O diálogo entre os ministros Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski, durante o julgamento do mensalão, quarta-feira expôs diante dos holofotes as divergências mantidas até então nos bastidores pelos integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). "Nunca vi esse procedimento nem esse tipo de diálogo no tribunal", reagiu ontem, exaltado, o ministro Eros Grau, suspeito na visão de Lewandowski de negociar o voto.
Ao chegar para a sessão, Eros Grau ainda afirmou que nunca tinha visto na história do Supremo a interceptação de mensagens eletrônicas pela imprensa. Ele mandou que os jornalistas procurassem os dois ministros que travaram o diálogo para explicar a suspeita de que iria rejeitar o pedido do Ministério Público Federal de abertura de processo penal contra os acusados do esquema do mensalão. "Os ministros Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski sabem dessas coisas", afirmou.
Já o ministro Marco Aurélio Mello, que foi criticado na troca de mensagens eletrônicas de Carmem Lúcia e Lewandowski, não escondeu a satisfação com os deslizes dos colegas. "Quanto às referências a minha pessoa penso que saí bem na fotografia", afirmou, rindo. "Cada um dos envolvidos tem que sopesar o contexto", disse. "Como juiz, não costumo discutir os meus votos, mas é um problema de foro íntimo", ressaltou. "Assim procedo há 28 anos."
Na troca de mensagens, Carmen Lúcia e Lewandowski revelaram tendências a respeito do voto que dariam. O último se disse impressionado com as argumentações do procurador-geral da República, autor da acusação contra os 40 acusados pelo mensalão.
Em meio à polêmica, Marco Aurélio aproveitou para fazer auto-elogios. "Qual receio da minha presidência? Cumprimento do dever? Sim", disse. "Busco o cumprimento do dever como tenho demonstrado durante a minha vida profissional", completou. "Um homem público é um livro aberto."
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