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"Eu nasci com 5 meses, 20 dias e tinha 800 gramas. Fui vítima de um erro médico. É uma longa história, mas vou ter de contar." Quem fala é Luís Felipe Zaghi, 10 anos, aluno da 4.ª série da Escola Municipal Marçal Justen, na Água Verde, onde convive com mais 410 colegas. Ele é um incluído e se diz muito bem cuidado, além de esperto o bastante para não cair. O garoto circula pelo colégio com a ajuda de um andador e é uma espécie de mascote entre os 1.431 alunos com necessidades especiais da rede municipal de ensino.

Não faz por menos. A mãe de Felipe, Dirce Suardi Zaghi, trabalha com crianças com algum tipo de deficiência, o que facilitou bastante o expediente. "Eu me preocupo com pessoas que têm problemas parecidos com o meu. Acho chato o que aconteceu com os pais da Giovana (Giovana Marca, personagem da página 3, cuja história de nascimento parece muito com a dele)".

O garoto fala de sua paralisia nas pernas com tranqüilidade desconcertante. E fala muito bem, não só de si, como de política, seu assunto preferido, e casos criminais. Quer ser juiz, e está, inclusive, treinando para o ofício: acompanha cada capítulo da morte do coronel Ubiratan, em São Paulo, e aposta na inocência da advogada Carla Cepollina. Entre um grande caso e outro, lamenta a irregularidade das calçadas de Curitiba. "Mesmo assim, é raro pedir ajuda. Eu me viro."

Para a bióloga Iaskara Maria Abrão, 48 anos, coordenadora de Atendimento às Necessidades Especiais da prefeitura municipal de Curitiba (PMC), o caso de Felipe serve de resposta para tantas dúvidas que ainda cercam a inclusão, confirmando que é a escola que deve se adaptar à criança – o colégio do garoto tem banheiros especiais, capacitou professores e sensibilizou a comunidade.

A educadora Carmen Lúcia Gabardo Pellanda, 47 anos, da gerência de Apoio à Inclusão, da PMC, reforça. "Quando nos formamos educadores é para trabalhar com criança – não importa qual." Iaskara e Carmen trabalham com políticas de inclusão há cerca de 20 anos e afirmam que a presença das crianças especiais é uma realidade entre os 140 mil alunos que estudam nas escolas municipais de Curitiba. A rede estadual, com 1,9 milhão de alunos, 2,1 mil escolas e 42 mil incluídos segue atrás, confirmando que o setor público sai na frente do particular no quesito. "Temos 500 anos de escola pública e 14 anos de inclusão. Falta muita coisa. Mas não dá para esperar. Está na hora de fazer a rampa", acrescenta Angelina Mattar Matiskei, chefe do Departamento de Educação Especial da Secretaria de Estado da Educação.

Os procedimentos nos dois setores passam pela criação de equipes multidisciplinares, formação de professores, políticas de contratação de novos profissionais, principalmente quando a deficiência é mais grave. Cada caso exige procedimentos adequados, já que uma deficiência pode ser múltipla. As medidas, garantem as educadoras, tendem a ser simples: passam, por exemplo, por preparar as aulas pensando no aluno especial. "Quando a gente vai ver, tem um colega narrando o filme passado na sala de aula para o deficiente visual. Se a escola adere, todo mundo vai junto. Inclusão é aprendizagem cooperativa", resume Carmen Lúcia.

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