Foz do Iguaçu – Ciudad del Este, no Paraguai, revela cenas da realidade que passam praticamente despercebidas aos olhos dos brasileiros que vão à cidade apenas para comprar e vender mercadorias. Em pleno coração da cidade, uma comunidade de índios Maká luta para viver distante da terra de origem e superar os revezes do mundo contemporâneo.

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A busca pela sobrevivência obrigou os makás a deixar a imensidão do Chaco paraguaio, região pantanosa situada a 700 quilômetros da fronteira com Foz do Iguaçu, para se adaptar à realidade urbana. Hoje, eles vivem em uma favela situada a 50 metros do burburinho comercial de Ciudad del Este, na fronteira com Foz do Iguaçu.

Acostumados à vida em grupo, os índios não têm dificuldade de manter o espírito comunitário, mesmo diante da necessidade. Discretos, não gostam de exaltar os próprios problemas. Mas basta fazer uma visita à comunidade indígena urbana para constatar as precárias condições de vida. São 54 famílias morando em 25 barracos de madeira e usando banheiros comunitários. Por falta de espaço, os índios dormem no chão e duas famílias acabam ocupando uma mesma casa.

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"Faltam medicamentos para as crianças. Também precisamos de roupas usadas, sapatos, arroz e feijão", diz Emílio Torres, 49 anos, um dos moradores da comunidade. Torres deixou Assunção há oito meses na esperança de lucrar com o aumento da movimentação de turistas na tríplice fronteira em julho, mês de férias, e acabou sendo surpreendido pela queda acentuada de compristas, após a intensificação da fiscalização na fronteira entre o Paraguai e o Brasil.

A renda dele e de praticamente todos os makás é obtida com a venda de artesanato para turistas brasileiros e argentinos, em Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú. Exímios artesãos, os índios fazem bolsas e mochilas com fios de algodão, além de pulseiras e colares.

Rotina

A luta pela sobrevivência começa cedo. Logo pela manhã, os makás saem em grupos para ir aos pontos freqüentados por turistas. Eles vendem a produção artesanal dentro do Parque Nacional da Argentina e na frente de uma churrascaria, em Foz do Iguaçu. Em Foz, os índios são proibidos de comercializarem os objetos dentro do Parque Nacional.

Torres diz que a comunidade maká gostaria de desempenhar outras atividades, além do artesanato. Mas a falta de capacitação profissional acaba criando uma barreira para os índios atuarem em outros setores.

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Diante de tantas dificuldades, os mais velhos são os primeiros a manifestar a vontade de voltar às origens. O líder da comunidade, Acho Flores, 65 anos, é um dos makás que gostariam de viver no Chaco em contato direto com a natureza, a exemplo do que faziam os ancestrais. A maioria foi obrigada a deixar a mata a partir da proibição da caça.

Segundo o indigenista Amarila Barreto, o povo maká está entre os maiores guerreiros indígenas do Paraguai. Considerados grandes caçadores, hoje alguns ainda vivem no Chaco. Boa parte está em uma comunidade situada no município de Mariano Roque Alonso, próximo a Assunção. Para Barreto, a situação dos makás é reflexo de uma degradação cultural. "A cultura do branco entrou no meio dos índios e eles se obrigam a viver desse jeito", ressalta.