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COmportamento

Drogas livres em baladas de gente fina

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No pequeno hall que dá acesso aos banheiros da casa noturna de classe média, no bairro Batel, em Curitiba, o rapaz alto – que veste moletom e usa barba – permanece em plena atividade. Sempre com um saquinho com pequenas cápsulas marrons em mãos, ele aborda clientes ou é procurado por eles. "Eu tenho bala [ecstasy] e special K. A bala tá R$ 20. O special, R$ 30. Leva aí", diz o jovem, ao ser questionado pelo repórter, que se passava por um frequentador da balada.

O rapaz é mais um dealer, como são conhecidos os traficantes de balada. Apesar de estarem misturados aos clientes – usam os mesmos bonés e roupas de marca –, não é difícil identificá-los. "Eles também ficam no fumódromo, nunca na frente do palco, para não chamar tanto a atenção", diz Pedro*, que consome drogas em baladas de classe média alta de Curitiba e Balneário Camboriú, em Santa Catarina.

Uma ida rápida ao banheiro é suficiente para encontrar quem esteja disposto a vender as pílulas da noite. "Tenho uma rodada de MD [metanfetamina] aqui. Tudo da gringa. Coisa fina. Leva agora, senão você não vai me achar depois", oferece um garoto, postado dentro do banheiro. O menino aparenta ser menor de idade. "Vintão [R$ 20] na minha mão e você leva agora", insiste.

Na pista, um grupo formado por três rapazes consome comprimidos – que parecem ecstasy – em frente de um segurança, que parece não se importar, tratando como algo comum. Ninguém é abordado. Em meio à multidão que pagou R$ 50 (ou R$ 30, com nome na lista) para curtir a balada eletrônica, vários garotos e meninas parecem ser adolescentes. Ainda na fila, do lado de fora, um rapaz já anuncia: "Hoje a noite vai da seda [usada para enrolar maconha] ao papel [LSD]", avisa. "Eu disse para a minha mãe que ia a uma balada sertaneja, porque se disser que vinha aqui, ela não deixava", afirma uma menina logo em seguida.

A maioria dos frequentadores usa óculos escuros – para esconder os olhos dilatados pela droga – e mantém uma garrafa de água na mão. O entorpecente faz tanto efeito em um garoto, com mais ou menos 20 anos de idade, que ele fica "roçando" na parede, em um espasmo contínuo.

O consumo desenfreado de drogas em baladas e o acesso aos entorpecentes por menores de idade preocupam os empresários. A Associação de Bares e Casas Noturnas do Paraná (Abrabar-PR) informa que já entrou em contato com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), a fim de sugerir medidas de enfrentamento. Na avaliação do presidente da associação, Fábio Aguayo, seria necessária uma ação conjunta que coibisse a entrada de adolescentes nas baladas – muitos dos quais portando documentos falsos.

"São pessoas vulneráveis, que estão consumindo drogas dentro das baladas. É um problema que precisa ser enfrentado, porque do ‘lixo’ ao ‘luxo’ tem drogas", diz. Aguayo destaca que a maioria das casas noturnas não tolera o consumo e a venda de entorpecentes em suas dependências. Mas, muitas vezes, os clientes vendem pequenas porções de drogas para financiar a "noitada". Acabam passando despercebidos pelas casas. Para ele, quem vê e não toma medidas deve ser punido.

Segurança não pede identidade para "nomes da lista"

Uma das formas de entrar em casas noturnas é por meio da listas de nome. Basta ligar para o local e demonstrar interesse ou pedir para um DJ, que geralmente fica com uma relação para colocar os nomes de amigos. São dois "benefícios": além de pagar mais barato para entrar, não é preciso mostrar a identidade para os seguranças. É assim que os menores entram no recinto.

A Ação Integrada de Fiscalização Urbana (AIFU), grupo de fiscalização de bares formado pela Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, afirma, via assessoria de imprensa, que se um adolescente é encontrado no ambiente durante a fiscalização, ele é encaminhado às autoridades. Porém, não há nenhuma ação especifica para impedir o acesso. "A responsabilidade é do local."

A PM relatou que só atua no interior de um estabelecimento se for motivada por denúncia. "Se o órgão entrasse em um ambiente particular sem motivo, também seria desvio de função", informa a assessoria de imprensa. A fiscalização de rotina ocorre somente em vias e ambiente públicos.

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