Há muito a se comemorar com a passagem da CPI Nacional do Narcotráfico pelo estado nesses dez anos, mesmo sem prender, processar ou condenar a maioria dos traficantes, sem conseguir purificar a polícia como um todo, sem diminuir o consumo de drogas ilícitas e sem conter as chacinas promovidas pelo narcotráfico.
Se por um lado a sensação de impunidade paira no ar, alguns efeitos pós-CPI são animadores, como as políticas públicas adotadas nos últimos anos para combater o narcotráfico: são bons exemplos a nova Lei Antidrogas, que olha o usuário como doente e tem como alvo o tráfico e seus tentáculos, e as penitenciárias federais de segurança máxima feitas para isolar os chefões do tráfico de drogas.
Aqui no Paraná muito se cobra do frisson causado pela passagem da CPI do Narcotráfico, com o anúncio que o crime organizado tinha laços com a Polícia Civil leia-se narcotráfico, furto, roubo e desmanche de veículos, prostituição e jogos de azar, entre outros , fato que não foi provado à risca.
Por isso, parece que tudo ficou meio na conversa, embora o Ministério Público tenha feito a sua parte, com a oferta de 26 denúncias (pedidos de abertura de ações penais), porque há notícias de poucas condenações.
Já os delegados, policiais e empresários colocados na berlinda como suspeitos de crimes, a maioria se safou, ou, melhor, foi absolvida pela Justiça, e quase "tudo continua como dantes no quartel de Abrantes".
Dos fatos noticiados no período, alguns dificilmente serão esquecidos pelos paranaenses: o assassinato do deputado estadual Tiago Amorim Novaes, um dos integrantes da CPI Estadual do Narcotráfico; a execução da traficante Evinha do Pó, na Vila Nossa Senhora da Luz, que havia colaborado com a CPI Estadual; a ida para a penitenciária dos donos de lojas de peças usadas de veículos Joarez França Costa, o Caboclinho, e Paulo Mandelli; a prisão do ex-policial Samir Skandar; a prisão do empresário Hissam Hussein Dehaini numa sessão da CPI Estadual do Narcotráfico.
Na verdade, nem todos os presos e acusados foram condenados, porque o início de um processo não é certeza de culpa, aliás, pode ser a oportunidade de se provar inocência, contudo a Polícia Civil passou por mudanças e melhorou a sua imagem perante a população. Por outro lado, o consumo de drogas explodiu nos últimos dez anos, com a escalada do número de homicídios em Curitiba, na região metropolitana e em grandes cidades do estado.
A CPI do Narcotráfico passou como um tsunami pelo Paraná no ano 2000, quando a cocaína era a droga mais perigosa. Hoje, dez anos após, o crack se tornou uma epidemia que contamina a sociedade, fácil de comprar como banana na feira, algo que preocupa muito a todos.
*João Natal Bertotti é jornalista, advogado e especialista em Ciência Política. Foi repórter da Gazeta do Povo entre os anos 2000 e 2009, atuando na equipe de cobertura das CPIs.