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Números

Conheça dados sobre o combate ao tráfico

Denúncias

Neste ano, a Central de Narcodenúncias – que atende pelo número 181 – recebeu 19 ligações delatando tráfico de drogas em Curitiba. Apenas quatro delas mencionavam baladas. A polícia costuma iniciar algumas das investigações a partir desse tipo de informações. "Quando há uma casa com bastante denúncia, a gente entra, se mistura aos presentes e tenta identificar quem passa a droga e onde ela é guardada. Em um segundo momento, entramos e fazemos a prisão", diz a delegada Camilla Ceconello, da Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc).

Bar é fechado no centro

No final de maio, policiais do Denarc prenderam os proprietários do Opção Bar, localizado na Rua Saldanha Marinho, no centro de Curitiba. O local era ponto de venda e consumo de drogas. Cerca de 400 gramas de cocaína, separadas em saquinhos plásticos, foram apreendidas. "Neste caso pudemos atuar, pois os próprios proprietários faziam o tráfico. Agora quando não há envolvimento do dono, e a quantidade de droga carregada pelo traficante é pequena, não podemos fazer muita coisa", relata a delegada.

Cresce número de apreensões

Só em maio deste ano, a Polícia Civil apreendeu 236,6 quilos de cocaína, número 21% superior a todo o ano passado. No mesmo mês, 80 mil comprimidos – a maior carga de ecstasy da história do Paraná – também foi interceptada. De acordo com balanço do Denarc divulgado no início do ano, o número de apreensões de drogas no Paraná em 2013 quadruplicou, na comparação com 2012. Só de cocaína, o total interceptado foi de 192,8 kg.

Combate

Polícia alega ter dificuldade para comprovar o crime

Um dos principais entraves à atuação da polícia nas casas noturnas é a dificuldade de se configurar o tráfico de drogas. Como os dealers, em geral, portam pequenas quantidades de entorpecentes, quando são pegos eles alegam ser usuários. Fica difícil para as autoridades caracterizar o crime.

"A dificuldade [inclusive em relação à casa visitada pela reportagem] reside em quem está passando uma grande quantidade de droga. Porque se encontramos uma pessoa passando uma quantidade pequena, não configura tráfico", diz a delegada Camilla Ceconello, da Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc).

A Lei 11.343/06 (Lei de Drogas), promulgada em agosto de 2006, não define qual quantidade caracteriza tráfico. O critério fica a cargo do magistrado, que analisa conjuntura, local e envolvidos. O próprio Supremo Tribunal Federal (STF) reconhece que o volume do entorpecente deve ser levado em consideração pelos juízes, mas ainda não definiu números.

No pequeno hall que dá acesso aos banheiros da casa noturna de classe média, no bairro Batel, em Curitiba, o rapaz alto – que veste moletom e usa barba – permanece em plena atividade. Sempre com um saquinho com pequenas cápsulas marrons em mãos, ele aborda clientes ou é procurado por eles. "Eu tenho bala [ecstasy] e special K. A bala tá R$ 20. O special, R$ 30. Leva aí", diz o jovem, ao ser questionado pelo repórter, que se passava por um frequentador da balada.

O rapaz é mais um dealer, como são conhecidos os traficantes de balada. Apesar de estarem misturados aos clientes – usam os mesmos bonés e roupas de marca –, não é difícil identificá-los. "Eles também ficam no fumódromo, nunca na frente do palco, para não chamar tanto a atenção", diz Pedro*, que consome drogas em baladas de classe média alta de Curitiba e Balneário Camboriú, em Santa Catarina.

Uma ida rápida ao banheiro é suficiente para encontrar quem esteja disposto a vender as pílulas da noite. "Tenho uma rodada de MD [metanfetamina] aqui. Tudo da gringa. Coisa fina. Leva agora, senão você não vai me achar depois", oferece um garoto, postado dentro do banheiro. O menino aparenta ser menor de idade. "Vintão [R$ 20] na minha mão e você leva agora", insiste.

Na pista, um grupo formado por três rapazes consome comprimidos – que parecem ecstasy – em frente de um segurança, que parece não se importar, tratando como algo comum. Ninguém é abordado. Em meio à multidão que pagou R$ 50 (ou R$ 30, com nome na lista) para curtir a balada eletrônica, vários garotos e meninas parecem ser adolescentes. Ainda na fila, do lado de fora, um rapaz já anuncia: "Hoje a noite vai da seda [usada para enrolar maconha] ao papel [LSD]", avisa. "Eu disse para a minha mãe que ia a uma balada sertaneja, porque se disser que vinha aqui, ela não deixava", afirma uma menina logo em seguida.

A maioria dos frequentadores usa óculos escuros – para esconder os olhos dilatados pela droga – e mantém uma garrafa de água na mão. O entorpecente faz tanto efeito em um garoto, com mais ou menos 20 anos de idade, que ele fica "roçando" na parede, em um espasmo contínuo.

O consumo desenfreado de drogas em baladas e o acesso aos entorpecentes por menores de idade preocupam os empresários. A Associação de Bares e Casas Noturnas do Paraná (Abrabar-PR) informa que já entrou em contato com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), a fim de sugerir medidas de enfrentamento. Na avaliação do presidente da associação, Fábio Aguayo, seria necessária uma ação conjunta que coibisse a entrada de adolescentes nas baladas – muitos dos quais portando documentos falsos.

"São pessoas vulneráveis, que estão consumindo drogas dentro das baladas. É um problema que precisa ser enfrentado, porque do ‘lixo’ ao ‘luxo’ tem drogas", diz. Aguayo destaca que a maioria das casas noturnas não tolera o consumo e a venda de entorpecentes em suas dependências. Mas, muitas vezes, os clientes vendem pequenas porções de drogas para financiar a "noitada". Acabam passando despercebidos pelas casas. Para ele, quem vê e não toma medidas deve ser punido.

Segurança não pede identidade para "nomes da lista"

Uma das formas de entrar em casas noturnas é por meio da listas de nome. Basta ligar para o local e demonstrar interesse ou pedir para um DJ, que geralmente fica com uma relação para colocar os nomes de amigos. São dois "benefícios": além de pagar mais barato para entrar, não é preciso mostrar a identidade para os seguranças. É assim que os menores entram no recinto.

A Ação Integrada de Fiscalização Urbana (AIFU), grupo de fiscalização de bares formado pela Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, afirma, via assessoria de imprensa, que se um adolescente é encontrado no ambiente durante a fiscalização, ele é encaminhado às autoridades. Porém, não há nenhuma ação especifica para impedir o acesso. "A responsabilidade é do local."

A PM relatou que só atua no interior de um estabelecimento se for motivada por denúncia. "Se o órgão entrasse em um ambiente particular sem motivo, também seria desvio de função", informa a assessoria de imprensa. A fiscalização de rotina ocorre somente em vias e ambiente públicos.

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