“Obstáculos são essas coisas assustadoras que você vê quando tira os olhos do seu objetivo”. A frase, atribuída ao industrial norte-americano Henry Ford (1863-1947), define bem a trajetória da engenheira ambiental Noemi Vergopolan Rocha. Recentemente, a curitibana de 24 anos recebeu convites para fazer pós-graduação, com bolsa de estudos integral, em seis universidades de renome mundial – três na Europa e três nos EUA. Escolheu cursar doutorado em Engenharia Civil e Ambiental (com foco em recursos hídricos) em Princeton, uma das oito instituições da elite científica norte-americana.
Aluna de escola pública e oriunda de uma família com poucos recursos financeiros, Noemi é um bom exemplo de como é possível romper a barreira perversa que existe no ensino público do Brasil, capaz de desperdiçar rotineiramente talentos com perfil semelhante ao da jovem curitibana. Ford, o inventor da linha de produção, estava certo: era preciso ter foco. “Sempre procurei fazer diferente para fazer a diferença, fosse um desenho na escola ou um projeto de graduação. Gosto de sonhar alto, mas faço sempre o que puder para realizar”, sentencia a jovem de postura decidida e respostas prontas.
Um “empurrãozinho”, no entanto, era necessário. O bom desempenho escolar de Noemi desde o ensino fundamental chamou a atenção dos organizadores do Programa Bom Aluno – iniciativa que apoia estudantes de baixa renda do ensino público. Abraçada pelo projeto desde a 6.ª série, a jovem aprendeu a falar inglês, teve reforço de Português e Matemática, conheceu metodologias de estudo e de como organizar a própria vida acadêmica. Tudo de graça, no contraturno escolar.
Na mesma época em que entrou para o Bom Aluno, o pai de Noemi havia perdido o emprego. “‘Agora é com a gente’, pensamos eu e minha irmã”. O ano era 2004. Com dedicação e focada em seus objetivos, ela concluiu os ensinos fundamental e médio na escola pública. Depois, cursou Engenharia Ambiental na UFPR, onde formou-se no fim de 2013. Um ano e meio antes, havia descolado um intercâmbio nos EUA através do programa Ciência sem Fronteiras. Por lá, conseguiu um estágio na Nasa, onde pesquisou no setor de mudanças climáticas o impacto do desmatamento no ciclo hidrológico da Amazônia.
Apoio
O pai e a mãe de Noemi – ele trabalha com reformas e ela atua com aconselhamento pessoal na Igreja – sempre a estimularam nos estudos, e cobraram boas notas. “Nunca tivemos muitas condições [financeiras], mas meu pai sempre falava: ‘Não posso te dar muita coisa, a não ser o estudo’”. O desempenho da mais velha, inclusive, estimulou o casal a concluir o ensino médio.
Em agosto, Noemi desembarca em Princeton, onde vai morar e estudar pelos próximos cinco anos, até sair de lá com o diploma de PhD. “Pretendo voltar. Aqui é meu país, minha terra. E minha família está aqui. Mas não me limito, tem que dar um passo de cada vez”, pondera. Orgulhosos, os pais e a irmã caçula se preparam para lidar com a saudade. “Estão tristes por eu não estar mais com eles, mas felizes pela minha oportunidade.”