O volume de dívidas das Santas Casas e hospitais filantrópicos de todo o Brasil deu um grande salto em uma década. Em 2005, o déficit financeiro do setor era de R$ 1,5 bilhão e passou para R$ 21 bilhões no fim do ano passado. A situação compromete o atendimento aos usuários e coloca as 2,1 mil instituições em estado de alerta. O risco de serviços serem interrompidos e leitos fechados é real. Em um pior cenário, alguns desses hospitais podem fechar as portas durante este ano.
Segundo a Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, o volume das dívidas aumentou perto de R$ 6 bilhões em um intervalo de um ano. Apenas em 2015, a entidade aponta que, em todo país, 218 hospitais sem fins lucrativos, 11 mil leitos e 39 mil postos de trabalho foram fechados.
No Paraná, o sinal amarelo também está ligado. O Hospital Bom Jesus, de Toledo, protocolou recentemente um pedido para fechar 10 leitos de UTI alegando falta de recursos. A Santa Casa de Curitiba está fazendo um levantamento e pode fechar leitos durante o primeiro semestre deste ano.
Pela primeira vez, a Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná (Femipa) conseguiu mapear o volume de dívidas das instituições no estado. De um total de 59 afiliados à entidade, 38 instituições somam cerca de R$ 1 bilhão em dívidas.
Causa
A principal queixa apontada pelas entidades para explicar a realidade financeira das Santas Casas e demais hospitais filantrópicos recai, mais uma vez, na defasagem existente no pagamento do Sistema Único de Saúde (SUS) aos serviços prestados.
Segundo o presidente da Femipa, Luiz Soares Koury, o valor repassado pelo Ministério da Saúde corresponde a cerca de 65% do valor gasto em um serviço. “Para cada R$ 100, os hospitais recebem R$ 65, em média. A desatualização da tabela de pagamento do SUS é algo que afeta diretamente a gente”, diz. Para tentar manter dinheiro em caixa, as entidades recorrem a financiamentos e a empréstimos bancários.
“Cria-se uma bolha de dívidas, com a cobrança de juros, que faz com que a situação comprometa o atendimento e o funcionamento dos hospitais. Há uma ameaça generalizada no setor”, afirma Koury. No estado, a maior parte das dívidas refere-se exatamente a empréstimos bancários (R$ 319 milhões).
O diretor executivo do Hospital Nossa Senhora das Graças, de Curitiba, Flaviano Feu Ventorim, vê como grande as chances de fechamento de leitos neste ano. “Todos os custos cresceram e o repasse está desatualizado há mais de uma década. Os hospitais trabalham de forma deficitária e, com isso, o risco iminente de fechar leitos e reduzir o número de profissionais é grande, o que comprometerá o atendimento à sociedade”, diz.