Cascavel - Uma terrível sucessão de fatos tirou a vida de uma menina de 14 anos em Cascavel. Daniele Moreira de Assis morreu baleada na cabeça dentro da sala de aula. Ao que tudo indica, o tiro foi disparado acidentalmente por um colega de classe, que ontem mesmo foi colocado à disposição da Justiça.
O aluno que disparou o tiro havia sido transferido três semanas antes para o Colégio Estadual Santos Dumont. Antes disso, no dia 21 de agosto, ele já havia vivido um momento trágico. Seu irmão, de 19 anos, morreu com um tiro no peito ele foi baleado justamente tentando defender o irmão menor em uma briga.
De acordo com um tio dos meninos, desde então o garoto de 16 anos passou a receber ameaças de morte, sempre por telefone. A família também passou a ser ameaçada. "Ligaram para a minha irmã, no trabalho dela, e disseram que estavam com meus sobrinhos", conta. O terrorismo psicológico, segundo ele, tem tirado o sono da família.
Assustada, a família decidiu transferir o garoto de escola. Os pais não sabiam que o adolescente andava armado. "Em casa ele nunca usou arma", diz o tio. Para a polícia, o menor contou que emprestou a arma, um revólver calibre 38, de um colega. A polícia procura agora o proprietário do revólver.
Acidente
O tiro dentro da sala de aula da 8.ª série foi um acidente. A professora escrevia no quadro-negro quando o barulho ecoou e a menina caiu. O menino, que estava mexendo na arma dentro de sua bolsa quando ela disparou, fugiu. Os outros 30 alunos entraram em pânico e uma gritaria tomou conta do colégio. No período da manhã, cerca de 300 alunos estudam na escola.
O menino voltou para a casa de sua família no início da tarde e seus parentes decidiram entregá-lo à polícia. De acordo com o delegado Amadeu Trevisan Araújo, após prestar depoimento ele foi encaminhado a um educandário da cidade.
Emocionada, uma colega da estudante tentou falar sobre a amiga, mas só conseguiu dizer que havia trocado de carteira com Daniele pouco antes do disparo. Segundo os alunos, na quinta-feira o garoto já teria ido armado para a escola. A diretora Elza Nichetti disse que até então a escola não tinha problemas com violência. "Isso acaba com todo o trabalho que a gente vem fazendo na escola de consciência, de respeito", disse.
O tio do acusado disse ainda que a família decidiu entregar o adolescente por não concordar com o crime. "Na realidade não tem justificativa o que ele fez. Ir armado para a escola é errado", afirmou. Ao comentar o caso, ele pediu desculpas à família de Daniele e disse saber o que eles estão sentindo porque sua família viveu drama semelhante quando o irmão do acusado foi morto.
Sonho
Francisco Barroso da Silva, avô da adolescente morta, classificou a neta como uma menina carinhosa, alegre e obediente. "Ela nunca desrespeitou o professor, tinha uma conduta que dava gosto de ver", afirmou enquanto aguardava a liberação do corpo no Instituto Médico-Legal (IML) de Cascavel.
Ele contou que recentemente a menina concluiu um curso de manicure e sonhava estudar Veterinária. "Ela gostava muito de animais. Lá em casa tem uns cachorrinhos e se alguém batesse neles comprava briga com ela", disse o avô.
Segurança
O governador Roberto Requião (PMDB), que pouco depois do crime desembarcou em Cascavel, mostrou irritação ao ser questionado por um repórter de rádio sobre o problema de segurança pública no estado. "Veja bem a pergunta que você me fez. Eu até começo a suspeitar da tua inteligência. O que é que tem a ver a segurança pública com um acidente provocado por um garoto que pegou a arma do pai e disparou contra uma criança?", questionou.
A Secretaria de Estado da Educação divulgou nota lamentando a tragédia no Colégio Santos Dumont. Segundo a nota, o Núcleo Regional de Educação vai realizar um trabalho de apoio aos professores e funcionários da escola durante o fim de semana. O trabalho se estenderá, a partir da próxima semana, aos estudantes. As aulas estão suspensas até segunda-feira e a sala de aula onde aconteceu a tragédia será temporariamente desativada. "A Secretaria de Estado da Educação se solidariza com a família da estudante e informa que dará todo o apoio para o Núcleo Regional de Educação de Cascavel desenvolver o acompanhamento adequado aos alunos, professores e funcionários da escola para a superação deste incidente", diz a nota.