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Investimento

Paraná amplia rede para suprir lacuna no atendimento

A psiquiatra Maristela da Costa Sousa, da Divisão de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Paraná, afirma que o estado já reconhece que há uma lacuna no atendimento à saúde mental. "Por isso, há uma ampliação no número de Caps e a capacitação constante dos profissionais que atendem essa área, especialmente nas unidades básicas", salienta. No primeiro semestre de 2012, o estado possuía 94 Caps e hoje já são 105. "Implantamos uma rede de atendimento na saúde mental, incluindo a atenção básica, que é o local de atendimento mais próximo da comunidade. Nela, as pessoas fazem o acompanhamento da doença", afirma. Maristela explica que, em caso de um portador de distúrbio ter algum surto psicótico, a recomendação é acionar as unidades de emergência, como o Samu, que, por sua vez, necessita encaminhar o paciente para ser avaliado e, caso seja necessário, internado em hospital apropriado.

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2.374 leitos de internação psiquiátrica são disponibilizados hoje pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Paraná. O número, segundo o banco de dados do Ministério da Saúde, é 33% menor que a quantidade existente em 2005. De acordo com a OMS, para uma assistência psiquiátrica adequada é necessário um leito psiquiátrico para cada mil habitantes. No Paraná, o índice é 0,22 leito por mil moradores.

2.004 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) estão em funcionamento em todo o país hoje. Esse número vem aumentando gradativamente. No primeiro semestre de 2012, o Paraná possuía 94 Caps. Hoje são 105. Segundo o Ministério da Saúde, os centros são a principal alternativa de tratamento aos doentes de transtornos mentais. A internação é indicada apenas em casos de surto.

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A qualidade de vida da população mundial é profundamente prejudicada pelas doenças mentais. Estudo publicado no final de agosto pela revista científica The Lancet revela que quase 23% dos anos vividos com algum tipo de incapacidade se devem a transtornos como ansiedade e depressão, e ao uso de drogas. Esses distúrbios superam doenças como aids, tuberculose, diabetes ou lesões provocados por acidentes.

INFOGRÁFICO: Confira as doenças que mais acompanham a população brasileira e mundial

Baseado em estatísticas de 187 países levantadas pelo relatório "Carga Global de Doenças", divulgado em janeiro deste ano, o estudo chama a atenção para a necessidade de políticas públicas para se lidar com os problemas que atingem a mente – o mais comum deles é a depressão (veja infográfico ao lado).

Os autores apontam que há uma lacuna entre o número de pessoas que sofrem com esses transtornos e a reduzida oferta de serviços de saúde. A pesquisa ainda relata que historicamente os transtornos psiquiátricos não têm sido uma prioridade de saúde global.

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No Brasil, a situação não é diferente. Segundo o Mi­­nistério da Saúde, a estrutura atual tem capacidade de realizar 40 milhões de procedimentos por ano. Porém, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) estima que 46 milhões de pessoas sofram de algum distúrbio mental no país. Como o tratamento exige mais de uma consulta por ano, é possível afirmar que existem milhões de pessoas que não conseguem atendimento na rede pública de saúde.

O presidente da ABP, An­­tônio Geraldo da Silva, diz que o país convive com a ausência de um tratamento adequado aos portadores de transtornos mentais. "Faltam políticas públicas corretas. Onde eu levo uma pessoa que tentou suicídio? Não sei, pois não temos estrutura", ressalta. Segundo ele, os Centros de Atenção Psicossociais (Caps) não são suficientes para tratar os pacientes. "Neles, os pacientes nem sempre têm condições de dar continuidade ao tratamento. As unidades básicas também não dão conta disso, já que não têm psiquiatras. Precisamos de ambulatórios específicos para atender pacientes com distúrbio mental. Não temos estrutura para internamento", afirma Silva.

Rede de apoio

Hoje, o Brasil possui 33.454 leitos de internação psiquiátrica via SUS. Em 2005, segundo o banco de dados do Ministério da Saúde (Datasus), eram 46,5 mil. Foi naquele momento que teve início a política de evitar internações.

O presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria (SPP), André Rotta, acredita que a melhor forma de organizar o atendimento em saúde mental é formar uma rede de apoio sem que uma estrutura, como hoje é o Caps, se sobressaia. "Faltam trabalhos bem estruturados que possam determinar a incidência das doenças psiquiátricas na população. Sem estes dados fica muito difícil organizar uma política de atendimento adequada para esses pacientes", revela.

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Terapia no Caps é contraponto às internações

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são considerados pelo poder público como a melhor alternativa para atender pessoas com transtornos mentais. Ao lado das unidades básicas de saúde, os Caps deveriam funcionar como centros de acompanhamento para as pessoas que sofrem de doenças, como depressão e distimia, e transtornos provocados por uso de drogas e álcool.

Esse formato de tratamento foi incorporado no Brasil com a Lei da Reforma Psiquiátrica, sancionada em 2001. Segundo a legislação, a internação deixou de ser a única via de atendimento ao paciente psiquiátrico para ser uma alternativa em casos de surto. "Existem doentes mentais graves que precisam de internação. Por isso não poderiam fechar leitos psiquiátricos. Será que resolveria o problema da ortopedia se os leitos ortopédicos fossem fechados?", questiona o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva.

O Ministério da Saúde informa que atualmente o acesso para o tratamento é igual para todos. Basta que o paciente compareça a uma unidade de saúde mais próxima para dar início ao tratamento. Atualmente, o Brasil conta com 2.004 Caps.

"Caso seja necessário, os Caps 24 horas possuem estrutura para curtas internações. Isso porque estudos comprovam que 90% dos pacientes em crise saem desse estado em aproximadamente cinco dias", informa a assessoria de imprensa do Ministério. O órgão informa que o intervalo das consultas varia de acordo com a resposta ao tratamento de cada paciente.

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Apoio

A rede de saúde mental, conforme o Ministério, pode ser constituída por vários dispositivos assistenciais. Essa rede conta com ações de saúde mental na atenção básica, os Caps, serviços residenciais terapêuticos, leitos em hospitais gerais e ambulatórios e deve funcionar de forma articulada.