O discurso de posse do governador Roberto Requião, realizado em cerimônia na Assembléia Legislativo do Paraná, em Curitiba, na manhã desta segunda-feira (1º), foi marcado por agressões contra adversários políticos, grupos econômicos e veículos de comunicação. Com o tom incisivo de costume, o governador voltou a afirmar que governa para o povo e que seu governo é de esquerda.
Já em suas primeiras palavras, Requião deixou claro que não faria um discurso de reconciliação, como teria sido sugerido por colegas. "Possivelmente nenhum outro governador tenha sido exposto de forma tão desumana, desapiedada e mesquinha", disse ao se referir ao último processo eleitoral.
O desempenho apertado do governador reeleito nas urnas teve pouco mais de 10 mil votos sobre o senador Osmar Dias (PDT) seria resultado de uma campanha agressiva contra sua gestão: "Discursavam com sangue na boca e um punhal entre os dentes".
Entre os culpados para a degradação de sua imagem, Requião citou grupos econômicos que financiaram seus adversários por terem sido contrariados nos últimos quatro anos. Neste período, o governador entrou em choque com bancos privados, ao tirar as contas de funcionários públicos do Itaú, e concessionárias de pedágio, objeto de pelo menos 40 ações judiciais.
Para ele, o governo anterior teria desmantelado a administração pública. A venda do Banestado, inclusive, foi classificada como "um dos processos mais absurdos da 'privataria'", termo usado pejorativamente para se referir às privatizações.
Em contra-partida, o governo Requião teria caminhado em direção ao povo, de acordo com o discurso de posse. Citou os programas sociais, como o "Leite das Crianças" e o "Luz Fraterna", como um diferencial de seu governo que deverá ser ampliado nos próximos quatro anos.
"Somos um governo de esquerda. Nos próximos quatro anos vamos radicalizar esta opção", afirmou ao explicar que seu governo é de esquerda, que em teoria buscaria a igualdade entre os cidadãos. Requião refutou a classificação que seria de centro-esquerda e aproveitou para criticar os governos liberais e alinhados à direita, nos quais estariam as bases das privatizações.
Como exemplo de um estado eficiente citou a Sanepar, que seria, segundo ele, deficitária no governo anterior e hoje estaria entre as melhores do mundo. Também relembrou feitos de sua administração e destacou os trabalhos nos setores de Educação, Saúde, Saneamento e Segurança Pública, que seriam modelos para o Brasil.
Críticas à imprensa
Por fim, as últimas palavras do governador foram usadas para críticas aos veículos de comunicação, outro setor muito contestado por ele. "Pela primeira vez em décadas, a mídia foi colocada sob suspeita". Segundo ele, a imprensa teria agido de má-fé nas últimas eleições e favorecido seus adversários.
Disse que a informação está sob monopólio hoje em dia e que haveria uma "ditadura de pensamento", o que diminuiria a credibilidade dos meios de comunicação. A imprensa, ressalta-se, também foi duramente atacada logo após o resultado do segundo turno que recolocou Requião no Palácio Iguaçu. Na época, a maioria dos veículos de comunicação do estado foi criticado na primeira entrevista coletiva do governador reeleito.
Cerimônia
O início da solenidade de posse, marcada para as 9 horas, começou com cerca de 20 minutos de atraso. Requião foi recebido pelo presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão e recepcionado com um número musical com o tema de sua última campanha. Aberta a sessão solene, foi executado o Hino Nacional e feita a leitura do Compromisso Constitucional, seguida da assinatura do termo de posse e do discurso do governador.
Depois, Requião seguiu para uma tenda em frente ao novo edifício, que vai abrigar o gabinete do governador, a Casa Civil, a Casa Militar e as secretarias da Comunicação Social e de Cerimonial e Relações Internacionais.
Seguindo o protocolo, o secretário-chefe da Casa Civil, Rafael Iatauro, do chefe da Casa Militar, tenente-coronel Anselmo de Oliveira, e o secretário da Justiça, Jair Ramos Braga, também foram empossados. Requião falou brevemente e cedeu espaço para que Orlando Pessuti discursasse.
O governador Requião viaja em seguida para Brasília, onde acompanha a posse do presidente Lula.
Perfil
A posse de Requião representa um marco na histório: esta é a primeira vez que um governador é eleito três vezes no estado. Apenas Manoel Ribas administrou o Paraná em três períodos, mas, em dois deles, como interventor, por determinação do governo federal.
Nascido em Curitiba, Requião de Mello tem 65 anos. Filho do médico e ex-prefeito de Curitiba, Wallace Thadeu de Mello e Silva e de Lucy Requião de Mello e Silva, é casado com Maristela Quarenghi de Mello e Silva e pai de dois filhos. É formado em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
O atual governador já ocupou diversos cargos importantes na vida pública. Foi deputado estadual (1983/85), prefeito de Curitiba (1986/89), secretário do Desenvolvimento Urbano (1989/90), governador (1991/94), senador (1994/2002) e novamente governador (2003/06).