Brasília O acidente com o avião da TAM vai obrigar o governo federal a mudar de postura na busca de soluções para a crise aérea. A opinião é do deputado federal Gustavo Fruet (PSDB). "Essa equipe que está aí não deu conta. É hora de o governo mandar gente embora, tomar partido", afirma o parlamentar.
Fruet regressou ontem de uma viagem à Europa e Oriente Médio, onde esteve em missão oficial pela Câmara dos Deputados. Membro da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Casa que investiga a crise aérea, ele visitou aeroportos em Israel e na França nas duas últimas semanas. Soube da tragédia por telefonemas e adiantou o retorno ao Brasil.
Entre as ligações, uma teria sido mais chocante. "Um oficial altamente graduado da Aeronáutica me disse: deputado, eu avisei." Segundo o paranaense, essa é mais uma mostra da divisão entre várias facções que administram o sistema aéreo brasileiro.
A tensão se divide basicamente entre militares e civis. O comando da Aeronáutica, representado pelo brigadeiro Juniti Saito, estaria totalmente insubordinado às decisões do ministro da Defesa, Waldir Pires. Em solenidades, as ofensas de militares a Pires já teriam se transformado em algo corriqueiro.
"Essa tragédia trará ainda mais conflito interno que a anterior", disse. Fruet também prevê a reedição do empurra-empurra de responsabilidades entre autoridades do setor. Esse confronto ficaria ainda mais acirrado entre a Agência Nacional de Aviação Civil e a Infraero.
O parlamentar defende que a CPI retome as atividades durante o recesso. Ontem, três colegas dele na comissão estiveram em São Paulo para uma reunião com representantes da Infraero Marco Maia (PT-RS), Vanderlei Macris (PSDB-SP) e Miguel Martini (PHS-MG). Maia, que é relator da CPI, declarou anteontem que a tragédia com o avião da TAM fará parte das investigações.
A decisão recebeu apoio ontem do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. "Dois acidentes tão próximos em tão curto espaço de tempo causam comoção e uma situação difícil", declarou, em entrevista por telefone à TV Câmara.
Outro membro da base governista na CPI, o deputado paranaense André Vargas (PT), disse que a avaliação final dos parlamentares terá de ser "mais profunda". "Precisamos chegar a mais conclusões. Sobre o acidente, falamos muito da questão do grooving (ranhuras para escoamento de água na pista de pouso e decolagem) de Congonhas e teremos que retomar o assunto", disse Vargas.
Assim como representantes da comissão na Câmara, senadores que compõem a CPI da Crise Aérea do Senado também estiveram ontem à tarde com diretores da Infraero. Em Congonhas, o relator dessa comissão, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), pediu cautela nas investigações. Mas disse que o acidente prova que é preciso rever todas as práticas da aviação civil nacional.
"É óbvio que o sistema de uma forma geral é o grande culpado. Esse sistema faliu", disse Torres. Ele citou alguns dados que comprovariam o inchaço do setor no Brasil. "Nossa oferta de vôos está crescendo 12% ao ano, é o maior crescimento do mundo. Só que o sistema aéreo permanece o mesmo."
Em Brasília, o presidente da CPI no Senado, Tião Viana (PT-AC), declarou que a comissão terá de prorrogar seus trabalhos, previstos para acabar no dia 15 de agosto. A intenção é saber se a pista do aeroporto de Congonhas foi liberada antes de estar em condições de uso. Viana também disse que pretende solicitar uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para mostrar o que foi constatado pela CPI. Apesar de prever a ampliação do prazo para concluir, o petista não cogitou trabalhar durante o recesso, que começou ontem e termina no dia 1.° de agosto.