Brasília Menos de três meses depois do início do segundo mandato, as articulações políticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva produziram uma maioria parlamentar absoluta dentro do Congresso, mas deixaram um significativo rastro de insatisfações entre seus aliados. Nesse processo, Lula já contrariou em curto espaço de tempo parceiros de peso como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, a seção paulista do PT, o ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PC do B-SP) e a bancada ruralista, entre outros. Em todos os casos, o motivo da divergência foi sempre o mesmo: disputa por espaço político.
Lula tem motivos para esse comportamento. Na avaliação que fez de seu primeiro mandato, acha que abriu espaços demais dentro do governo para companheiros de PT ou para aliados antigos, mesmo que esses não tivessem competência técnica para exercerem funções importantes. Com isso, seu primeiro mandato acabou patinando, marcado pela letargia do crescimento econômico, com números medíocres.
Por conta disso, Lula decidiu tocar seu segundo mandato longe dessas interferências. Fez uma opção pela coalizão partidária com o PMDB por apostar que o aliado, dono das maiores bancadas da Câmara e do Senado e com o maior número de governadores, poderia lhe garantir uma hegemonia total dentro do Congresso. E, para executar esse plano, Lula não tem hesitado em contrariar antigos parceiros.
Para ter o PMDB inteiro a seu lado, o presidente cedeu cinco ministérios ao partido, enfrentando as queixas do PT, insatisfeito por não conseguir ampliar ainda mais seu espaço dentro do governo. Mas a grande queixa do PT foi a de não conseguir obter uma pasta nobre para Marta Suplicy, dentro da reforma ministerial. No processo de formação de sua equipe, nem mesmo a cessão de tanto espaço para o PMDB foi suficiente para garantir sossego ao presidente no relacionamento com o novo parceiro. Para fechar o acordo de coalizão partidária com os peemedebistas, Lula optou por apoiar a reeleição do presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), contrariando os interesses de dois de seus mais próximos amigos dentro da legenda: Nelson Jobim, que desejava comandar o partido, e Renan Calheiros, que apoiava essa candidatura.