O Brasil está deixando para trás o estigma de ser um país de desdentados. A avaliação é do presidente nacional da Associação Brasileira de Odontologia, Norberto Francisco Lubiana. Para ele, os avanços nas técnicas de tratamento e na cobertura da atenção básica no país nas últimas décadas são fatores que contribuíram para que a saúde bucal da população melhorasse. O refinamento das técnicas permitiu que a postura dos profissionais também mudasse. Hoje já não se extraem dentes como antigamente e há uma preocupação muito maior com a prevenção dos problemas bucais.
Lubiana, que é também conselheiro da Federação Dentária Internacional, conversou com a Gazeta do Povo e fez uma avaliação sobre os avanços da Odontologia no Brasil nos últimos anos.
No último sábado foi comemorado o dia do dentista. Avaliando a evolução da Odontologia no Brasil nas últimas décadas, o senhor considera que temos motivos para comemorar?
Temos hoje uma situação que em 500 anos de Brasil nunca tínhamos atingido em termos de atenção à saúde bucal. A política nacional vem sendo desenvolvida desde 2003 e realizando um trabalho importante na mudança do quadro epidemiológico do país. É lógico que ainda é um início. Ainda não temos um novo levantamento para saber o que já melhorou em termos reais, mas a gente sabe que já há uma certa parcela da população tendo um acesso maior ao tratamento odontológico e à educação em saúde bucal. Creio que estamos começando a trilhar o caminho.
O senhor concorda que a Odontologia foi de certa forma uma área negligenciada se pensarmos que o SUS foi implantado na década de 80 e apenas em 2003 estabeleceu-se uma política governamental específica para a saúde bucal?
A Odontologia como profissão no Brasil sempre teve uma evolução muito boa, principalmente nas últimas décadas. A profissão tecnicamente evoluiu muito, não só na parte clínica, mas a indústria odontológica também evoluiu bastante. Hoje o Brasil exporta muitos produtos e materiais, mas com certeza a dívida social que os governos deixaram com a população em relação à Odontologia é muito grande.
Quando falamos em Brasil, de uma forma geral, precisamos levar em conta uma série de diferenças regionais. O senhor avalia que a situação da atenção básica e a conscientização da população em relação aos cuidados bucais é algo uniforme em todo o país?
Antes da implantação do Brasil Sorridente, foi feito um levantamento epidemiológico que mostrou as condições de saúde bucal no Brasil inteiro. Logicamente que as regiões Norte e Nordeste têm mais necessidade do que o Sul e o Sudeste. Baseada nisso foi construída uma política com atenção maior para áreas mais carentes de atenção.
E podemos dizer que as características sociais, de renda e de grau de instrução ainda são fatores que influenciam no nível de atenção que as pessoas dão à saúde bucal?
Sabemos que regiões mais carentes têm uma situação pior e sabemos que uma boa saúde bucal influi na vida do indivíduo. Às vezes ele não consegue emprego, não consegue sorrir, se relacionar, tem a vida social, emocional e sexual afetada, tem problemas de saúde por não ter uma boa mastigação, enfim é uma série de fatores que têm uma repercussão no organismo daquele indivíduo e que está relacionada com a má saúde bucal. Por isso enfatizamos a necessidade de cuidar da boca como forma de cuidar do todo. A saúde bucal faz parte de uma saúde geral e tem que ser encarada como tal. Não podemos esquecer que a boca muitas vezes é a porta de entrada de uma série de doenças.
A respeito das mudanças na postura de tratamento, hoje a Odontologia está muito mais voltada para a prevenção e não se arrancam mais dentes como acontecia antigamente.
Sem dúvida, hoje você tem uma conscientização muito maior da população. As pessoas se preocupam e não querem perder seus dentes. Os próprios profissionais deixaram de ter essa postura extracionista e passaram a orientar o paciente para que ele preserve os seus dentes. Além disso, hoje temos um domínio total no campo científico, novas tendências de tratamento, novos materiais, técnicas.
Podemos considerar a Odontologia praticada no Brasil como referência em relação aos outros países?
Com certeza, somos um dos melhores, talvez os primeiros do mundo. Sabemos da nossa qualidade e somos referência para muitos países. A ABO é constantemente procurada para acordos de cooperação, eventos, cursos. Temos toda uma construção em que o mundo nos vê como uma Odontologia de excelência.
Na sua opinião, quais os principais desafios da Odontologia no Brasil daqui para frente?
Creio que seja ampliar a política de saúde bucal e transformá-la em uma política de estado. Atualmente ela é uma política do governo federal, queremos transformar em uma política de estado que tenha continuidade independente de quem esteja no governo. É para isso que a ABO tem trabalhado em Brasília.
Julgamento do Marco Civil da Internet e PL da IA colocam inovação em tecnologia em risco
Militares acusados de suposto golpe se movem no STF para tentar escapar de Moraes e da PF
Uma inelegibilidade bastante desproporcional
Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora