Das 88 casas em construção em Antonina, 18 estão em fase de conclusão. A previsão é de que todas estejam prontas até julho| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Prevenção

Após enchente, estudos foram feitos para evitar nova tragédia na região

O deslizamento de morros e o desmoronamento de casas mataram quatro pessoas no Litoral paranaense em 11 de março de 2011. As cidades de Morretes, Antonina, Paranaguá e Guaratuba foram atingidas. Depois do desastre, foram feitos estudos sobre áreas de risco e levantamentos para indicar áreas preferenciais de atuação em caso de emergência, como ruas que mais alagam e morros mais suscetíveis.

Após a enchente, o número de estações pluviométricas – que monitoram o volume das chuvas – aumentou de 14 para 20. Além disso, duas comunidades receberam treinamento de evacuação. Estudos sobre a viabilidade da ocupação na comunidade rural de Floresta também foram feitos, mas o governo estadual ainda não tomou uma decisão final sobre a situação. Pelo menos 78 famílias manifestaram a vontade de continuar na área rural.

Escola

Recentemente, a Gazeta do Povo mostrou a situação de estudantes que, sem transporte escolar por causa da falta de pontes, precisam caminhar sete quilômetros – atravessando pequenos córregos – para chegar à escola em Paranaguá.

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Adaptação

Confira a história de algumas pessoas que ainda vivem as consequências da enchente:

Floresta

O agricultor Nagib Capeta não pretende sair do distrito de Floresta, em Morretes. "Estão dando a Floresta como desativada. Estamos sem direito de fazer empréstimo em banco", conta. Ele diz que a saída para o asfalto enche em dias de chuva e que a dragagem feita no rio foi insuficiente. "Tiraram a areia e jogaram para cima do barranco. Quando chove, volta tudo", resume.

Morro Inglês

A professora Liliane Celestino Andreoli é moradora de Morro Inglês, em Paranaguá. "Onde eu moro não existe ponte. Em dia de chuva não dá para passar", afirma. Nos outros dias, as pessoas precisam passar por um curso d’água. "A gente vai se adaptando. É um lugar que a gente gosta. A minha família vive aqui há mais de 100 anos."

Antonina

O servidor público Gilberto Cardoso, 36 anos, continua morando com a família em um abrigo improvisado em Antonina. "Graças a Deus, não perdemos ninguém na enchente", conforma-se. Quando foi morar na casa de três cômodos, que é dividida com outra família, não imaginou que ainda estaria ali dois anos depois. "Aqui eu não posso mexer em nada. A casa não é minha", comenta.

Dinheiro

R$ 43,3 milhões foram destinados pelos governos federal (R$ 21,2 mi) e estadual (R$ 22,1 mi) para a recuperação do Litoral paranaense. Confira como o montante é usado:

Obras concluídas

• Recuperação das rodovias PR-340 e PR-408: R$ 17,5 milhões

• Estabilização de taludes: R$ 1,7 milhão

• Reforma de abrigos temporários: R$ 97 mil

• Reforma nas redes de água, esgoto e energia: R$ 510 mil

• Terraplanagem e drenagem em Paranaguá: R$ 1,4 milhão

• Recuperação, limpeza e canalização de rios: R$ 2,7 milhões

Em execução

• Construção de 223 casas: R$ 9,3 milhões

Em fase de licitação

• Construção de 19 pontes: R$ 10 milhões

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Podiam ser cicatrizes, mas ainda são feridas abertas. Pas­­sados dois anos da tragédia que fez água e lama invadirem casas no Litoral do Paraná, as marcas da enxurrada ainda afetam a vida de muita gente. Apesar dos R$ 24 milhões já investidos, famílias continuam em abrigos e pontes não foram refeitas. Moradores de Antonina, Morretes, Paranaguá e Gua­­ratuba aprenderam a conviver com as consequências da grande enchente.

Para quem vivia em um amplo sobrado de mais 100­­ metros quadrados, em An­­tonina, a família do garçom Magno Azevedo se vê apertada em uma casa de dois quartos, dividida com outra família. A chuva continua sendo um pesadelo. A cada pancada, a água escorre por paredes, focos de luz e janelas.

