Moradores da Rocinha continuam apreensivos, sem saber como se comportar numa comunidade ocupada pela polícia| Foto: Ricardo Moraes/Reuters

As denúncias de moradores têm ajudado a polícia a encontrar armas e drogas nas comunidades da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, ocupadas no domingo (13). Nos primeiros 14 dias de novembro, o Disque-Denúncia recebeu 673 telefonemas relacionados à Rocinha e ao Vidigal, número 30 vezes maior do que no mesmo período de 2010, quando foram recebidas 22 ligações. Apenas entre domingo e segunda-feira, foram 308 chamadas. Nas três semanas anteriores, a média de informações sobre a região durante um domingo ou segunda era de quatro ligações por dia.

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Com a ajuda das informações dos moradores, apenas nesta terça, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) apreenderam 26 fuzis, sendo 16 deles em uma casa na localidade conhecida como Roupa Suja, próximo à Rua 2. No mesmo local, os policiais encontraram uma metralhadora .30, duas espingardas calibre 12, duas pistolas, nove granadas e 123 carregadores de fuzil. Além disso, os policiais localizaram uma quantidade ainda não contabilizada de coletes à prova de bala, fardas camufladas, fogos de artifício e material específico para o comércio de drogas.

Segundo o tenente Tiago Matos, que coordenou a ação, os policiais se surpreenderam com a apreensão da metralhadora. "Essa arma tem um poder de fogo enorme. Poderia inclusive derrubar uma aeronave", exemplificou. Segundo a polícia, os militares chegaram até as armas através de denúncias.

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Até agora, 69 fuzis já foram apreendidos pelas polícias Civil e Militar em três dias de ocupação. Um dos fuzis encontrados nesta terça tinha um adesivo de coelho, em alusão ao traficante Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, chefe do tráfico no Morro de São Carlos preso na semana passada na Gávea e braço-direito do traficante Antonio Bonfim Lopes, o Nem. Mais cedo, os policiais já tinham encontrado 10 fuzis escondidos na laje de uma residência, também na localidade Roupa Suja.

Na tarde desta terça-feira (15), os policiais continuaram fazendo varreduras na comunidade. "Nós esperamos receber agora mais denúncias nesse dia a dia da população observando o que está acontecendo dentro da Rocinha. A polícia não conhece tão bem quanto os moradores o que está acontecendo lá. E é necessária essa informação", afirmou o coordenador do Disque-Denúncia, Zeca Borges, em entrevista ao RJ-TV. Pela manhã, o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, o comandante-geral da Polícia Militar, Erir Ribeiro, e a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha percorrem a Rua Presidente João Goulart, um dos principais acessos ao Vidigal, para ver de perto a ocupação.

Clima tenso

A madrugada de terça-feira (15) não parecia uma véspera de feriado na Favela da Rocinha, na Zona Sul. Os moradores continuam apreensivos, sem saber como se comportar numa comunidade agora ocupada pela polícia. A rua principal tinha movimentação de apenas três barracas de ambulantes e faltavam clientes. Um casal que jantava num restaurante japonês disse que, num dia de feriado normal, a rua principal estaria lotada. Os funcionários do restaurante começaram a recolher as mesas e cadeiras, e aguardavam apenas os últimos - e únicos - clientes irem embora para fechar.

Antes da 1h da manhã desta terça-feira, o estabelecimento já tinha baixado as portas. Um funcionário contou que, em feriados e no fim de semana, costumava fechar às 4h. Um baile que estava previsto na quadra da escola de samba Acadêmicos da Rocinha foi cancelado. "É estranho porque ainda estamos nos adaptando à ocupação. As pessoas não sabem como agir. O que sabemos é que, nas outras comunidades ocupadas, a polícia tinha proibido música alta e festas. Então ninguém sabe como se comportar", comentou a dançarina Ingrid Aparecida.

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Outro grupo de quatro amigos que tomava um suco na lanchonete aos pés da comunidade também dizia que a movimentação de pessoas estava muito fraca na rua. Segundo eles, em vésperas de feriados "ficava até difícil circular pela ladeira no começo da comunidade". O forró "no valão", que costumava acontecer às segundas, e todos os eventos foram cancelados na comunidade. Segundo um motoboy, que não quis se identificar, ninguém estava dando festa à noite, nem mesmo de aniversário. Pela manhã, por volta das 8h, pedestres caminhavam pelas vielas da comunidade. Os serviços de mototáxis e de vans funcionavam normalmente. Parte do comércio está de portas fechadas por conta do feriado.

Futuro

Na quarta-feira (16), a expectativa é que a Rocinha volte a receber os serviços que começaram a ser implantados na segunda, como coleta de lixo, iluminação, pavimentação e fornecimento de água. A Cedae decidiu substituir a antiga elevatória que abastece a comunidade, que tem mais de 30 anos e fica localizada no Morro Dois Irmãos, por outra mais moderna, com maior potência e eficiência.

Segundo a companhia, a nova elevatória, a maior em comunidades do Rio, terá capacidade para bombear cerca de 150 litros de água por segundo e vai beneficiar aproximadamente 100 mil moradores da região. Com a ocupação, o estado vai retomar a execução de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 1) que tinham sido paralisadas, como a construção de plano inclinado, creche, biblioteca e ações de urbanização.

De acordo com a Empresa de Obras Públicas (Emop), até agora já foram gastos R$ 277 milhões e, até dezembro de 2012, serão investidos mais R$ 51 milhões (sendo 60% da União e 40% do estado). Outro projeto importante que deve ser concluído em até três meses é o do parque ecológico. A Emop informa que o governo do estado ainda investirá R$ 5 milhões, de um total de 26 milhões. Somando-se o montante para a conclusão dessas obras a novas intervenções previstas no PAC 2, a comunidade deverá receber R$ 756 milhões até 2014.

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