“Hoje é o dia que vou sair do anonimato para entrar para a história. O dia que eu decido quem é e quem não é digno do dom da vida. Sacrifícios tiveram que ser feitos.Vocês mentiram e inventaram coisas sobre mim e está na hora de eu dar o troco... (sic).” A frase, com alguns erros gramaticais, foi escrita na carteira da escola usada pelo adolescente de 16 anos que é suspeito de assassinar a família em Marilândia do Sul, na região Norte do Paraná, na semana passada.
O recado não foi um alerta, mas uma confissão, porque o adolescente foi à escola na manhã seguinte aos crimes. A tragédia ocorreu às 20 horas da noite anterior, no sítio Santo Antônio, onde ele morava com os avós maternos, Antônio Geraldo da Silva, de 52 anos e Maria Helena da Silva, de 56 anos, além dos primos Jhemily Conerado, de 9 anos, e Jhonatan Conerado, de 11 anos. Todos foram mortos com um taco de beisebol revestido com pregos, um martelo e uma lâmina de serraria acoplada a um pedaço de madeira. Os golpes foram precisos. Todos na cabeça.
O CASO PESSEGHINI
A tragédia no Norte do Paraná lembra alguns aspectos do caso Pesseghini, em São Paulo. O laudo psicológico anexado ao inquérito concluiu que Marcelo Pesseghini, de 13 anos, teve um surto psicótico que o teria levado a matar os pais, a avó e uma tia-avó. No dia seguinte, foi à escola. Mas ao voltar para casa, teria cometido suicídio. Segundo a perita Vera Lúcia Lourenço, o estudante teve uma “alteração de pensamento” e passou a acreditar que era um “matador de aluguel” inspirado no jogo Assassin’s Creed.
No distrito de São José, familiares, amigos e o diretor do colégio onde o garoto estudava contam uma história de sofrimento mental, mas revelam surpresa. Desde os 11 anos o menino recebia tratamento psicológico e psiquiátrico. Era inteligente, calmo e tranquilo.
Mas há cerca de trinta dias, tornou-se irritado e arredio, após ser acusado por vizinhos de tentar envenenar o poço artesiano local. Negava a culpa e mostrava abatimento, lembra a prima Daniele da Costa.
“Eu acredito que a revolta dele não era dentro de casa. Era algo mais amplo. E o momento do surto foi o ponto do desabafo.”
No Colégio Estadual Padre Ângelo Casagrande, o diretor Ivonei Gomes da Silva diz que nunca teve problemas com ele. Estranhava que usasse sempre agasalho, mesmo sob forte calor. Fora isso, era um menino calado, educado e estudioso. Depois da acusação, entregou à professora de Artes um desenho em que entrava na escola e matava professores e colegas. Foi alertado de que a imagem não era adequada e que deveria fazer outra, e não questionou.
Menino andou pela cidade e relatou as mortes
No dia seguinte à chacina, o adolescente dirigiu o carro do avô para chegar ao colégio. No caminho passou por um bar e comentou o que havia feito na noite anterior. Ninguém acreditou.
Leia a matéria completaUma colega reportou ao diretor que o menino usava as palavras morte e sangue em praticamente todas as frases que formulava. Além disso, se dizia adorador e grande conhecedor da ideologia nazista. De acordo com Silva, os avós foram chamados à escola e alertados sobre o ocorrido. “Eles disseram que iam conversar com ele, o que de fato foi feito. Os dois acompanhavam tudo de perto, eram muito presentes.”
Tudo era repassado aos policiais da Patrulha Escolar. “Ele é um menino sossegado, mas tem o olhar frio. O silêncio camuflava o que de fato acontecia dentro dele”, diz o cabo da PM Luiz Fernando, que por diversas vezes tentou conversar com o adolescente sobre os acontecimentos. “Ele falava pouco, mas com muita lucidez.”
Em casa, a polícia encontrou jogos de computador e o taco de beisebol.
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