Menos de uma semana após a divulgação do laudo que desmente a existência de aftosa no Paraná, os produtores de carnes e o governo tentam pôr um ponto final na discussão. A suspeita de que animais trazidos do Mato Grosso do Sul em outubro de 2005 tinham a doença durou mais de um ano e levou ao sacrifício de 6.781 animais em sete fazendas paranaenses. Agora, a meta coletiva é recuperar o certificado de área livre de aftosa junto à Organização Internacional de Epizootias (OIE), enquanto são tomadas providências para que o problema não se repita.
O advogado que representa os criadores que tiveram animais sacrificados, Ricardo Rocha Pereira, negou nesta quarta-feira ter impetrado novos pedidos de indenização contra a União. Segundo ele, a única ação do grupo corre na Justiça Federal em nome do produtor André Müller Carioba desde o ano passado. Carioba reclama que a indenização paga pelos 1.810 animais da Fazenda Cachoeira sacrificados foi calculada em plena crise da aftosa. Ele evita falar em valores, mas sustenta que o rebanho valia mais.
"O capítulo da discussão sobre a existência ou não de aftosa no Paraná está enterrado. Agora temos que adotar uma postura positiva", defendeu Pereira. Os criadores eram os principais interessados em provar que não havia aftosa no estado. Eles foram afetados porque, em caso de dúvida, as regras internacionais determinam barreiras sanitárias e a eliminação do gado suspeito.
No Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarnes), que também contestava as informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sobre a existência de aftosa no estado, a discussão também segue essa linha. O analista Gustavo Fanaya diz que as relações entre o setor e o governo e entre os governos estadual e federal mudaram substancialmente. Em sua avaliação, as discussões serviram para aproximar os gestores. "Se a suspeita de aftosa ocorresse hoje, não provocaria tanto estrago."
O quadro contrasta com o de um ano atrás, quando não havia acordo nem mesmo sobre como ocorreria o sacrifício dos animais. O governo do estado negava a existência de aftosa, enquanto o Mapa confirmava focos da doença. O setor produtivo assistia ao crescimento da lista dos países com restrições à carne paranaense, que ainda tem 56 integrantes. O volume de carnes que deixou de ser exportado e teve que ser vendido a preços reduzidos no mercado interno poderia ter rendido R$ 700 milhões aos produtores, segundo o Sindicarnes.
Apesar da disposição do setor produtivo para encerrar conflitos e reativar o mercado, a retomada das exportações ainda depende do envio, para a OIE, de um relatório sobre as medidas sanitárias tomadas contra a aftosa no Paraná. O documento, elaborado com ajuda de agentes sanitários do estado, deve ser encaminhado pelo Mapa. A previsão do ministro da Agricultura, Luiz Carlos Guedes Pinto, era de que esse procedimento ocorresse em novembro. No entanto, os papéis ainda não estariam prontos.
Além de reforçar medidas sanitárias, o Paraná torce por mudanças no sistema internacional de controle da aftosa. Uma delas é a revisão do zoneamento, para que o estado não dependa das condições sanitárias da carne de regiões vizinhas para poder exportar sua produção. Outra é o reforço da vacinação em todo a América do Sul. Além disso, o governo estadual defende novos critérios para a discriminação da carne suspeita, uma vez que a própria vacina pode positivar testes de verificação. É o que o corre no Mato Grosso do Sul. Campo Grande confirmou estar livre da aftosa há duas semanas, depois de realizar exames em 11.569 animais. Em 0,2% dos testes, houve reação, mas índice, considerado baixo, é atribuído à vacinação.
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