Ponta Grossa A caixa-operadora Edna Ariga Veiga, 24 anos, tenta disfarçar as lágrimas enquanto ouve a zeladora Josefa Schimidt, 44 anos, contar sua história de vida. A conversa acontece durante o expediente no supermercado, no próprio local de trabalho. Junto a Edna, os mais de 50 ouvintes seguram nas mãos o formulário de doador de medula óssea, muitos desses entregues preenchidos no fim da palestra. Josefa é voluntária do Hemonúcleo de Ponta Grossa e, mesmo com os três empregos de zeladora, consegue tempo para visitar empresas em busca de mais doadores. Dos 79 cadastros recebidos pelo Hemonúcleo na semana passada, 70 vieram pelas mãos da Josefa.
Foi durante o curso de radiologia que cursava que Josefa descobriu a causa pela qual achou que valia a pena lutar. Em uma aula de anatomia, a zeladora se impressionou com a facilidade de se tornar doador. Foi uma grande surpresa porque Josefa acompanhou de perto, inerte e sentindo-se impotente, o drama da sobrinha, que morreu aos 4 anos, por causa da leucemia. "Até hoje não me perdôo por não ter nem tentando ajudar", confessa.
Muitos anos depois, na sala de aula, Josefa percebeu como é fácil dar uma nova perspectiva para um doente. A partir de então decidiu montar um projeto para divulgar como um ato simples pode significar a diferença entre a vida e a morte. O primeiro evento foi na própria escola, onde conseguiu 98 doadores. Era o dobro do que o Hemonúcleo de Ponta Grossa conseguia em um mês.
De forma simples e apelando para a solidariedade humana, Josefa explica como se tornar um doador de medula e ajudar uma criança e sua família. Depois das palestras,o Hemonúcleo do município vai até a empresa e recolhe amostras de sangue, como num simples hemograma, para coletar os dados genéticos que serão armazenados no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). Desde o ano passado, quando iniciou o projeto, já conseguiu mais de 1,2 mil novos doadores de medula na cidade.
A palestra de Josefa sobre doação de medula óssea não é técnica.
Para começar desmistificando o tema, ela conta que a doação da medula é feita pelo osso da bacia, e não da coluna. E mais importante: é indolor. "É só uma ardência para retirar a amostra", explica. "A doação é uma pequena cirurgia de apenas uma hora e o doador vai para casa no mesmo dia", conta a assistente social do Hemonúcleo de Ponta Grossa, Regina Zenetti.
Segundo a Secretaria de Saúde do Paraná, existem atualmente 140.437 doadores voluntários cadastrados no Paraná. Os transplantes são feitos em hospitais de Curitiba e até setembro deste ano já foram realizadas 77 cirurgias.
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