Área era posto de atração
A terra hoje reclamada pelos indígenas já foi usada pelo extinto Serviço de Proteção aos Índios (SPI) como um posto de atração instalado na margem do Rio Laranjinha, na divisa entre Santa Amélia e Cornélio Procópio.
Na primeira metade do século passado os produtores que habitavam a região comunicaram ao SPI a presença de índios caingangues na região. Conhecidos por sua violência, os índios começaram a atravessar a margem do rio e subir a mata. Foi montado um posto de atração na tentativa de domesticar os índios. Porém, a convivência com brancos resultou em um surto de malária, que acabou dizimando toda a população caingangue da região. Na área ocupada hoje há índios de diversas etnias, de várias regiões do estado e até do Paraguai.
Produtores buscam defesa
Líder do grupo de produtores rurais de Ribeirão Grande, o agricultor José Airton Helbel, 39 anos, se diz sem saber o que fazer diante da disputa. Ele cultiva milho, feijão e hortaliças no sítio de 12 hectares e mantém algumas criações. "Queria investir em benfeitorias, em equipamentos, mas eu não posso porque não sei se vou estar aqui amanhã. Tenho medo de perder o que meu pai me deixou e de não poder deixar o que é meu para meus filhos".
Direitos
Clayton Taji, 32, também tem um sítio de 47 hectares na região. Ele não se conforma com o que está acontecendo no bairro. "Parece que nós é que estamos contrariando a lei. Nós só queremos produzir dentro do que é nosso. Como é que eles (a Funai) podem dizer que essas terras foram griladas", diz. Taji promete lutar por seus direitos. Os agricultores já estiveram em Brasília para discutir com a Funai, mas não conseguiram avançar nas negociações.
Abatiá A aparente tranqüilidade da paisagem bucólica do bairro Ribeirão Grande, entre os municípios de Abatiá e Santa Amélia, no Norte Pioneiro, esconde o clima de tensão que envolve toda disputa de terras. De um lado, 38 pequenos produtores rurais, herdeiros há gerações de um total de 1,5 mil hectares. De outro, cerca de cem índios que aguardam a demarcação da mesma área como uma reserva indígena.
Os índios ocuparam em 2005 um sítio de pouco mais de 50 hectares. Os produtores rurais exigem que o grupo deixe o local. Eles temem perder suas terras porque a invasão aconteceu menos de dois anos depois de a Fundação Nacional do Índio (Funai) ter determinado, através de uma portaria, um estudo de revisão da área, que culminou com o laudo da antropóloga Juracilda Veiga. O estudo garante que no fim do século 19 e começo do século 20 fora registrada a presença de índios caingangues na região. O argumento é utilizado pelos indígenas para reivindicar a área.
Mas os agricultores garantem ter provas documentais de que a área nunca foi território indígena. Os proprietários dizem que as terras estão sendo repassadas de geração para geração desde muito antes do registro da chegada de índios. Um laudo antropológico encomendado pelos proprietários contradiz o estudo da antropóloga. O advogado Pedro Pavoni Neto deu entrada em uma ação na Justiça Federal para anular o laudo anterior, mas o pedido ainda não foi analisado.
Para o advogado, a antropóloga Juracilda Veiga não poderia ter feito o estudo porque, além de funcionária da Funai, ela também é reconhecida internacionalmente por atuar na defesa dos índios. "Então esse laudo não foi imparcial", sustenta.
Em seu laudo, a antropóloga diz que os índios que ali viviam no século 19 foram expulsos da região por grandes latifundiários, que grilaram as terras. Os produtores contestam a informação e garantem que depois que a área foi loteada, as propriedades nunca mais foram negociadas, passando de pai para filho há mais de cem anos.
O bairro Ribeirão Grande é formado por pequenas propriedades rurais onde os produtores mantêm atividades de agricultura familiar. Muitos desenvolvem culturas de subsistência, além de criarem pequenos rebanhos de cabras, porcos e carneiros.
A 18 quilômetros da região do Ribeirão Grande existe a reserva indígena Yvyporã/Laranjinha, onde vivem 200 índios da etnia nhandeva guarani. Segundo os produtores, a intenção do grupo que invadiu o sítio é unir as duas áreas.
Na área ocupada pelos indígenas, a maioria dos invasores é de brancos ou mestiços. São pouco mais de cem pessoas que vivem em casas de madeira, algumas equipadas com antenas parabólicas. A comunidade está divida em dois grupos, liderados por dois caciques. Os líderes não quiseram conversar com a reportagem, tampouco permitiram fotografias da aldeia.
No escritório regional da Funai em Londrina ninguém foi encontrado para comentar a situação de tensão entre os índios e os produtores rurais. A assistente social está em férias e o administrador-regional do órgão não retornou as ligações da reportagem.
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