A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) publicou um edital de seleção para ingresso no curso de Mestrado em Políticas Públicas em 2021 no qual emprega o chamado "feminino universal". Apesar de o processo seletivo destinar-se a homens e mulheres, seu edital refere-se aos candidatos apenas no gênero feminino: "brasileiras", "estrangeiras", "candidatas".
O objetivo, segundo defensores, é fomentar o uso de uma "linguagem inclusiva" contra o que consideram como "linguagem sexista, excludente e discriminatória".
"O Processo Seletivo destina-se a candidatas portadoras de diploma de graduação e é aberto a brasileiras e estrangeiras", diz o edital. "Estarão isentas do pagamento da taxa de inscrição para concorrer ao Edital de Seleção as candidatas que solicitarem a isenção do pagamento por se enquadrarem nas seguintes categorias: a) servidoras da UFRGS; b) residentes no exterior (sob comprovação de documento); c) aquelas que comprovadamente não dispõem de recursos para custear seu pagamento".
Reportagem publicada nesta mesma Gazeta do Povo ouviu especialistas que afirmam que as tentativas de democratizar a língua portuguesa, como defendem com a "linguagem neutra", não contam com apoio científico.
Em "Manual Para o Uso Não Sexista da Linguagem: O Que Bem Se Diz Bem Se Entende", a Secretaria de Políticas Para as Mulheres do Governo do Estado do Rio Grande do Sul questiona a utilização do "gênero masculino como linguagem universal e neutra". "Nega-se a feminização da língua e ao fazê-lo estão tornando invisíveis as mulheres e rechaçando as mudanças sociais e culturais que estão ocorrendo na sociedade", diz.
"Existe um uso sexista da língua na expressão oral e escrita (nas conversações informais e nos documentos oficiais) que transmite e reforça as relações assimétricas, hierárquicas e não equitativas que se dão entre os sexos em cada sociedade e que é utilizado em todos os seus âmbitos."
Enquanto o Manual promovido pelo governo do Rio Grande do Sul defende bases "ideológicas" para o uso do gênero masculino como universal, especialistas ouvidos pela Gazeta explicam que não se trata de uma forma de preconceito. O uso decorre do latim, que lançou as bases da língua portuguesa e de outras línguas latinas. Na prática, o único gênero que recebe marcação na língua portuguesa é o feminino.
Procurada pela reportagem, a universidade afirmou, em nota, que "a Comissão de Pós-Graduação do PPG em Políticas Públicas esclarece que o edital de seleção faz uso de linguagem inclusiva e garante acesso a todos, não fazendo qualquer distinção ou discriminação de qualquer gênero. O uso de linguagem inclusiva é prática corrente em editais de seleção a mestrados e doutorados, sendo utilizado comumente pelas universidades no Brasil e no mundo. Importante informar também que editais de seleção à pós-graduação passam por diferentes instâncias dentro da Universidade, sendo aprovados em última instância pela Câmara de Pós-Graduação".
Leia o edital completo abaixo:
Leia o manual produzido pelo governo do Rio Grande do Sul:
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