
Uma campanha do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lista dez orientações a pais e professores para uma educação livre do preconceito e do racismo. Segundo especialistas, um dos reflexos da discriminação racial é o alto índice de vulnerabilidade a que negros e índios no Brasil são submetidos desde a infância. O combate às desigualdades socioeconômicas passaria em primeiro lugar pelo respeito à diversidade com iniciativas que deveriam começar em casa, estendendo-se à escola e ao ambiente de trabalho.
"Nos últimos anos vimos muitos avanços nas políticas públicas brasileiras voltadas a populações de baixa renda. Mas, ações como essas não têm força suficiente sobre um problema que vai além da questão social e econômica, mas que afeta em especial o psicológico daqueles que sofrem discriminação", observa a especialista em Programas de Proteção à Infância do Unicef no Brasil, Helena Oliveira Silva. No Brasil, as vítimas em potencial do preconceito racial passam de 30 milhões. Esse é o número em todo o país de crianças negras ou indígenas.
Segundo a psicóloga, ao conviver com o preconceito desde cedo essas crianças têm a identidade e a autoestima afetadas, inflando os ainda preocupantes índices de vulnerabilidade. Cerca de 60% da população de 7 a 14 anos que não frequenta a escola é composta de negros. O índice de mortalidade infantil entre os indígenas é duas vezes maior do que a taxa nacional: 41 mortes para cada mil nascidos vivos contra 19 por mil na média nacional. "O que se percebe é que esses grupos, apesar dos investimentos, não conseguem deixar essa condição", aponta.
O respeito à diversidade, orienta o psicólogo especialista em família, Jorge Augusto Fiori, precisa começar em casa. Essa postura, no entanto, deve partir dos próprios pais. O problema, segundo o médico, é quando os próprios pais precisam trabalhar essa mudança de comportamento.
Convivência
Uma das recomendações do Unicef, o de estimular a convivência de crianças de diferentes raças e etnias nas brincadeiras, nas salas de aula, em casa ou em qualquer outro lugar, é seguida naturalmente pela hoteleira Denise Roth e a professora Dulce Franco, mães de Pietro e Bruno. Os dois estudam juntos há quatro anos, são amigos também fora da escola e exemplo de que o esclarecimento é a melhor arma contra a discriminação.
"O importante é não se deixar afetar pelo preconceito", ensina Dulce. "Reconhecer a diferença e saber lidar com isso é o mais importante. O autopreconceito é o mais prejudicial. Não se pode potencializar a diferença, rotular", diz. Para Denise, o ideal seria se todos soubessem conviver e valorizar a diversidade. "As diferenças são essenciais, têm que existir. O que precisa mudar é a postura, exigir o mesmo tratamento e respeito que é dado a uma ou outra pessoa, independentemente de raça, cor, classe social ou grau de estudo", completa.



