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Foram 17 mil doações de sangue a menos no ano passado no Paraná, se comparado ao que foi coletado em 2011. Mas não está faltando sangue para procedimentos médicos. Por uma série de fatores, que incluem a evolução da medicina na área de cirurgias e do tratamento de doenças, o sistema de doações precisou ficar mais inteligente. Na medida em que a demanda por sangue está menos sujeita a picos e situações pontuais, a coleta também precisa ser feita cada vez mais de forma organizada e planejada.

O sangue tem validade. Sendo assim, não adianta recolher uma grande quantidade e armazenar para os momentos de necessidade. Alguns componentes podem ser usados, no máximo, cinco dias após a doação. O estoque deve ser renovado constantemente, para todos os tipos sanguíneos. E é por isso que os bancos de sangue buscam doadores que se comprometam a comparecer de tempos em tempos, preferencialmente com agendamento de data e horário, para garantir a regularidade da oferta.

Josué Teixeira/Gazeta do Povo

“Precisa ser um sistema muito organizado, para não faltar nem sobrar”, comenta o diretor-geral do Hemepar, Paulo Roberto Hatschbach. Ele explica que são cada vez menos comum as chamadas coletas por demanda, quando os amigos e parentes de uma pessoa internada para um procedimento cirúrgico ou tratamento de doença precisam organizar uma grande corrente de doações para repor o que foi usado. Mas isso ainda acontece em bancos de sangue de hospitais que não são públicos ou quando os estoques estão pontualmente baixos. Hatschbach conta também que algumas cirurgias até bem pouco tempo atrás precisavam usar de 6 a 10 bolsas de sangue hoje não usam nenhuma.

Das pessoas que chegam ao banco de sangue dispostas a doar, 20% acabam nem fazendo a coleta (tem algum problema identificado na triagem, como comportamento de risco ou uma simples gripe). Outro tanto de doações é descartado depois dos exames (que apontam, por exemplo, hepatites). O doador regular economiza tempo e dinheiro para o sistema – o sangue tem mais chances de ser aproveitado. A estimativa do Hemepar é de que 60% dos doadores são fidelizados no Paraná, com no mínimo duas doações por ano.

Números máximos

Um australiano, com mais de 187 doações de sangue, é considerado o recordista mundial. No Brasil, um gaúcho, com mais de uma centena de colaborações, é apontado como o “líder do ranking”.

Saída solidária

Como ainda não é possível produzir sangue sintético, as pessoas dependem umas das outras. “A população é solidária, mas se esquece de doar. Por isso, precisamos sempre estar relembrando a necessidade”, diz Paulo Roberto Hatschbach, diretor do Hemepar.

“Recordista” do Paraná nunca precisou de doação

Não dá para cravar, mas Gilson Félix da Costa até pode ser o recordista no Paraná em quantidade de doações de sangue. É que quando ele começou a doar, lá em 1988, os registros eram feitos no papel – e muitos desses arquivos se perderam ou não foram digitalizados pelos sistemas de controle. Nesses 27 anos, Gilson calcula que já fez mais de 80 doações – foram pelo menos duas por ano, sendo que em alguns chegaram a quatro.

Tudo começou quando ele morava em Telêmaco Borba, nos Campos Gerais. Trabalhava no mesmo prédio do banco de sangue. Decidiu doar e não parou mais. Quando se mudou para Ponta Grossa, levou o hábito junto. Volta e meia arrasta amigos. Fez a esposa e o filho tornarem-se também doadores regulares.

Muitas vezes Gilson recebe apelo de amigos com parentes internados que precisam de sangue. Mas nem ele ou alguém da própria família já precisou de doação. Ele é do tipo sanguíneo O negativo, chamado de doador universal porque é compatível com todos os demais. “Fico triste quando chego no banco e não tem ninguém nas outras cadeiras. Penso que podiam estar todas ocupadas”, afirma. Sem saber quantas pessoas ajudou, diz apenas que é gratificante imaginar que está colaborando.

