Foi na antiga Colônia Dantas, no bairro Água Verde, em Curitiba, lá pelo início do século 20, que surgiram alguns dos pioneiros do jogo de bocha na cidade. "Esporte" tipicamente italiano, o bocce ainda resiste ao tempo, mas tem dificuldade em encontrar novos praticantes. O jogo começou nos fundos das chácaras que existiam na região naquela época, onde hoje só se avistam prédios.
Antes que surgissem os clubes com pistas organizadas, o jeito que nonnos e nonnas encontravam na época era tirar os porcos e galinhas para criar um espaço onde arremessar a bola, que pesava quase dois quilos. Em 1952, essa improvisação acabou. Um terreno na Rua Marquês do Paraná passou a abrigar a Sociedade Operária 25 de Maio, nascida para ser um "templo" da bocha nos rincões do Água Verde. E assim permanece há 62 anos. Hoje a média de idade dos frequentadores ultrapassa os 75 anos.
Falta interesse
E esse é justamente o problema, costuma queixar-se a turma da velha guarda. Jefferson Burbella, de 48 anos, é o jogador mais novo do grupo, e também o atual presidente do clube. "Mantemos esse espaço para não perder a essência de um jogo que faz parte da cultura italiana. É um jogo mais lento, pelo qual os jovens geralmente não se interessam", explica. "O interesse está decaindo. Falta divulgação", reconhece Ivo Valdir da Silva, 68 anos, e 40 de bocha. Ele estima que perto de 40 pessoas somente praticam o esporte assiduamente na região da capital hoje, onde há apenas sete associações. E um detalhe: nenhuma mulher. Algo que era comum em meados da década de 1980.
Para Ocimar Bolicenha, 56, a tendência é que a bocha desapareça. "O meu filho, de 23 anos, diz que é jogo de velho", comenta. Até as bolas usadas no jogo estão em "extinção". Antes elas eram fabricadas artesanalmente em ateliês de verdadeiros artistas, conhecidos apenas como Paulista e Vitório (ambos já falecidos). Hoje as mesmas bolas, que estão por aí há 50 anos, ainda são usadas pelos jogadores. "Até tentamos encomendar novas, mas elas não ficaram boas", lamenta Bolicenha.
Novatos
A turma da 25 de Maio tenta encontrar maneiras de atrair novatos ao clube. Uma delas é promover disputas internas de duplas formadas por iniciantes e veteranos. "É uma forma de estimular os mais novos, que geralmente têm uns 30 anos", diz Burbella. "Nos últimos anos desapareceram sete clubes que tinham a bocha como tradição. Temos que lutar para isso não acontecer mais", finaliza.
"Aqui é uma terapia", diz veterano
Aos 87 anos, Antônio Baggio passou as últimas seis décadas praticando o bocce com frequência. É o mais velho na Sociedade 25 de Maio. Com jogadas certeiras, é considerado pelos colegas um dos melhores. Durante esse tempo, viu as canchas de areia evoluíram para as pistas, que hoje são de um material especial e chamada pelos praticantes de "cancha plástica". Baggio lembra com nostalgia dos tempos em que cada quintal possuía uma pista de bocha. "Desde criança eu jogo. Tinha pista atrás das casas que naquela época eram chácaras. Hoje tudo mudou", constata. Apesar de não aguentar mais o ritmo intenso das partidas, o veterano sempre dá as caras no clube. "Aqui é uma terapia. É um jogo que mantém a mente ativa, com muita concentração e atenção. Além de manter a amizade."