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Os irmãos advogados Diogo e Antônio Lucchesi: máquina de escrever de 50 anos de trabalho divide espaço com o computador | Priscila Forone/ Gazeta do Povo
Os irmãos advogados Diogo e Antônio Lucchesi: máquina de escrever de 50 anos de trabalho divide espaço com o computador| Foto: Priscila Forone/ Gazeta do Povo

Depois de décadas de experiência no trabalho, estabilidade financeira e uma clientela fiel, de repente o profissional se vê obrigado a aprender uma nova tecnologia. Os colegas mais jovens são experts no assunto. Todos os novos procedimentos relativos à atividade já trazem embutidos um método ou equipamento mais moderno. O que fazer para acompanhar essa evolução?

Essa foi a pergunta feita pelos advogados Diogo, 81 anos, e Antônio Carlos Lucchesi, 79, quando o tal do computador começou a invadir os escritórios de advocacia de conhecidos, há 15 anos. No conjunto de duas salas que eles ocupam em um edifício na Rua XV de Novembro desde 1960, reinavam absolutas quatro máquinas de escrever, algumas ativas desde que começaram a faculdade de Direito, no final dos anos 50. Não tiveram dúvidas: "Se veio para facilitar a nossa vida, não tem porque ser contra", conta Diogo.

O fax, adquirido cinco anos antes do computador, também descomplicou a vida dos advogados, conta Antônio: "Até então, precisávamos usar a própria má­­quina, papel carbono ou mimeógrafo para copiar documentos. Levávamos um bom tempo e era cansativo. Na máquina, se errássemos muito, era preciso datilografar numa nova folha."

Quando pensavam que "já haviam inventado tudo", os irmãos advogados foram surpreendidos pela internet que, além de facilitar, também ajudou a cortar gastos e evitar dores de cabeça. Com os processos digitalizados e disponíveis na rede, não é mais preciso ir até o fórum consultá-los. "Isso é uma maravilha", diz Diogo, enquanto mostra os endereços catalogados na seção ‘favoritos’ do navegador: "Temos aqui o site do STF (Supremo Tribunal Federal), do TJ-PR (Tribunal de Justiça), [sites] especializados na área, jornais. Quando quero consultar, vou direto ali e pronto."

Atualização obrigatória

Para o cirurgião Sérgio Brenner, 74 anos, que iniciou a carreira em 1961, no então recém-fundado Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná, a adaptação aos procedimentos e tecnologias que surgiram na área da Medicina ao longo da vida profissional foi obrigatória. E não foram poucas as mudanças em 50 anos de profissão: de técnicas como a tomografia, a ecografia e a ressonância magnética aos transplantes e cirurgias por vídeo.

"Na minha área, que é a cirurgia de estômago, a videolaparoscopia [cirurgia feita com uma microcâmera introduzida no local] foi uma das maiores invenções. O procedimento é o mesmo da cirurgia aberta. O que modificou é que você não precisa abrir o paciente. Ele se recupera mais rápido e sente menos dor, por não sofrer um corte muito grande." O médico também viu o contrário: técnicas e medicamentos que eram muito usados e que ficaram obsoletos. "Faz parte da evolução." Outra novidade para o médico foram as doenças autoimunes. "Nunca ouvi falar disso enquanto estava na faculdade".

No momento, Brenner se diz encantado com as possibilidades oferecidas pela técnica de operação com robôs, que ainda não são realizadas em Curitiba – apenas em alguns poucos hospitais de São Paulo. "Com eles é possível ter uma visão tridimensional do local a ser operado. Isso é fantástico. O problema é o preço. A manutenção é muito cara", lamenta o médico, que experimentou a novidade num hospital nos Estados Unidos.

Se para alguns profissionais a adaptação é facultativa, para os médicos, na opinião de Brenner, ela é imperativa. "O paciente exige isso de você. Hoje há a internet, ele tem acesso a informações sobre tratamentos, remédios e aparelhos que antes só o médico conheceria. Ele quer saber se você conhece aquela técnica, senão ele procura outro profissional. Isso vale tanto para o médico de uma grande cidade quanto de um vilarejo no Amazonas", opina. E formas de se atualizar, segundo ele, não faltam. Congressos, revistas científicas, conversas com colegas mais jovens e vontade de se aperfeiçoar são grandes aliados.

Resistência

Quem contrata os serviços do taxista Taras Rokitzki, 76 anos, o Espanhol – apelido que vem da época em que tinha um ponto na Praça da Espanha –, conta com 40 anos de experiência de alguém que conhece a cidade como poucos. O serviço, porém, tem de ser pago em dinheiro. O taxista, que começou na profissão quando o cartão de crédito ainda não tinha três anos de uso no país (o primeiro foi lançado em 1968), não aceita esse tipo de pagamento, nem o de débito. "Não uso maquininha, não. Acho que sai muito caro, é mais complicado e eu tenho medo de assalto."

O taxista conta que também não trabalha com rádio, pelo serviço ser muito caro, mas que isso nunca o impediu de ter vários clientes por dia. "Todo mundo aqui perto da praça [Osório, onde fica o seu ponto] me conhece, até os cachorros da rua", brinca. Ele também não usa GPS, por acreditar que "se enfeitar muito o carro o pessoal vem e rouba." A única tecnologia acompanhada por Taras em quatro décadas diz respeito aos modelos automotivos e alguns assessórios, como a direção hidráulica. "Não vejo necessidade desse tipo de coisa. Acho que é possível se sair bem na profissão e servir bem o cliente sem isso.".

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