A principal fonte de arrecadação do Grupo de Apoio a Pessoas com Câncer (GAPC), uma das entidades que teriam sido usadas para o desvio de pelo menos R$ 30 milhões somente no ano passado, vinha dos pedidos feitos por telefone. Segundo o delegado Marcus Vinícius Michelotto, da Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas, a quadrilha chegou a abrir uma empresa de telemarketing chamada Rinedi, coordenada por um diretor de outra entidade, a Associação Brasileira de Assistência a Pessoas com Câncer (Abrapec), em Joinville (SC).

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A advogada Renata Célia Souza Lopes ainda guarda os recibos da entidade. Ela contribuiu com R$ 10 mensais, entre maio e novembro do ano passado. "Eles iam buscar de moto. Uma tarde esqueci de deixar o dinheiro e eles ligaram cobrando. No outro dia, perguntaram se eu não podia contribuir todo mês", revelou. "Quando chegou novembro, telefonaram para perguntar se eu não podia contribuir com mais, pelo fato de estar perto do Natal. Eles disseram que havia muitas crianças que precisavam de leite em pó e de um remédio importado." Depois disso, a advogada pediu para que tirassem seu nome da lista. "Mas ligaram novamente, em junho deste ano", disse.

A professora aposentada Terezinha Oliveira Erthal, 63 anos, disse que até janeiro deste ano recebia ligações semanais do GAPC. "Perguntavam se eu não podia contribuir para comprar remédios para pessoas com câncer", lembra. "Isso sensibiliza. Mas eu já contribuía com outras entidades e disse que iria até a sede deles para ver como era o trabalho."

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Vazio

O GAPC tem três sedes em Curitiba. Todas estavam fechadas ontem à tarde. A sede central fica no número 585 da Rua Antônio Meirelles Sobrinho, no bairro Cajuru. As outras duas ficam nas ruas Senador Salgado Filho e José Carvalho de Oliveira, no Uberaba. Na sede da Salgado Filho, no número 2.886, um pequeno prédio de escritórios, vizinhos informaram que o imóvel é utilizado apenas pelas atendentes de telemarketing. As duas salas da entidade estavam trancadas e uma delas tinha a fechadura danificada. "Ficavam o dia inteiro trancados aí dentro, era um entra e sai", comentou um vizinho.

A duas quadras dali, em uma casa no número 421 da Rua José Carvalho de Oliveira, havia apenas uma faixa com a inscrição "Templo Espiritual Maria Santíssima", que anunciava a realização de bazares beneficentes às terças e sextas-feiras. Ao ver a reportagem, um homem chaveou o portão, disse que não poderia comentar o assunto e fechou as janelas da casa. Vizinhos informaram que há cerca de um mês o local estava vazio.

Já na sede principal, uma casa com muros altos na Rua Antônio Meirelles Sobrinho, uma pessoa aguardava do lado de fora. A dona de casa Tereza da Luz Silva, 64 anos, disse que recebeu ajuda da entidade quando descobriu que sofria de um tumor não maligno. "Quatro vezes eles me deram remédio", revelou. "Dão cestas básicas e toda quarta-feira dão uma cesta com verduras. No fim do mês, distribuem caixas de leite. Até roupa para os necessitados eles dão aqui", disse. Dona Tereza ficou surpresa ao saber que os principais responsáveis pelo GPAC estavam presos. "Tem até fisioterapeuta que ajuda quem está doente. Venho aqui há quase um ano e nunca vi nada de mal", lamentou.

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