O presidente do Hospital da Cruz Vermelha do Paraná, Jerônimo Antônio Fortunato Júnior, e o diretor de hemobancos em Curitiba, Paulo Tadeu Rodrigues de Almeida, estão entre os apontados como médicos “fantasmas” do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Eles e outros oito médicos foram indiciados por quatro crimes contra o serviço público na Operação São Lucas, deflagrada na última semana pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU). Segundo as autoridades, os dez indiciados não são contratados em regime de dedicação exclusiva, mas recebiam salário sem cumprir a carga horária para a qual são pagos. Juntos, os salários deles somam R$ 117,1 mil por mês.
- Leia a série de reportagens Universidades S/A sobre irregularidades nas instituições de ensino superior
- Professores burlam dedicação exclusiva na UFPR
- Petrobras e Dnit usam UFPR para driblar licitações
- ITTI fará projetos para a Secretaria dos Portos
- Convênios com o Dnit têm aditivos milionários
- Docentes acumulam bolsas milionárias em convênios com Dnit e Petrobras
- MPF do Rio investiga convênios sem licitação
A Gazeta do Povo teve acesso à lista dos dez indiciados, contratados pela UFPR para prestar serviço no HC. O sigilo judicial das investigações foi derrubado no início da semana. Segundo a PF e a CGU, nos horários em que deveriam cumprir expediente no HC, os médicos indiciados atendiam em clínicas particulares. O índice médio de frequência do grupo não passava de 7%. Alguns nem sequer compareciam ao hospital.
Fortunato Júnior tem vínculo com a UFPR desde 1993, para atuar como médico do departamento de cirurgia torácica e cardiovascular, conforme consta de seu currículo Lattes. O Portal da Transparência aponta que ele é contratado para cumprir 20 horas semanais, a um salário de R$ 4 mil ao mês. O médico mantém outros vínculos. Além da presidência da Cruz Vermelha, se divide entre as aulas na Universidade Positivo e os atendimentos como autônomo no Hospital Constantini –como faz constar na plataforma Lattes. A direção do Hospital Costantini diz que o médico não integra mais o quadro desde 2006. Desde a última sexta-feira (22), a Gazeta do Povo tenta ouvi-lo. Foram feitos vários contatos no HC e no Hospital da Cruz Vermelha. Na última tentativa, na tarde de quinta-feira (28), a secretária informou que ele não se manifestaria.
Já Paulo Tadeu Rodrigues de Almeida é contratado pela UFPR desde 1996, também para carga semanal de 20 horas, com remuneração mensal de R$ 5,5 mil. Além do HC, o médico é apontado como responsável técnico do Instituto Paranaense de Hemoterapia e Hematologia (Hemobanco), além de ser diretor de bancos de sangue de hospitais particulares, como o Nossa Senhora das Graças e Pequeno Príncipe.
Por celular, Almeida negou que tenha sido indiciado na Operação São Lucas. O médico não quis responder a outras perguntas, entre elas sobre as unidades em que atua e se prestou depoimento à PF.
Outro indiciado, Emerson Luiz Neves também atende em clínicas particulares em Guarapuava, a 220 quilômetros de Curitiba. Em uma delas, a Oncoclin, a secretária confirmou que ele cumpre expediente todas as terças e quartas-feiras. O contrato dele com a UFPR prevê carga de 20 horas semanais no HC, a um salário mensal de R$ 6,5 mil. Segundo a secretária, não seria possível ouvi-lo porque ele viajou para participar de um congresso.