A presidente Dilma Rousseff determinou ontem que a Polícia Federal participe das investigações no caso do cinegrafista Santiago Andrade, que teve morte cerebral declarada ontem de manhã após ser atingido por um rojão no Rio de Janeiro. Santiago foi atingido na cabeça pelo artefato disparado por um manifestante durante protesto contra o aumento da passagem de ônibus, que foi a R$ 3, na semana passada.
"A morte cerebral do cinegrafista Santiago Andrade, anunciada hoje (ontem), revolta e entristece", disse Dilma em sua conta no Twitter. "Não é admissível que os protestos democráticos sejam desvirtuados por quem não tem respeito por vidas humanas. A liberdade de manifestação é um princípio fundamental da democracia e jamais pode ser usada para matar, ferir, agredir e ameaçar vidas humanas, nem depredar patrimônio público ou privado", continuou.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, e o prefeito da capital, Eduardo Paes também lamentaram a morte do profissional da Band. Em nota, Cabral afirmou que "o direito de manifestação é fundamental para a democracia, mas a violência é inaceitável".
A morte do cinegrafista desencadeou ontem durante todo o dia uma série de atos simbólicos e homenagens de colegas de profissão e entidades que representam os jornalistas. "É urgente que as autoridades tomem providências para controlar a violência que vitima profissionais com a missão de informar a sociedade", disse, em nota, o vice-presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Francisco Mesquita Neto.
Investigação
O tatuador Fábio Raposo, que aparece em imagens dos protestos carregando o rojão, foi transferido na manhã de ontem para o Presídio Bandeira Estampa, em Gericinó, segundo a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap). Ele foi preso no domingo e indiciado por tentativa de homicídios e explosão.
A Polícia Civil do Rio informou ontem que pediria, até o fim da noite, durante o plantão judiciário, a prisão temporária por 30 dias do suspeito de ter acionado o rojão que atingiu na quinta-feira o cinegrafista da Band. O suspeito foi reconhecido por fotografia e em vídeos veiculados pela imprensa pelo tatuador. O reconhecimento foi feito na Penitenciária Bandeira Estampa, em Bangu, na zona Oeste do Rio, para onde Raposo foi transferido.
A polícia já levantou o endereço do suspeito, cujo nome e foto só serão divulgados se a prisão for decretada. Assim como Raposo, o suspeito foi indiciado por homicídio doloso (com intenção de matar), agravado pelo uso de explosivo e pelo crime de explosão. As penas podem chegar a 35 anos de prisão. A defesa do tatuador disse que vai tentar enquadrar seu cliente no crime de lesão corporal seguida de morte (4 a 12 anos de reclusão).
Imprensa se reunirá hoje com ministro da Justiça
Integrantes de entidades representativas de emissoras de rádio e tevê, jornais e revistas se reúnem hoje com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). Eles pretendem debater, a partir do incidente com o cinegrafista Santiago Andrade, a violência contra jornalistas nas manifestações de rua no país. Estarão presentes na reunião dirigentes da Abert (rádio e TV), ANJ (jornais) e Aner (revistas).
Desde o início dos protestos, em junho do ano passado, houve vários casos em que a mídia foi alvo. Carros de emissoras de tevê foram destruídos por manifestantes, notadamente os "black blocs". Jornalistas foram agredidos e ameaçados tanto por policiais quanto por manifestantes.
Ontem, o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, considerou como um "assassinato" o episódio que levou à morte cerebral do cinegrafista. Temendo uma ampliação das manifestações durante os jogos da Copa do Mundo, o ministro informou ainda que o Palácio do Planalto enviou recentemente representantes às cidades sede do Mundial para verificar "os problemas que ainda ocorrem" e dialogar com os grupos de manifestantes.
O cinegrafista Santiago Andrade nasceu no Rio e morava com a família em Maricá. Ele estava há 10 anos na Band, onde recebeu dois prêmios por reportagens sobre mobilidade urbana, cobriu tragédias como as chuvas que arrasaram a Região Serrana do Rio, em 2011, e estava escalado para trabalhar na Copa do Mundo.