“Doença grave” tem solução

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O avanço do mar em Matinhos tem criado uma situação semelhante à ocorrida na praia de Piçarras, em Santa Catarina, na década passada: a faixa de areia diminui a cada dia e as calçadas são tragadas pelo mar. A solução é a mesma utilizada no estado vizinho: coleta de areia e "engordamento" da praia. Quem garante é o engenheiro Ivo Álvaro Fleith, idealizador da recuperação da orla em Piçarras e secretário municipal de Obras na época.

Fleith compara o problema a uma doença grave, que afeta a economia e pode levar à morte do balneário. "É como um câncer. Ou você finge que não tem nada ou trata", afirma. O "tratamento" aplicado em Piçarras foi radical: a obra teve um custo de US$ 3 milhões – o município ainda não quitou a dívida. Mesmo assim, abriu uma nova licitação, já que o mar continua avançando: depois da obra, a faixa de areia ficou com cem metros de extensão. Hoje, restam em média 45 metros.

"É a melhor forma de recuperação, sem agredir a praia", diz Fleith, que também cita as técnicas que utilizam pedras (como foi tentado em Caiobá), espigões e recifes submersos para segurar o mar. "Essas técnicas dependem do comportamento das correntes. Se forem correntes laterais, não se consegue o efeito desejado."

O primeiro passo em Piçarras foi realizar um estudo para encontrar um depósito de areia compatível com o da praia. A jazida foi encontrada a 15 quilômetros da costa. Durante 30 dias, uma draga com capacidade para movimentar 7,5 mil metros cúbicos de areia por ciclo trabalhou ininterruptamente. Na praia, a areia foi assentada por tratores. Em 60 dias de trabalho, o que era praticamente um porto voltou a ser uma praia.

Ao comentar o problema de Matinhos, Ivo Fleith sentencia: "É a mesma coisa. É só pegar a areia daqueles bancos em Guaratuba e colocá-la lá." Ele não concorda com a utilização da areia do Canal da Galheta, na entrada da Baía de Paranaguá, como prevê o projeto do governo do estado. "Tínhamos projeto semelhante, de utilizar areia retirada do Porto de Itajaí. Mas a distância inviabilizou." A distância entre Matinhos e Paranaguá é pelo menos o dobro de Piçarras a Itajaí.

Para o atual secretário de Obras de Piçarras, Climárcio Lopes de Araújo, Piçarras "teria fechado para balanço" se não fosse o trabalho de recuperação. "A queda do mercado imobiliário chegou a 60% na época."

Piçarras também tem boas lições em relação à balneabilidade. A prefeitura concluiu um trabalho de desvio das águas pluviais, que não têm mais o mar como destino. "As águas vão para o Rio Piçarras", afirma o secretário Climárcio de Araújo. O trabalho também ajuda a combater a erosão na orla. Outra ação no combate ao despejo de esgoto no mar foi a criação de uma lei municipal que obriga prédios a terem miniestações de tratamento. Depois de tratado, o esgoto pode ser jogado em rios ou no mar.

Para o engenheiro Joel Krüger, membro do Conselho do Litoral paranaense, o primeiro passo seria a aprovação de planos diretores nos balneários do estado. Os planos estão em fase de discussão nos três municípios. "Temos problemas sérios, como os loteamentos em áreas de preservação e a altura dos prédios, que deixam a praia sem sol", afirma. "Temos dificuldades de vias, de pavimentação, de drenagem, de água, de esgoto, de coleta de lixo. E os municípios ainda são muito fracos economicamente."