A presidente Dilma Rousseff pediu à Polícia Federal que entre na investigação do acidente em um depósito de fertilizantes em São Francisco do Sul (SC). Dilma ouviu na manhã desta quinta-feira, 26, no Palácio do Alvorada, um relato da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que é de Santa Catarina.
Dilma mostrou preocupação com o caso e com a extensão dos danos provocados pela explosão e sugeriu a ação da PF. Dilma ligou para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, e pediu a abertura da investigação.
Na terça-feira, 24, Ideli fez um sobrevoo da área da explosão, acompanhada do Secretário Nacional de Defesa Civil, Humberto Viana, e do secretário de Proteção Civil e Segurança Pública de Joinville, Francisco José da Silva. De acordo com a Secretaria de Relações Institucionais, a ministra também conversou com a presidente da Petrobras, Graça Foster, que colocou à disposição da prefeitura funcionários e equipamentos especializados para contenção de acidentes.
A nuvem de fumaça que toma conta da cidade litorânea de São Francisco do Sul, norte de Santa Catarina, desde a terça-feira à noite somente deve ser controlada amanhã à tarde, segundo o Corpo de Bombeiros. A prefeitura é mais otimista: diz acreditar que, até o fim da tarde de hoje, a fumaça já esteja controlada.
A combustão - uma reação química, que não produz chamas - ocorreu num galpão de fertilizantes da empresa Global Logística, perto da área portuária da cidade. O local é como um "panelão": não há fogo, mas muita fumaça.
o prefeito Luiz Roberto de Oliveira (PP) orientou os moradores que deixaram a cidade a não voltar até que o incidente seja controlado. A direção do vento pode mudar e chegar até os bairros centrais -não há, no entanto, previsão de que isso ocorra nas próximas 24 horas.
O Hospital Municipal informou que cerca de 160 pessoas foram atendidas e medicadas desde anteontem, sem gravidade. Um bombeiro de 59 anos permanece internado, num estado que inspira preocupação: ele teve contato com uma lufada intensa de fumaça enquanto combatia a combustão, ontem à tarde. Teve intoxicação e taquicardia; foi sedado, entubado e encaminhado para um hospital de Joinville. Segundo a prefeitura, ele não corre risco de morte.
Danos ambientais
Até agora, a prefeitura ainda avalia eventuais danos ambientais decorrentes da fumaça, como à água, aos animais ou à vegetação. O único dado concreto é que peixes de um riacho próximo ao galpão morreram, num incidente "de pequena monta", segundo o secretário municipal do Meio Ambiente, Eni José Voltolini.
Nas primeiras 12 horas, os bombeiros não tinham mecanismos para reter a água usada no combate à combustão, que contém substâncias tóxicas. "Esse produto foi escorrendo, enquanto nós montávamos uma piscina artificial para recebê-lo", diz Voltolini. "Um pouco disso chegou a um córrego, e alguns peixes até morreram. Mas em pequena quantidade."
O secretário afirma que, na tarde de ontem, a piscina, impermeabilizada, já estava instalada e toda a água usada no combate à fumaça era enviada para lá e depois sugada por caminhões-tanque, que a transportaram para depósitos adequados.
O pH do riacho atingido pela contaminação voltou ao normal no fim da tarde de ontem, segundo Voltolini.
De acordo com o secretário, não há risco de contaminação da água da cidade em razão do trabalho dos bombeiros. Quanto aos efeitos da fumaça no ambiente, eles ainda são desconhecidos.
Fumaça
A combustão gerou uma nuvem amarelada que tomou conta de bairros da cidade, chegou ao Paraná e pode atingir até o litoral de São Paulo. A fumaça, que contém nitrato de amônia, diafosfato de amônia e cloreto de potássio, causa irritação na pele e nas vias respiratórias.
Segundo a Prefeitura de São Francisco do Sul, na manhã desta quinta-feira houve uma mudança na direção dos ventos e a fumaça tóxica segue em direção aos balneários. Na quarta-feira (25), a fumaça seguia em direção ao mar.
Segundo o Corpo de Bombeiros Voluntários da cidade, diversas pessoas foram retiradas de casas vizinhas a fábrica, que fica às margens da rodovia BR-280, devido a fumaça tóxica que sai do local. Ao menos 70 pessoas foram levadas para os hospitais da região, sofrendo algum grau de intoxicação.
Na manhã de quinta, a prefeitura deve abrir novo abrigo em uma escola no bairro Enseada para receber moradores que tiveram que deixar suas casas. Na quarta, 80 pessoas foram levadas para abrigos, no Colégio Estadual Santa Catarina, de acordo com a Defesa Civil estadual. Entre elas, um grupo de 40 idosos de uma casa de repouso.
Fumaça fez moradores de cidade vizinha deixarem suas casas
Tatiana Duarte, jornalista e administradora, mora em Itapoá, cidade que é separada por uma baía de São Francisco do Sul. Ela conta que deixou a cidade por cerca de 24 horas e pôde voltar ao município apenas na manhã desta quinta-feira (26). Ela estava no trabalho, no Centro de Itapoá, e não pôde nem mesmo pegar pertences em sua residência antes de partir rumo a Curitiba, onde passou a noite na casa dos irmãos.
"A Defesa Civil evacuou os moradores no meu bairro (Pontal) durante a manhã de ontem. Ainda não conversei com ninguém, mas parece que eles conseguiram voltar para cá as 16h30. Do porto de Itapoá é possível ver a fumaça do outro lado, mas hoje já não há mais o cheiro estranho que tinha ontem. Hoje tem uma espécie de névoa, mas não tem cheiro", relata. Ela diz que a névoa é rala e que não se trata de neblina porque hoje faz sol na cidade.