A Secretaria de Estado da Saúde criará seis Organizações de Procura de Órgãos e Tecidos (OPOs) no Paraná: uma em Curitiba, outra na região metropolitana e quatro no interior do estado. O objetivo das OPOs é servir de ponte entre as comissões internas dos hospitais e a Central de Transplantes, ajudando na identificação de possíveis doadores, na abordagem das famílias e na manutenção desses doadores até o transplante. Disparidades entre essas etapas seriam responsáveis pela demora. No Paraná, 3.852 pessoas estão na lista de espera por um órgão, das quais 2.956 ativas, ou seja, aptas para o transplante.
As OPOS devem ser instaladas em até três meses. "Estimo que os potenciais doadores sejam quase três vezes o que conseguimos captar hoje. E desses doadores captados, apenas metade se reverte em transplantes efetivos", exemplifica o secretário estadual de Saúde, Carlos Augusto Moreira Junior.
A distribuição das OPOs é baseada na proporção de uma unidade para cada 2 milhões de habitantes, estabelecida pelo Plano Nacional de Implantação de OPOs, lançado em outubro pelo Ministério da Saúde, por meio da Portaria 2.601. O plano tem base na experiência positiva do estado de São Paulo, onde hoje funcionam 10 organizações. "O Paraná, com uma população de mais 10 milhões, teria direito a cinco OPOs, mas nossos técnicos conseguiram negociar uma sexta unidade na região metropolitana de Curitiba", diz Moreira Junior.
Enquanto em Curitiba o escolhido é o Hospital do Trabalhador, por receber muitos pacientes de trauma e possíveis doadores, na região metropolitana o principal candidato é o Angelina Caron, pelo atendimento emergencial prestado e também pela excelência na área de transplantes. Nas cidades de Londrina, Cascavel, Maringá e Ponta Grossa foram definidos os hospitais universitários.
Como funciona
Cada OPO receberá R$ 20 mil para a implantação e, mais tarde, um custeio mensal de R$ 20 mil, oriundos do Fundo Nacional de Saúde. O dinheiro seria suficiente para bancar uma estrutura de uma sala e computadores para uma pequena equipe, formada no Paraná por dois administradores, três enfermeiras, um coordenador médico e, talvez, um psicólogo. "O interessante é que, ao menos, uma das enfermeiras seja intensivista para que possa auxiliar na manutenção dos doadores identificados nos hospitais, uma das nossas grandes dificuldades", ressalta o secretário.
A partir do segundo ano de funcionamento, as OPOs só receberão os recursos mediante o cumprimento de metas. "A equipe fará uma busca ativa nos hospitais, com pelo menos dois contatos por dia, para identificar os possíveis doadores, ajudando também no que for preciso para a confirmação do diagnóstico."
Na semana que vem, duas pessoas da Central de Transplantes do Paraná irão a São Paulo para saber como funciona a coordenação das OPOs. Só então o Paraná deve fechar sua proposta, com a definição de metas quantitativas e qualitativas para as organizações, e enviá-la ao Ministério da Saúde. Até agora apenas os estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco e Acre mandaram proposta.
Desde maio de 2009, além das OPOs, o estado de São Paulo está investindo em coordenadores intra-hospitalares ligados a essas unidades nas principais instituições do estado. "Com isso triplicamos o número de doadores em três meses. São Paulo tem o hoje o maior número de doadores do Brasil: 700", diz o diretor técnico de Divisão de Saúde e coordenador da OPO da Santa Casa da capital paulista, Reginaldo Carlos Boni. Ele explica que a presença desses coordenadores nos principais hospitais estaduais ajuda a descentralizar mais ainda o trabalho de procura de órgãos, o que dinamiza todo o processo.
Não a particulares
Recentemente, junto com o início do Serviço de Transplante de Fígado, o Hospital São Vicente, administrado pela Fundação de Estudos das Doenças do Fígado (Funef), enviou um pedido à Secretaria de Estado da Saúde para ser a primeira OPO do Paraná. Embora pela Portaria do Ministério da Saúde não haja qualquer impedimento para a instalação de uma unidade em um hospital particular, a Sesa refuta a ideia e adianta que o pedido será negado. "Preferimos instalar (as OPOs) em hospitais públicos ou, ao menos, que possuam um relevante atendimento emergencial de pacientes de trauma e possíveis doadores, como o Angelina Caron", afirma Moreira Junior.