Vídeo| Foto: RPC TV

Tucanambá José Paraná, 61 anos, é um mediador. É assim desde que ele foi encontrado por indigenistas e agricultores brancos catando frutas no alto de uma árvore, em meados da década de 50, na Serra dos Dourados, na região de Umuarama. Tuca é um xetá, povo indígena com características próprias que habitou o Noroeste paranaense até metade do século 20. A colonização na região foi fatal para os xetás. Tuca, criado por brancos, funcionou como intérprete e elo entre os xetás que continuavam no mato. Junto a expedições de indigenistas, tentou ajudar os parentes que permaneciam na Serra dos Dourados. As doenças trazidas pelos brancos, a violência na ocupação das terras e o choque cultural impediram o êxito da empreitada. "Não consegui poupar minha gente", disse Tuca, em entrevista publicada pela Gazeta em março de 2005.

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Os poucos remanescentes xetás se dispersaram, mas não abandonaram o projeto de voltar a viver juntos. Um projeto de reagrupamento do povo xetá repousa nos arquivos da Funai desde 2005. Até terça-feira da semana passada, Tuca funcionava como a principal liderança xetá na luta por sua terra. Um derrame cerebral, porém, levou Tuca para o Hospital Evangélico, em Curitiba. Segundo informações médicas, o estado de Tuca é muito grave e ele corre risco de morte.

Há cerca de um ano, Tikuein Xetá, primo de Tuca, morreu no município de São Jerônimo da Serra, perto de Londrina. Tikuein, Tuca e o primo Kuen eram os únicos entre os então oito remanescentes xetás que dominavam com precisão o idioma. "A situação de saúde do Kuein também é muito ruim, ele está numa idade avançada. Por isso esse problema com o Tuca é muito ruim para os xetás, já que o Tuca era figura de liderança que eles tinham", diz o assessor especial para asssuntos indígenas do governo estado e amigo pessoal de Tuca, Edívio Batistelli.

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Para ele, a impossibilidade do reagrupamento xetá está se tornando uma verdade, reflexo do desmonte ao qual teria sido submetido a Funai. "A estrutura institucional da Funai vem sendo desmontada desde 1992. Faltam técnicos, recursos, capacidade de ação. A proposta de compra para a terra xetá está lá desde 2005 e até agora nada ocorreu."

Tuca veio a Curitiba visitar as duas filhas que vivem na reserva ecológica do Cambuí, na divisa entre Curitiba e São José dos Pinhais. Ele mora na reserva indígena Rio das Pedras, em Nova Laranjeiras, ao lado do primo Kuein.