Gilson comenta os benefícios da doação. Além de ajudar alguém, você faz uma bateria de exames gratuitos. Se tiver qualquer alteração, o sangue já é descartado. Ele conta que também é bem rápido e praticamente indolor. “A retirada parece um exame e leva 10 minutos. O processo de triagem demora um pouco mais de tempo, mas é muito necessário”, comenta. No máximo, sente fraqueza no dia da doação, mas aí aproveita o dia de folga no trabalho a que tem direito. “Não atrapalha a minha vida e o sangue se renova rapidinho”, diz.

Aos 49 anos, o funcionário público federal – trabalha no INSS – pretende continuar indo ao banco enquanto tiver saúde e pelos próximos 19 anos, quando chegará à idade limite para fazer o procedimento. Vai que até lá estendam o prazo... Não é impossível de acontecer. Recentemente, a idade máxima para doar era 60 anos, depois 65, até chegar agora aos 68 anos. “Sou doador de medula também. Mas ainda não tive a alegria de o telefone tocar dizendo que sou compatível com alguém”, conta Gilson, esperançoso de poder ajudar a salvar a vida de mais pessoas. (KB)

Sou doador de medula também. Mas ainda não tive a alegria de o telefone tocar dizendo que sou compatível com alguém.

Gilson Félix da Costa, doador de sangue há 27 anos.
Antônio More/Gazeta do Povo

O médico que decidiu fazer mais do que tratar doenças

Com apenas 36 anos, o médico do trabalho Anísio Calasans consta nos registros do Hemepar com o maior número de doações de sangue no estado: 59. Isso porque ele faz uma doação diferente e vai mensalmente ao banco de sangue. Há dois anos o médico se submete à aférese, que é a retirada de plaquetas – componente sanguíneo responsável pela coagulação do sangue.

Calasans começou a doar sangue ainda na década de 1990, quando cursava medicina na Universidade Federal do Paraná. Aprendeu, nas aulas, que era importante. Depois, quando trabalhou no Exército, as doações passaram a ser com data marcada. Atualmente trabalha na Copel, em Curitiba. Chegou a ser barrado no Hemepar porque já havia feito quatro doações no ano. Nem ele nem ninguém da família precisou de doação de sangue. O médico gosta de pensar nas pessoas que está ajudando.

Como marcava presença com tanta regularidade, foi convidado pelo Hemepar a fazer as doações por aférese. Ele e mais 70 pessoas são doadores constantes de plaqueta no Paraná (e quem passa pelo procedimento não pode fazer a coleta tradicional de sangue). Calasans destina o horário do almoço uma vez por mês para ficar conectado a uma máquina por duas horas. “É a minha prática de voluntariado. Não atrapalha minha vida. Eu me programo para isso”, afirma. Em alguns meses, consegue convencer parentes a doar também. “Cada pessoa podia fazer uma doação por ano”, pondera.

O diretor-geral do Hemepar, Paulo Roberto Hatschbach, enfatiza que é preciso sensibilizar a população para a necessidade da doação. E ressalta os valores daqueles que se propõem a ir periodicamente ao banco de sangue. “São pessoas que têm amor ao próximo, que se preocupam com alguém que nem conhecem”, reforça. Hatschbach salienta que não houve falta de sangue no Paraná nos primeiros três meses de 2015, mas destaca que alguns fatores, como a raridade de tipos sanguíneos – o AB negativo é encontrado apenas em meio por cento dos casos – fazem o sistema ficar em constante vigilância para que algo que pode salvar vidas não esteja em falta no momento de necessidade. (KB)

É a minha prática de voluntariado. Não atrapalha minha vida. Eu me programo para isso.

Anísio Calasans, doador de sangue, que fica ligado a uma máquina por duas horas, uma vez por mês, para a retirada de plaquetas.
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