Eles trocaram o sossego da aposentadoria pelo dia a dia puxado atrás do balcão da lanchonete, da loja de material de construção ou do salão de beleza. Só que agora não são mais empregados. Eles assumiram suas próprias empresas. Para o consultor do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Maringá, Emerson Cechin, os empresários tardios têm vantagens competitivas que podem ser exploradas no empreendedorismo: tendem a dar certo por causa da experiência e maturidade. "Eles conseguem lidar com os desafios e problemas com mais equilíbrio. Gostam de planejar e sabem encarar a concorrência de frente". Outra vantagem é que os mais velhos têm mais jogo de cintura para lidar com os riscos de uma empresa. Passar de empregado a patrão depois dos 60 anos exige cuidado e planejamento. Não se trata de substituir o ócio da aposentadoria por uma atividade que garanta distração e espante o tédio. Não há muito espaço para erros. Cechin observa que os jovens têm condições de realizar novos investimentos, caso fracassem nas primeiras tentativas. E a possibilidade fica mais restrita, no caso de pessoas com idade avançada. "As diferenças entre os mais jovens e os mais velhos podem ser superadas com um bom plano de negócios. Para isso, é preciso procurar apoio profissional. Isso dará mais planejamento e tranquilidade para o idoso abrir o empreendimento", aconselha o consultor.
A iniciativa de trabalhar por conta própria depois da aposentadoria é apoiada pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Para ele, para o empreendedorismo na terceira idade crescer é preciso acabar com os preconceitos. "Pessoas com mais idade podem e devem trabalhar ou abrir seu próprio negócio. É uma parcela da população com experiência que os jovens não têm para se tornarem empresários".
Em muitos casos, a decisão de empreender em uma idade avançada vem da vontade de garantir uma vida ativa após a aposentadoria e também uma renda mais alta. "Trabalhei toda minha vida como vendedor e ajudante de depósito de material de construção. Aos 70, quando me aposentei, o desespero bateu e eu não conseguia ficar em casa. Achei que iria entrar em depressão. Foi aí que tive a ideia de abrir um pequeno comércio", conta Arnaldo Santi, 72 anos, dono de um comércio que vende água de coco. Há um ano, ele abriu uma pequena barraca. Depois de seis meses, percebeu que poderia crescer e, então, com a ajuda de consultores especializados, abriu uma empresa formal.
O mecânico aposentado Antonio dos Santos, 63 anos, investiu no seu talento para cortar cabelo depois de duas décadas trabalhando com graxa e motores. "Há dois anos, abri um pequeno salão, depois expandi e hoje tenho várias cabeleireiras", conta. Quando ainda trabalhava na oficina, Santos cortava o cabelo de vizinhos e familiares nos fins de semana. "Todos sempre comentavam que eu precisava abrir um salão e deixar de ser mecânico, mas a coragem para fazer isso só veio depois da aposentadoria". Antônio tinha medo de não conseguir pagar as contas apenas cortando cabelos. Para aliar o talento com o desejo de empreender, fez cursos e treinamentos e procurou consultoria especializada. "É algo que sempre gostei de fazer. Agora só me dedico a isso e quero continuar por muitos anos fazendo cursos, cortando cabelos e, quem sabe, contratando mais funcionários."
Fuga da rotina
Prestes a abrir a loja de material de construção que idealizou com o marido, a dona de casa Maria Aparecida Conchon, de 53 anos, decidiu trocar a rotina doméstica para entrar no mercado de trabalho e como patroa. A motivação começou dentro da família, com o sucesso das empresas de tios, primos e do filho. "Vi todos eles crescendo no ramo dos negócios. Juntei meu dinheiro e agora tenho o meu", conta. Com a experiência do companheiro, representante comercial no setor há 20 anos, Maria Aparecida se prepara para assumir a empresa. "Maringá é uma cidade rica, com um potencial muito forte nessa área. Por isso, investi em materiais de construção. Quero crescer, vender muito e expandir meu negócio", revela.
A afinidade com o setor pode ser o trunfo para Maria Aparecida atingir o sucesso. Ela já foi dona de uma loja de eletrodomésticos há mais de 20 anos. Mas a rotina do comércio a cansou. "O faturamento era muito bom e dava para continuar, mas eu optei pela minha paz pessoal e para me dedicar aos netos. Desta vez será diferente porque amo trabalhar com materiais de construção e estou bastante descansada. Por isso, não vou enjoar", conta a empresária. A empresa está em fase de acabamento. Em menos de 10 dias, as portas estarão abertas. "Ficar em casa não faz mais parte da minha rotina. Agora, sou empresária e estou muito feliz."