São Paulo - O Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença de Chagas, sobrevive na polpa do açaí mal higienizado, mesmo que o produto seja congelado a -20°C. Somente a correta pasteurização tratamento térmico que envolve aquecimento e rápido resfriamento , que ainda não é obrigatória no Brasil, consegue eliminar o micro-organismo. Os dados são de pesquisa concluída recentemente, liderada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os autores do trabalho, realizado a pedido do Ministério da Saúde, destacam que higienizar corretamente os frutos ainda é o método mais importante de prevenção.
O açaí industrializado, consumido nas grandes cidades, passa em teoria pelos processos de higienização, dizem os cientistas, e deve ser registrado no Ministério da Agricultura. A pasta informou que, apesar de a legislação nacional ainda não exigir a pasteurização, visitas de fiscais às fábricas têm demonstrado que a maioria das empresas tem máquinas para realizá-la, em razão de exigência do mercado externo.
Por causa disso, informou ainda o ministério, o órgão "avalia a possibilidade de desenvolver estudos sobre metodologias de pasteurização" para a polpa de açaí. A pasteurização vinha sendo defendida pelo Ministério da Saúde desde meados da década passada. A reportagem não conseguiu localizar representantes dos produtores de açaí.
Pioneirismo
Segundo destaca Luiz Augusto Passos, do Centro Multidisciplinar para a Investigação Biológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o estudo, publicado na revista Advances in Food and Nutrition Research, é o primeiro a comprovar efetivamente que a polpa do fruto pode transmitir a doença de Chagas, apesar das suspeitas. "Não havia dado que mostrasse que essa via era factível", disse o cientista, que trabalhou ao lado de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade de São Paulo.
A doença de Chagas é uma doença infecciosa febril causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Pode ser adquirida por meio do contato direto com as fezes do inseto barbeiro e causa problemas cardíacos e digestivos. No caso da transmissão oral, em razão da higiene inadequada, fezes ou o próprio inseto são processados junto com a polpa e ingeridos pela população.
Só no ano passado, o Brasil registrou 226 casos da doença, a maioria deles no Pará e, calcula-se, 80% ligados ao consumo de alimentos, principalmente o açaí.
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