Pais esperam filhos em frente à Escola Manoel Ribas: mais de 40% dos estudantes não foram à aula| Foto: Felippe Aníbal/ Agência de Notícias Gazeta do Povo
Vinte minutos antes do horário de saída, já era grande o movimento diante da escola
Polícia reforçou policiamento na Vila Torres

O assassinato de um jovem de 16 anos, ocorrido na madrugada de sábado (26), deflagrou novamente um clima de tensão e medo entre os moradores da Vila Torres, em Curitiba. De acordo com a polícia, a morte foi motivada por uma disputa de duas quadrilhas pelo controle de pontos de tráfico naquela área. A rixa provocou o reforço do policiamento e evasão na principal escola da região, onde mais de 40% dos alunos não foram à aula nesta segunda-feira (28).

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Diego Leal da Cruz Monteiro, o "Dieguinho", foi atacado a tiros por volta das 2h30 de sábado, instantes depois de ter saído de casa, na Rua Sérgio Dudek. Ele chegou a ser encaminhado ao Hospital Cajuru, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. De acordo com a Polícia Militar (PM), Dieguinho era suspeito de integrar uma das facções ligadas ao tráfico de drogas na Vila das Torres e, apesar da pouca idade, o rapaz estaria envolvido no gerenciamento de um dos pontos de venda de entorpecentes da quadrilha.

A PM afirma que o adolescente foi assassinado por integrantes do grupo rival, em função da disputa pela venda de drogas na área. Segundo o sargento Deyvid Junior Izidorio, do 12º Batalhão da PM, há pelo menos cinco anos duas quadrilhas mantêm constante confronto pela predominância no tráfico. Os grupos estão divididos geograficamente pela Rua Guabirotuba, que corta a Vila Torres no sentido Leste-Oeste. De cada lado da via, fica uma das quadrilhas. De acordo com moradores, nem mesmo as pessoas que moram em um dos lados podem transitar do outro.

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"É uma disputa quase que permanente. Se uma quadrilha mata um membro de outra, este grupo sempre se arma para dar o troco", disse o sargento, que desde 2007 atua no policiamento da área. "Sempre que tem uma morte, já começam os boatos de confronto e fica este clima que você está vendo", completou.

"Comemoração"

Em função da tensão, a PM se viu obrigada a reforçar o policiamento na Vila Torres ao longo desta segunda-feira. Pelo menos três viaturas permaneceram circulando na área, principalmente durante o velório. "Foi uma ação preventiva, para evitar que a outra facção tentasse um novo ataque", explicou o sargento Izidorio.

O corpo de Dieguinho foi velado na casa em que ele morava com a família. O clima de medo se intensificou por volta das 11h30, quando uma saraivada de fogos de artifício foi disparada e se estendeu por cerca de dez minutos. Segundo a PM, integrantes da facção rival soltaram os rojões para comemorar a morte de Dieguinho. Nova salva de fogos foi ouvida por volta das 14h30. Desta vez, há relatos de que, em seguida, um homem tenha passado disparando para o ar. Os tiros teriam sido deflagrados por uma arma curta – revólver ou pistola.

Por conta dos tiros, o sepultamento – que estava marcado para as 17 horas – foi adiantado e o cortejo partiu da casa da família por volta das 15h15. O corpo de Dieguinho foi enterrado no Cemitério de São José dos Pinhais, na região metropolitana.

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Evasão escolar

Por conta das informações que circulavam sobre um eventual acerto de contas entre os traficantes, mais de 40% dos alunos da Escola Estadual Manoel Ribas não compareceram à aula. Segundo a direção, pelo menos 150 dos cerca de 350 crianças e adolescentes matriculados na unidade faltaram nesta segunda-feira. O diretor do colégio, que pediu para não ser identificado, disse que recebeu ligações de mais de 30 pais de alunos perguntando sobre os boatos.

"Nós tentamos tranqüilizar os pais, com o argumento de que na escola os alunos estão mais seguros do que do lado de fora. A gente tenta minimizar essa tensão", disse.

Na saída das aulas, às 17 horas, era grande o movimento de familiares que foram à escola buscar os alunos. "Eles deviam soltar as crianças mais cedo hoje, por causa dessas ameaças", disse a mãe de uma estudante, que não quis se identificar. "Agora, é ir p’ra casa direto e ficar trancado", apontou a tia de outra aluna.

O pai de uma estudante disse que o receio não diz respeito à escola e que as pessoas estão evitando sair de casa. "Sempre é isso. Fica um grupo de um lado, outro grupo do outro, e os moradores, que são [pessoas] de bem, ficam no meio disso tudo", resumiu.

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A Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR) também adotou medidas de segurança em função das informações sobre um eventual confronto. Segundo a assessoria de imprensa, o portão 3 do campus, que fica na Rua Guabirotuba, ficou fechado das 15 às 17 horas. A universidade também determinou o reforço do corpo de segurança.

Ocorrências

Em 23 de novembro do ano passado, mais de 900 alunos ficaram sem aula, dois dias após a ocorrência de um tiroteio na Vila Torres, que deixou quatro feridos. Após os boatos de que haveria uma nova troca de tiros entre gangues rivais, a direção do Centro Municipal Infantil Vila Torres (CMEI) ligou para pais de alunos, solicitando que eles fossem buscar as crianças. Houve evasão na Escola Estadual Hidelbrando de Araújo e na Escola Manoel Ribas.

No início 2010, a disputa pelo tráfico motivou um triplo homicídio na Vila Torres. Na manhã de 15 de fevereiro, dois adolescentes – de 15 e 17 anos – e de um rapaz de 18 anos foram assassinados por quatro homens entraram atirando na casa em que as vítimas estavam. Segundo a polícia, o crime foi uma represália à morte de um menino de 11 anos.

Em novembro de 2009, um outro atentado: no dia 29, três adolescentes, com idades entre 11 e 15 anos, foram atingidos pelos disparos. Eles estavam em uma viela, quando três homens teriam chegado ao local e efetuado os disparos.

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