.
A histeria era a doença que mais acometia as mulheres nas primeiras décadas do século 20 no Brasil. Não porque elas eram efetivamente histéricas: uma das características da doença destacada pelos médicos do então Hospício Nacional de Alienados era o não cumprimento dos deveres de esposa e mãe de família. Mulheres que preferiam ler romances, estudar e trabalhar fora de casa a cuidar das obrigações domésticas "descumpriam" a essência do feminino e, por isso, precisavam de tratamento manicomial. "Um médico do hospício do Rio de Janeiro chamado Henrique Roxo afirmava que as histéricas eram, em geral, péssimas donas de casa", cita a historiadora Priscila Céspede Cupello, pesquisadora da Fiocruz que analisou prontuários do Rio de 1900 a 1910. A pesquisadora encontrou casos bem emblemáticos, como o da mulher que desenvolveu depressão após a perda do filho e foi levada ao hospício por não querer mais cuidar da casa, por causa do seu estado melancólico. Lá também era o destino daquelas que traíam o marido ou eram tidas como promíscuas, que antes tinham de dar explicações na delegacia de polícia.
Fora do padrão
Naquela época, a loucura feminina estava vinculada a uma quebra de modelos, sejam eles social ou religioso, mas também eram consideradas histéricas aquelas que fugiam dos padrões de beleza. "As mulheres eram incentivadas a realizar exercícios como danças e ginásticas para fortalecer o corpo e, assim, dar à luz filhos mais saudáveis", explica a historiadora Maria Concepta Padovan, pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco que analisou, durante o mestrado, prontuários do Hospital de Alienados Ulysses Pernambucano, conhecido como Hospital da Tamarineira, no Recife. A feiura era coisa de gente louca, pois se acreditava que a beleza não era inata, precisava ser conquistada a partir da educação física. "No prontuário de uma paciente de nome Severina constava que ela tinha sido internada por causa de sua aparência repugnante", afirma Maria Concepta. A educação física, então, proporcionava a "higiene mental" e mulheres com cabelos desarrumados ou com roupa descuidada tinham de ir ao hospício para se tratar. No caso de Severina, além de não ter a beleza padrão da época, ela havia contraído uma doença venérea de um amante.
Os dois períodos estudados pelas historiadoras Priscila e Maria Concepta têm em comum a política de ajudar a construir uma nação. "A medicina se volta para estas mães porque elas precisam cuidar de seus filhos para que se tornem bons cidadãos brasileiros", lembra Priscila.
Censo apontava população "defeituosa"
No Brasil, a loucura começa a ser considerada um problema urbano no século 19, logo após a independência. Isso porque, para construir uma nação, era preciso civilizar. "Não era mais desejável um lugar habitado em uma situação de epidemia iminente", afirma a historiadora de Cárceres, no Mato Grosso, Rachel Tegon de Pinho. Ela pesquisou a relação da loucura em Cuiabá. "Uma série de práticas são banidas, como o batuque, criar porcos no meio da rua ou jogar água suja nas vias", diz. Além disso, em 1890 um grande recenseamento é feito em todas as capitais brasileiras e um dos critérios levantados são os defeitos físicos da população. É nesta categoria que começam a aparecer os "alienados", "dementes" e "idiotas". "As pessoas eram apontadas como loucas pelos próprios vizinhos, chefes de família e por quaisquer funcionários públicos.
Exceção
Nem todas as mulheres que deixaram de se casar ou cuidar da casa foram consideradas loucas. A historiadora Maria Concepta Padovan lembra que existiram mulheres da classe média que se dedicavam ao magistério ou eram visitadoras (precursoras da enfermagem) que foram aceitas pela sociedade. "Costureiras e lavadeiras também eram necessárias", lembra Maria.
Ressocialização
Muitas mulheres que permaneciam por mais de 10 anos no hospício, quando recebiam alta médica já não voltavam para a família. "Muitos médicos escreveram que havia superlotação nos hospícios e que não sabiam o que fazer com as mulheres que estavam há tempos lá dentro", afirma a historiadora Priscila Céspede Cupello.
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