VÍDEO: Veja as imagens feitas por Magno Azevedo que mostram a situação do abrigo em que mora, em Antonina, em dias de chuva

O abrigo militar onde vivem 18 famílias era para ser uma morada provisória e o acesso ao local fica intransitável em dias de chuva. "Ninguém tem que nos dar nada. Mas depois que usaram a nossa situação para conseguir dinheiro, temos direito", comenta o garçom. Ele, a esposa e dois filhos esperam que fiquem prontas as 88 casas em construção. Enquanto 18 estão quase prontas, outras não têm nem alicerce e terraplanagem. A previsão é de que todas as unidades sejam entregues até julho.

Para o pedreiro Rodrigo José de Freitas Junior, 35 anos, o bairro Batel, em Antonina, é sinônimo de esperança e desespero. Es­­perança porque é ali que ele trabalha na construção das casas destinadas às famílias atingidas pela enchente. Desespero porque é no mesmo bairro, a menos de um quilômetro da nova morada, que ele ainda reside com a família. A casa foi tomada pela lama há dois anos. É uma área de risco. A vizinha morreu na enxurrada. Freitas saiu às pressas e depois ficou um ano morando de aluguel. Não venceu pagar as contas e voltou para a casa, cheia de marcas de barro nas paredes. "Eu não durmo à noite, com medo", diz.

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Morretes

As 33 casas entregues para famílias de Morretes há três meses representam um alento. Estavam morando com parentes ou em um abrigo improvisado. Para Ana Cristina Pereira dos Santos Batista, o novo lar marca um recomeço. "Agora está bem melhor. Estou no que é meu", diz. Seis pessoas vivem na casa de 36 metros quadrados. O lamaçal dentro do conjunto habitacional incomoda Marli Cardoso dos Santos, mas, de resto, ela não reclama. Também está feliz que saiu do abrigo com o marido e a filha.

Já Renata Pereira dos San­­tos, 19 anos, ainda não sabe se vai ganhar uma casa no conjunto habitacional. Continua na casa da sogra. "Não estou na lista. Disseram que eu não morava em Floresta [distrito atingido pela enchente]. Mas sempre estudei na escola de lá. É só verem", diz. A situação também é complicada para o agricultor Reginaldo Batista. Ele continua vivendo em uma área de risco na região de Floresta, sem água e sem energia elétrica.

Pontes devem estar prontas em outubro

"Se fosse para fazer algo semelhante ao que estava lá, já teríamos feito. Mas estamos fazendo [obras] melhores e mais resistentes, capazes de suportar uma enchente." Assim Maria Inês Prevedello Pereira, uma das responsáveis na Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística pelo trabalho de reconstrução no Litoral, explica como está sendo feita a recuperação na região.

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Ela se refere, principalmente, à reconstrução de 19 pontes, que ainda estão em fase de escolha das empresas que farão as obras – a maioria em locais de difícil acesso. Maria Inês afirma que as estruturas são reforçadas e devem durar mais de 25 anos.

A demora na aprovação do plano de trabalho – que levou quase um ano para ser completamente autorizado pelo governo federal – complicou as obras de reconstrução. O trabalho também era muito. Foram tirados dos rios mais de 100 mil metros cúbicos de madeira – na maior parte sem valor comercial – que rolaram morro abaixo.

Maria Inês destaca que muito já foi feito, como a liberação dos acessos e a recuperação de trechos atingidos em rodovias. A previsão é de que o trabalho de reconstrução termine até outubro, no máximo. "Entendemos o apelo de quem quer voltar para sua casa ou está com dificuldades de acesso. Mas o calendário das expectativas das pessoas e aquele que é imposto a quem tem que cumprir uma série de exigências jurídicas e burocráticas são diferentes", aponta.

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O que poderia ter sido feito para apressar os trabalhos de recuperação, mantendo a qualidade esperada das obras?

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VIDA E CIDADANIA | 1:26

Depois de perder a casa na enchente de 2011, em Antonina, o garçom Magno Azevedo não deixou de ter problemas com a chuva. No abrigo em que mora com a família, escorre água pelas paredes, focos de luz e janelas cada vez que chove. Ele fez imagens para mostrar as goteiras e os móveis perdidos pela segunda vez

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